Topo

Talento de Valverde e Núñez resiste a ciclo ruim de técnico no Uruguai

Suárez após o Uruguai ser eliminado da Copa do Mundo do Qatar - Stu Forster/Getty Images
Suárez após o Uruguai ser eliminado da Copa do Mundo do Qatar Imagem: Stu Forster/Getty Images

Colunista do UOL, em São Paulo

03/12/2022 04h00Atualizada em 03/12/2022 08h56

Classificação e Jogos

Um dia depois de a badalada "geração belga" dar adeus à Copa do Mundo do Qatar ainda na primeira fase, a sexta-feira (2) marcou outra eliminação precoce de jogadores com bagagem em Mundiais.

Na terceira posição no Grupo H, atrás de Portugal e Coreia do Sul, o Uruguai saiu de cena mesmo com uma vitória por 2 a 0 sobre Gana. Foi o ato final de Luis Suárez, Edinson Cavani, Diego Godín e Fernando Muslera, todos disputando um Mundial pela quarta vez. Sem eles, os uruguaios ainda refletem sobre o futuro da seleção do país que na última Copa do Mundo, em 2018, terminou como a melhor representante da América do Sul. Foi a quinta colocada, deixando para trás até mesmo o Brasil (sexto).

cava - Clive Mason/Getty Images - Clive Mason/Getty Images
Edinson Cavani, do Uruguai, reage durante a partida contra Gana na Copa
Imagem: Clive Mason/Getty Images

Dureza prevista

O percurso do Uruguai no Qatar não era mesmo dos mais promissores, pelo que mostrava a campanha nas Eliminatórias.
Pela primeira vez desde a Copa de 2002, a seleção trocou de técnico durante a seletiva, se despedindo do histórico Óscar "Maestro" Tabárez e recebendo o ex-atacante Diego Alonso.

Uma verdadeira diferença de gerações acomodava os dois. Enquanto Tabárez está com 75 anos, Alonso, visto como alguém ainda mais próximo aos jogadores, tem apenas 47.

A terceira colocação nas Eliminatórias não foi tão preocupante, mas o desempenho, sim. Nesta semana decisiva no Qatar, jogadores de Colômbia e Chile falaram abertamente em seus países que poderiam participar deste Mundial, e que a ida de Equador e Uruguai, com seleções modestas, era uma imprevisibilidade normal do esporte. Em condições só um pouco diferentes, as duas equipes classificadas (uruguaios e equatorianos) ficariam de fora ainda nas Eliminatórias, na avaliação de chilenos e colombianos.

O trabalho de Alonso foi questionado durante o próprio Mundial, com Cavani atribuindo a ele a derrota para Portugal na segunda rodada. A sensação no Uruguai depois da derrota indica que o país deve voltar a cogitar a contratação de um técnico estrangeiro, possivelmente argentino.

Marcelo Gallardo, no River Plate, chegou a ser sondado antes do acerto com Alonso. Agora livre no mercado, ele deve voltar a ser alvo. A campanha no Qatar deixa Alonso sem clima para seguir, e seu contrato termina justamente agora.

Outro nome forte já especulado é o de Marcelo "Loco" Bielsa, histórico ex-treinador das seleções de Argentina e Chile.

alo - JOHN SIBLEY/REUTERS - JOHN SIBLEY/REUTERS
Diego Alonso, técnico do Uruguai, durante a partida contra Gana pela Copa do Mundo.
Imagem: JOHN SIBLEY/REUTERS

Faltou coragem

Por mais que se fale do VAR e da verdadeiro fúria dos jogadores com a arbitragem na partida de hoje, a análise do "El País", o principal jornal uruguaio, foi de que a campanha nas primeiras rodadas (empate por 0 a 0 com Coreia do Sul e derrota para Portugal por 2 a 0) acabou sendo fraca demais.

"A Celeste encontrou adversárias que jogaram mais leves e de maneira mais ofensiva, sem o peso histórico que uma derrota poderia trazer", comentou ao jornal o técnico Pablo Repetto, que hoje dirige o Nacional, um dos grandes do país, ao lado do Peñarol.

A entressafra no país deve ser acentuada no próximos anos, no início do ciclo para a Copa de 2026, que será disputada no Canadá, México e nos Estados Unidos.

Embora não sejam nomes pesados como Suárez e Cavani, há jogadores já consolidados, como Darwin Núñez (Liverpool-ING, 23 anos), Federico Valverde (Real Madrid, 24), Nicolás De La Cruz (River Plate, 25), e Giorgian de Arrascaeta (Flamengo, 28, que iria para sua terceira Copa).

É de se esperar que eles sejam, a partir de agora, o que os veteranos representaram para as gerações anteriores.

E eles serão cobrados para isso, e dois motivos surgem no radar uruguaio. A primeira questão é o sonho de sediar, com a Argentina e com o Paraguai, a Copa de 2030, comemorando os 100 anos da edição inaugural dos Mundiais, em 1930.

O outro motivo é a forte concorrência na América do Sul. Além de Peru, Chile e Colômbia, seleções que tradicionalmente brigam por vaga com a Celeste, há a previsão de que a Venezuela em um futuro próximo também poderá fazer frente.

Comandada hoje pelo argentino José Pékerman, ex-técnico da própria Argentina e da Colômbia em Copas, a única seleção sul-americana que jamais participou de Copas fala abertamente que se sente preparada para enfim ir a um Mundial.

Para a Copa de 2026, com 48 países, a América do Sul terá "seis vagas e meia", segundo definiu Gianni Infantino, presidente da Fifa. O continente classificará os seis primeiros em suas Eliminatórias, e o sétimo vai para a repescagem mundial, cujo oponente neste 2022 foi a Austrália.