Disputas por vagas restantes têm geopolítica, ódio e sede de vingança
Classificação e Jogos
Nesta sexta-feira, serão disputadas as duas vagas restantes para as oitavas de final da Copa do Mundo em duelos diretos, carregados de história e sede de vingança.
A questão entre Sérvia e Suíça é geopolítica e o confronto entre as duas seleções foi um dos momentos marcantes da última Copa, em 2018. Já Uruguai e Gana nunca tiveram problemas de relacionamento como nações - não fosse um tal futebol. Um evento na Copa de 2010, na África do Sul, transformou Luís Suárez no "demônio" para os africanos.
No grupo G, o mesmo do Brasil, Suíça e Sérvia farão um duelo direto pela vaga, às 16h, com vantagem de empate para os suíços. É verdade que Camarões ainda pode ficar com a segunda vaga do grupo, mas precisaria bater a seleção brasileira, torcer para que a Suíça não vença e ainda dependeria do saldo de gols. O mais provável é que a segunda posição do grupo fique mesmo com uma das seleções europeias.
Em 2018, Suíça e Sérvia também estavam no mesmo grupo e fizeram um duelo quente em Kaliningrado. Os suíços venceram por 2 a 1 e os autores dos gols, Xhaka e Shaqiri, que seguem atuando pela seleção helvética, comemoraram fazendo, com as mãos, um gesto que lembra a águia de duas cabeças presente na bandeira da Albânia.
Xhaka têm ascendência albanesa/kosovar e Shaqiri nasceu, de fato, em Kosovo - uma república, reconhecida por alguns países da ONU, não reconhecida por outros tantos (como o Brasil), que faz fronteira com a Sérvia e que foi marcada por um massacre étnico no final dos anos 90 e início dos 2000, ainda na esteira da desintegração da antiga Iugoslávia. Muitos kosovares fugiram da guerra para países europeus, como a Suíça.
Os gols de Xhaka e Shaqiri escancararam o ódio presente nas relações entre kosovares e sérvios. Pelo gesto, considerado "político" pela Fifa, eles acabaram multados. Agora, a Sérvia tem a chance de se vingar deles e da Suíça, em um confronto direto por vaga nas oitavas de final.
Na outra partida, que começa às 12h, a raiva de Gana passa pelo confronto de quartas de final em 2010, que lhe tirou a chance de ser a primeira seleção africana em uma semifinal de Copa do Mundo. O confronto contra o Uruguai estava empatado em 1 a 1 e ia para os pênaltis quando, no último minuto da prorrogação, Gana faria o gol da classificação. Mas Luis Suárez conseguiu impedir o gol fazendo uma "defesa" com as mãos em cima da linha. Gana desperdiçou o pênalti e acabou eliminada na sequência.
O gesto de Suárez, apesar de fazer perfeitamente parte do jogo, foi tratado, principalmente pela mídia europeia, como "antiético" e "antidesportivo". O atacante, então grande jogador uruguaio, foi expulso e desfalcou o time na semifinal, contra a Holanda.
Na entrevista coletiva prévia à partida, ontem, um jornalista de Gana disse a Suárez que ele era reconhecido como "o próprio demônio" no país africano. O uruguaio disse que "colocou a mão na bola, mas quem perdeu o pênalti foi o jogador de Gana". Suárez não gosta de falar do tema e já havia encerrado uma entrevista na zona mista, após a derrota para Portugal, quando questionado pelo UOL Esporte.
"Eu teria de me desculpar se tivesse machucado algum jogador. Mas nessa situação? Eu não perdi o pênalti. E o jogador que perdeu o pênalti (Asamoah Gyan) teria feito o mesmo que eu", falou o uruguaio.
"É claro que (a vingança) estará lá em nossa cabeça, aquele foi um jogo decisivo não só para Gana, mas para toda a África", declarou Otto Addo, treinador de Gana. "Aquele jogo vai nos assombrar para toda a vida", resumiu Appiah, que estava na partida e hoje é comentarista da TV Al Jazeera.
Gana terá a vantagem do empate contra o Uruguai. A Coreia do Sul ainda tem chance de classificação, mas depende de uma vitória sobre Portugal, um tropeço de Gana e teria de ficar à frente de Gana ou Uruguai no saldo de gols.
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