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ANÁLISE

França e Inglaterra nas quartas: prepare-se para o melhor jogo da Copa

Henderson, Maguire e Bellingham comemoram gol da Inglaterra sobre Senegal - Pablo PORCIUNCULA / AFP
Henderson, Maguire e Bellingham comemoram gol da Inglaterra sobre Senegal Imagem: Pablo PORCIUNCULA / AFP

Colunista do UOL, em São Paulo

04/12/2022 18h48

Classificação e Jogos

O jogo é tão pesado que merece o intervalo de seis dias até lá. A Copa do Mundo do Qatar fecha o domingo (4) alinhando, para as quartas de final, um França x Inglaterra que promete ser o melhor jogo da Copa até aqui, com dois timaços que reúnem o que o futebol moderno tem de melhor.

A partida está marcada para o Estádio Al Bayt, na cidade de Al Khor, às 16h (de Brasília) do sábado (10). Não é exagero e nem "eurocentrismo". O clássico é histórico antes mesmo de começar.

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Olivier Giroud e Kylian Mbappé celebram o primeiro gol da França contra a Polônia.
Imagem: Alex Grimm/Getty Images

França de Mbappé x Brasil de Pelé

Quem vê a França na Copa do Mundo do Qatar acompanha uma seleção que já está nos almanaques dos Mundiais.

Atuais campeões (sobraram em 2018 até mesmo na final), os franceses têm consideráveis chances de somar um bicampeonato que não é atingido desde o Brasil de Pelé e Garrincha, em 1958 e 1962. São exatos 60 anos de recuo, o que confere a perfeita dimensão do nível atual dos "Bleus".

Fixar a França apenas na história também não é tão justo. O time comandado por Didier Deschamps é talentoso e muito moderno, superando desfalques, crises e desconfianças em iguais medidas.

A cara visível desta França cintilante, claro, é o atacante Kylian Mbappé, que fez dois gols contra a Polônia e chegou a cinco tentos marcados em quatro jogos neste Mundial. Aos 23 anos, e disputando uma Copa pela segunda vez, ele já soma a mesma quantidade de gols em Mundiais que o reverenciado Lionel Messi, que joga sua quinta edição.

Os próprios poloneses que tentaram hoje parar Mbappé se renderam e ele, que arranca com passadas largas para ser um daqueles gênios do esporte que são admirados inclusive pelos seus rivais.

Ninguém pode falar desta França sem citar também o oportunismo de Giroud (agora maior artilheiro da seleção na história), da eficiência silenciosa de Griezmann, da segurança do goleiro Lloris (agora recordista de participações) e do zagueiro Varane.

Seja qual for a camisa vestida pelo torcedor, deixar de admirar o que faz esta França é renegar a essência do futebol.

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Inglaterra vence Senegal com tranquilidade e avança
Imagem: Getty Images

As novas crias dos pais da bola

Do outro lado do campo para enfrentar esta histórica França estará um time que também já merece um destaque na lendária trajetória do "English Team".

A seleção inglesa disputou a semifinal da última Copa, é verdade, mas de 1994 para cá chegou somente outras duas vezes às quartas de final que atinge agora (eliminada pelo Brasil em 2002 e por Portugal em 2006).

A última Copa do Mundo, realizada na Rússia, também dá uma boa referência para situar o França x Inglaterra como especial. Ambos foram semifinalistas e mantiveram seus técnicos, que passaram a trabalhar com jogadores ainda melhores. França e Inglaterra olharam para a vizinha durante todo o ciclo sabendo que este confronto alinhado agora fatalmente estaria por vir.

A proposta do técnico inglês Gareth Southgate explora velocidade e técnica em um 4-3-3 sólido e ofensivo. Foi com ele que os ingleses deram um verdadeiro baile em Senegal, com um 3 a 0 ainda no minuto 57, brilhando com o canhotinho habilidoso Foden e com o craque Bellingham, provando todo o cartaz que já mostrava no Borussia Dortmund-ALE.

É mesmo o meio-campista completo, aquele que faz tudo bem já aos 19 anos. Ele nem era nascido quando Ronaldinho encobriu o goleiro Seaman em 2002.

O outro volante, Rice, com 23 anos, também joga como um veterano, mas com um pulmão de garoto.

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Lionel Messi, da Argentina, e Memphis Depay, da Holanda, em ação na Copa do Mundo do Qatar
Imagem: Ian MacNicol e Clive Brunskill/Getty Images

E os demais?

Holanda x Argentina, em que pese a tradição do confronto que já decidiu até uma final de Copa (em 1978), une seleções instáveis que não causam a mesma sensação que ingleses e especialmente franceses geram até aqui.

Dando a lógica e esperando pelo avanço dos favoritos nas oitavas, as outras duas quartas de final teriam Brasil x Croácia e Portugal x Espanha. Jogos interessantes, a nata da nata, sem dúvida, mas sem a soma das virtudes de França x Inglaterra.

É cedo para falar em "final antecipada", claro. Mas há tempos a Copa não oferecia um jogo tão interessante —desde o Brasil x França de 2006, talvez?— ainda nas quartas de final.

França x Inglaterra. Mais que um jogo. "O" jogo.