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Além do futebol: Espanha x Marrocos tem imigração, preconceito e polícia

Torcedores do Marrocos em jogo contra o Canadá no Estádio Thumama, em Doha - Evrim Aydin/Anadolu Agency via Getty Images
Torcedores do Marrocos em jogo contra o Canadá no Estádio Thumama, em Doha Imagem: Evrim Aydin/Anadolu Agency via Getty Images

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Barcelona (ESP)

06/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

O duelo entre Espanha e Marrocos, que abre a terça-feira na Copa do Mundo, às 12h (de Brasília), não é um jogo comum. A sétima partida das oitavas de final no Qatar coloca frente a frente dois países que estão geograficamente próximos, mas que têm uma relação complicada nas últimas décadas.

Quando Hakimi, Ziyech e Amrabat estiverem em campo contra Pedri, Gavi e Morata, bairros inteiros da Espanha estarão diante da TV torcendo pelo selecionado do norte da África. Segundo dados do governo espanhol, atualmente cerca de 870 mil marroquinos vivem em território espanhol. Números extraoficiais aumentam as cifras para até 1 milhão de pessoas.

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Ziyech comemora gol do Marrocos contra Canadá
Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

A tensão entre os dois países atualmente se dá, principalmente, por questões decorrentes desta imigração. O fluxo migratório de marroquinos para a Espanha ganhou força na virada do século 21, motivada por uma das maiores desigualdades entre países vizinhos de todo o planeta: a renda per capita média dos espanhóis (R$ 158 mil anuais) é nove vezes maior que a dos marroquinos (R$ 17 mil anuais).

O aumento do número imigrantes, aliado à crise econômica que explodiu na Europa no fim da primeira década deste século, levou uma parte da sociedade espanhola a criar antipatia pelos imigrantes em geral, mas pelos marroquinos em particular.

De acordo com pesquisa realizada pela Secretaria de Estado e Imigração do Governo espanhol, 16% dos espanhóis têm "alguma antipatia" ou "muita antipatia" por imigrantes. O número cresce para 35% quando se trata de imigrantes marroquinos; é o pior índice dentre todas as nacionalidades. A repulsa a latino-americanos e chineses, por exemplo, é bem menor, fica em 10%.

A intolerância aos imigrantes em geral, segundo a pesquisa, tem como causas motivos econômicos, religiosos e culturais. O estudo aponta, ainda, que a antipatia é maior entre os que se consideram de direita (21%) e extrema-direita (34%); entre os que se dizem de esquerda (8%) o número é bem menor.

A rejeição aos imigrantes de Marrocos na Espanha aumentou desde 2017, os atentados em Barcelona e Cambrils (cidade da costa do Mediterrâneo, também na Catalunha). O grupo terrorista que provocou os ataques era composto por homens de origem marroquina.

Segurança reforçada

Desde a semana passada, quando a última rodada da fase de grupos colocou as seleções de Espanha e Marrocos frente a frente, líderes do Vox, partido da extrema-direita espanhola, pediram ao governo que reforçasse a segurança em áreas de risco, para "garantir a segurança nas ruas do país".

Partidos de centro-esquerda viram o pedido como uso político da situação, para aumentar ainda mais o discurso da organização de extrema-direita em suas tentativas de alterar leis de imigração e torná-las mais severas.

Na última sexta-feira (2), a polícia espanhola anunciou que foi criada uma operação para evitar enfrentamentos entre espanhóis e marroquinos. Em outras cidades europeias, os jogos da seleção do norte da África tiveram incidentes, com destaque para Bruxelas, na Bélgica, que teve briga de torcedores e vandalismo.

Na Espanha, ainda não houve qualquer registro de ocorrências antes, durante e depois das outras partidas da seleção africana. Após a classificação em primeiro lugar do Grupo F, um grupo de torcedores marroquinos foi até a Plaza del Sol, um dos pontos mais importantes de Madri, mas não foram registrados problemas.

Desde que o dispositivo especial foi acionado, a polícia tem procurado informações sobre possíveis reuniões de torcedores violentos de Marrocos em cidades espanholas. Por enquanto, não foi encontrado nenhum indício de encontro de caráter mais agressivo.

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Torcedor segura bandeira de Marrocos em Bruxelas, capital da Bélgica, após partida da Copa do Mundo
Imagem: Kenzo TRIBOUILLARD/AFP

Nos últimos dias, contas anônimas de Twitter têm espalhado comentários xenófobos sobre os perigos que a partida poderia representar, sempre relacionando os marroquinos a atos ilícitos. No Raval, bairro de Barcelona com muita presença da comunidade marroquina, há ruas enfeitadas com a bandeira do país do norte africano.

Relação esportiva

A proximidade com a Espanha pode ser notada na seleção marroquina, uma das revelações da Copa do Mundo, que chega às oitavas de final após um empate sem gols com a Croácia e vitórias sobre Bélgica (2 a 0) e Canadá (2 a 1).
Dos 26 convocados pelo técnico Walid Regragui, quatro atuam no futebol espanhol: o goleiro Yassine Bono e o atacante Youssef En-Nesyri jogam no Sevilla; o zagueiro Jawad el Yamiq está no Valladolid; o ponta Ez Adbe, que pertence ao Barcelona, está emprestado ao Osasuna.
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Hakimi, lateral de Marrocos, ganha beijo da mãe após vitória sobre a Bélgica
Imagem: Fadel Senna / AFP

Além dos marroquinos que jogam na Espanha, há dois que nasceram no país ibérico. O goleiro reserva Munir Mohamedi nasceu em Melilla, uma das cidades autônomas da Espanha no norte da África.

Já o lateral-direito Achraf Hakimi, um dos grandes destaques da equipe, nasceu em Madri. Ele começou a carreira no Real Madrid e, sem muitas chances, acabou sendo negociado com a Inter de Milão. Atualmente, está no PSG.