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Sucesso da Argentina na Copa passa pelo trabalho de Gallardo no River Plate

Alvarez comemora gol da Argentina sobre a Austrália em jogo das oitavas de final da Copa do Mundo - Pedro Nunes/Reuters
Alvarez comemora gol da Argentina sobre a Austrália em jogo das oitavas de final da Copa do Mundo Imagem: Pedro Nunes/Reuters

Colunista do UOL, em São Paulo

04/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

Tendo Lionel Messi como maestro para levar a Argentina ao título que persegue desde 1986, a seleção comandada por Lionel Scaloni carrega também um toque de Marcelo Gallardo, técnico que no mês passado encerrou seu trabalho de oito anos e meio no River Plate, um dos gigantes do futebol do país.

Depois de perder na estreia para a Arábia Saudita, a Argentina deu a volta por cima, superou a primeira fase e agora se classificou para pegar a Holanda nas quartas de final depois de escalar como titulares o volante Enzo Fernández, de 21 anos, e o atacante Julian Álvarez, de 22.

Ambos foram revelados nas divisões de base do River, que orgulhosamente define suas "canteras" como uma das melhores do mundo. Exemplos que sustentam a afirmação realmente não faltam. Até Alfredo di Stéfano, lenda do Real Madrid, saiu de lá.

E a base do River, trabalhada diretamente por Gallardo como um verdadeiro ourives, não tem apenas Enzo e Julián. Outros cinco jogadores da atual seleção argentina foram revelados no clube: os volantes Guido Rodríguez e Palacios, os laterais Montiel e Molina e o zagueiro Pezzella.

O goleiro reserva, Franco Armani, é jogador do River (único representante em atividade no futebol local), mas despontou para o futebol de ponta na Colômbia.

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13/04/2022 - Enzo Fernandez jogador do River Plate comemora seu gol durante partida contra o Fortaleza no estadio Monumental de Nunez pelo campeonato Copa Libertadores 2022.
Imagem: Fotobairesarg/Fotobairesarg/AGIF

De Núñez para o mundo

Julián estreou no River em 2018, sendo uma ousada aposta de Gallardo na final da Libertadores conquistada em cima do Boca Juniors. Sem espaço entre os titulares na temporada 2020, Enzo Fernández estreou, foi repassado ao Defensa y Justicia e voltou ao bairro de Núñez para brilhar em 2021.

Ambos se transferiram para a Europa recentemente. "Rei da América" na votação do jornal uruguaio "El País" em 2021, Julián se apresentou ao Manchester City, da Inglaterra, em julho, mesmo mês em que Enzo Fernández vestiu a camisa do Benfica.

"Este foi o ciclo mais bem-sucedido da história do River. O projeto permitia espaço aos jovens para acontecer o que vem acontecendo", contou ao UOL o argentino Gustavo Grossi, diretor da base do Internacional desde março de 2021. Ele ocupava o mesmo cargo no gigante portenho.

"Que Enzo e Julián sejam duas sensações na Copa do Mundo é também um orgulho para o futebol argentino, porque poucos meses atrás eles atuavam no país, e ainda hoje iniciam suas trajetórias no futebol europeu. Isso significa que o River está à altura do primeiro nível mundial."

Para Gustavo, a influência de Gallardo no desempenho dos dois pupilos merece destaque. "Segundo o meu critério, ele é o melhor treinador profissional do mundo para formar jogadores. E não só jovens, jogadores de 30 anos também evoluem com ele. Pude ver de perto como Marcelo preza por um trabalho realmente admirável tanto na transição do juvenil para o profissional como na correção e evolução do jogador com trajetória mais avançada."

A pergunta é inevitável: o sucesso da Argentina com Julián e Enzo pode ser reproduzido pelo Brasil com o Internacional? "O que posso dizer é que as coisas não acontecem por acaso, elas precisam de tempo", analisa Gustavo.

"O River teve 8 anos e meio para construir o que hoje está aproveitando. Agora estamos em uma etapa intermediária, lembrando que lamentavelmente o clube teve problemas no passado, e esses problemas repercutem no presente. É uma etapa de construção, e essa construção dura seis anos. Estamos construindo uma base e um legado."

"Não dá para dizer se vai ser igual ou melhor que o River, o que dá para dizer é que estamos trabalhando para construir o futuro que o clube merece."

Pelo que vem demonstrando no Qatar, Julián e Enzo também vão merecer mais na Europa. O volante já tem seu nome sondado no Real Madrid. E Julián, colocado na reserva por Pep Guardiola em muitos compromissos do City (soma apenas 28% dos minutos possíveis jogados), tem boas chances de emplacar de vez uma dupla furiosa com o norueguês Erling Haaland daqui por diante.