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Marrocos nas quartas tem técnico agregador, família no Qatar e rei boleiro

Sabiri comemora com Hakimi após a classificação de Marrocos às oitavas da Copa do Mundo - Shaun Botterill/Getty
Sabiri comemora com Hakimi após a classificação de Marrocos às oitavas da Copa do Mundo Imagem: Shaun Botterill/Getty

Colunista do UOL, em Doha (Qatar)

07/12/2022 12h00

Classificação e Jogos

Marrocos está nas quartas de final da Copa pela primeira vez em sua história. Como pode ir tão longe uma seleção que resolveu trocar de técnico apenas três meses atrás? Talvez o segredo esteja justamente aí.

O bósnio Vahid Halilhodzic classificou o Marrocos para a Copa, mas barrou uma das grandes estrelas, Ziyech, e estava em pé de guerra com a outra, Hakimi. Era vaiado e detestado por torcedores. A federação não teve o que fazer e resolveu demiti-lo.

Uma entidade, diga-se, que sofre interferência direta do rei do país, Mohammed VI, que ama futebol. O mandatário é tão "boleiro" que saiu às ruas ontem para celebrar com a população a vitória épica sobre a Espanha, nos pênaltis.

Para o lugar do bósnio, foi chamado um técnico nascido na França, mas que era quase unanimidade nacional: Walid Regragui. Ele levou o Wydad Casablanca ao título da Champions League africana neste ano, credenciando o clube marroquino a disputar o Mundial de Clubes da Fifa no ano que vem (junto com Real Madrid, Flamengo e outros). Agregador, era o nome ideal para a tarefa de reagrupar a seleção rubro-verde a tão pouco tempo do Mundial.

"Antes da Copa do Mundo, falavam muito de problemas com jogadores nascidos na Europa, nascidos em Marrocos. Hoje, mostramos que todo marroquino é marroquino. Pudemos criar esse grupo, essa família", disse Regragui após a classificação.

O treinador deu a entender que as grandes estrelas passaram a ter uma espécie de tratamento diferenciado dentro da família, o que é mais do que normal em um time de futebol.

"Hakimi é excelente e extraordinário, ele sentiu que tinha como contribuir. Não sei por que teve problemas antes. Você tem de dar responsabilidade e carinho a esses caras, é como Neymar e Mbappé. São diferentes, não são um a mais. Há treinadores que falam 'todos são iguais'. Isso é mentira. No PSG, não são todos iguais. Eu trato Hakimi como todos, mas dou muito carinho a ele. Ziyech é um jogador de alto nível e em um grande clube. Hoje subiu ainda mais o nível, isso acontece nessas competições, há jogadores que às vezes não têm tantos minutos em seus clubes e sobem o nível em uma Copa do Mundo."

Na entrevista coletiva, o treinador foi aplaudido várias vezes por um grupo de oito jornalistas marroquinos — que pareciam visivelmente emocionados. Dois deles nem fizeram perguntas, apenas pegaram o microfone para agradecê-lo pelo feito histórico.

Nas ruas, torcedores que viveram o melhor momento esportivo de suas vidas exaltavam o trabalho do treinador, em meio à idolatria pelos jogadores. "Hakimi falou que não é uma equipe, é uma família. O técnico é muito importante para o time, sabe como falar com os jogadores e você vê que eles estão muito, muito motivados", opina Oussama Essoubki, que veio de Paris para acompanhar a seleção marroquina no Qatar.

"Quando for velho, talvez eu fique orgulhoso por este feito. Foi uma coisa extraordinária para o povo marroquino, e isso nos leva a dar mais, pensar em mais. Nosso rei mandou mensagem, está orgulhoso e isso nos faz querer ser melhores", falou o treinador.

Mostrando que sabe não só agregar elenco, Walid Regragui aproveitou para elogiar o mandatário do país, que, segundo ele, faz tudo para elevar o nível do futebol de Marrocos.

"Queremos ser um motor na África. A federação fez esforços, investiu dinheiro em instalações, formação, começamos a formar nosso pessoal e, quando você está nesse caminho, não surpreendem os resultados. É fundamental a política que (o rei) pôs em marcha para o futebol marroquino. Seguiremos lutando por nosso rei. É uma pessoa que nos une."

Marrocos enfrentará Portugal no próximo sábado, em busca de uma vaga nas semifinais da Copa do Mundo — fase nunca atingida na história por uma seleção do continente africano.