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Por pai que foi ao Vietnã, Dest escolhe EUA e enfrenta Holanda na Copa

Nascido na Holanda, Sergiño Dest terá jogo especial pelos Estados Unidos na Copa do Mundo - Reprodução/Twitter
Nascido na Holanda, Sergiño Dest terá jogo especial pelos Estados Unidos na Copa do Mundo Imagem: Reprodução/Twitter

Caio Blois

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro (RJ)

02/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

Quando começou a se destacar nas divisões de base do Ajax, Sergiño Dest chamava atenção pelo seu futebol, mas pouca gente sabia os segredos do filho de uma holandesa com um surinamês. Alguns foram revelados quando ele escolheu jogar pelos Estados Unidos, apesar do assédio da Holanda. Agora, ele enfrenta o país que nasceu nas oitavas de final da Copa do Mundo do Qatar. "Não posso esperar para jogar a próxima partida porque será muito divertido jogar contra o país que eu nasci", disse.

Comparado a Marcelo e Daniel Alves pela habilidade e capacidade de atuar nas duas laterais que demonstrava no "De Toekomst" ("O Futuro", em tradução livre), como são conhecidas as camadas jovens do clube holandês, Dest cresceu nos Países Baixos e jogava nas duas laterais, mas apesar das raízes em EUA e Holanda, têm como ídolos jogadores brasileiros.

"Eu cresci vendo vídeos e admirando Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e outros brasileiros", afirmou, em vídeo produzido pela seleção dos EUA: "Treinava muito duro para conseguir reproduzir o que eles faziam com a bola. Cada movimento, até as firulas. Não parava até conseguir brincar com a bola como eles", disse.

Sergiño Dest nasceu na Holanda, mas decidiu jogar pelos EUA. Agora, enfrenta seu país na Copa do Mundo - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Sergiño Dest nasceu na Holanda, mas decidiu jogar pelos EUA. Agora, enfrenta seu país na Copa do Mundo
Imagem: Reprodução/Twitter

Em Almere, a cidade mais nova do país e 32 km distante da capital Amsterdã, o jogador de 22 anos cresceu em mais uma família de descendentes de surinameses. Seu pai, entretanto, teve uma história de vida mais difícil. Nascido na capital surinamesa Paramaribo, como Davids e Seedorf, Kenneth Dest deixou a América do Sul ainda criança para morar no Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos. Por lá, jogou futebol até a universidade, mas foi para o exército, e acabou sendo um combatente na Guerra do Vietnã.

Kenneth seguiu no exército dos EUA por mais tempo, sendo transferido para a Alemanha. Em uma viagem de lazer, foi à Amsterdã, onde conheceu a mãe de Sergiño. O casal tentou namorar a distância, chegou a se separar, mas o amor foi mais forte, e deu vida ao habilidoso lateral do Milan — que decidiu honrar a família paterna ao jogar pela seleção da Concacaf.

O menino quieto, tímido e de fala calma se tornou um adulto de personalidade forte dentro e fora de campo. O futebol ofensivo e veloz acompanha um homem que bancou decisões difíceis. Até o ídolo Ronald Koeman tentou fazer Sergiño mudar de ideia, mas sua decisão, que chocou a Holanda, foi defender a seleção dos Estados Unidos.

"Estou feliz de anunciar que vou continuar jogando pela seleção dos Estados Unidos. A Holanda, onde nasci e cresci, mostrou interesse, é um país com ótimos jogadores e eu enfrentaria os melhores do mundo. Mas os Estados Unidos me abraçaram nos momentos mais difíceis. Quando você está bem, todos te querem. Se não fosse a seleção dos Estados Unidos, talvez eu nem estivesse aqui no Ajax. Eu jogo por eles desde criança e acredito muito nos planos e no potencial dos Estados Unidos no futebol", afirmou, em declaração à AjaxTV.

A primeira vez que Dest esteve nos Estados Unidos foi em 2014. À época, em entrevista à ESPN, ele admitiu que mesmo seu inglês não era dos melhores. Ainda assim, vivia uma fase de altos e baixos, com muitas questões sobre sua capacidade no Ajax. Quando as coisas iam mal, eram seus amigos e a seleção dos EUA quem o levantavam. "Jogar pelos Estados Unidos tem a ver com minhas emoções, meus sentimentos e lealdade por tudo o que fizeram à minha família", afirmou.

Ainda assim, a Holanda bate forte em seu coração. Tanto que escolheu o mais holandês de todos os gigantes europeus fora de seu país quando deixou o Ajax. Decidiu ir para o Barcelona, seguindo o caminho de jogadores como o próprio Koeman, que seria seu treinador.

A camisa 2, que usava, também foi uma homenagem a ele e ao ex-treinador Michael Reiziger, outro holandês que fez história no Barça. Logo ao chegar, marcou seu nome: se tornou o primeiro americano da história do clube. Com o time mal das pernas, entretanto, as coisas não aconteceram como em seus sonhos, e ele deixou o clube rumo ao Milan.

Fora de campo, Dest já foi notícia por tocar bateria nas ruas de Amsterdã ou quando esteve com um uniforme em alusão ao Chicago Bulls em um evento de gala para a despedida de Lionel Messi — para o qual jura não ter sido avisado.

Já dentro dele, o lateral ofensivo foi destaque em campanhas expressivas do Ajax com Erik Ten Hag antes de ir para Barcelona e Milan. Em sua carreira, Dest marcou 11 gols e deu 20 assistências por clubes. Na seleção dos Estados Unidos, já marcou duas vezes, e disputa sua primeira Copa do Mundo. Foi dele o passe para Pulisic marcar o gol da classificação para as oitavas de final.

Quis o destino que o primeiro jogo de mata-mata de Copa de sua carreira fosse contra o seu país natal. Nada que faça Sergiño Dest esmorecer.

"Eu conheço quase cada um daqueles caras do outro lado. Vai ser muito divertido, com certeza. Nasci lá, falo a língua, conheço todas as pessoas. Eles querem passar por nós, mas temos o mesmo sonho. Será uma grande luta", disse, após a vitória sobre o Irã.