Tite enfrenta trauma de dez noites em claro por vitória inédita na Copa
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O jogo contra a Bélgica não sai da cabeça de Tite. Tirou o sono do técnico por uns dez dias, lhe fez assistir à reprise completa pelo menos cinco vezes nos últimos anos, antecipou para 6h a caminhada matinal para evitar o risco de encontrar torcedores na rua e até hoje marca o dia que ele viveria de novo se pudesse escolher.
Eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018, a seleção brasileira deu ao treinador outra chance de disputar o torneio. Nesta sexta-feira (9), às 12h (de Brasília), contra a Croácia, estará em jogo no estádio Education City a oportunidade de acabar com o pesadelo das quartas e avançar à semifinal, num possível confronto histórico diante da Argentina — os hermanos enfrentam a Holanda.
É a pedra em cima de um trauma que também é da própria seleção. Desde o pentacampeonato mundial em 2002, o Brasil só passou das quartas em 2014. Talvez fosse melhor nem ter passado, porque foi o ano do 7 a 1 para a Alemanha sob o comando de Luiz Felipe Scolari. Em 2006 e 2010 as quedas nas quartas foram contra França (com Parreira de técnico) e Holanda (Dunga à frente).
Por curiosidade, Parreira e Dunga estão num patamar que Tite pode alcançar se o Brasil vencer a Croácia com bola rolando amanhã. No cargo desde 2016, Tite tem 80 jogos pela seleção. Venceu 60, empatou 14 e foi derrotado apenas seis vezes.
Se vencer a Croácia, Tite alcança as mesmas 61 vitórias de Parreira na seleção e sobe no pódio dos treinadores com mais vitórias. Comandante no tetracampeonato mundial do Brasil, em 1994, e à frente de uma segunda passagem entre 2003 e 2006, o experiente treinador alcançou 61 vitórias no total de 112 partidas. Já nesta Copa, Tite passou Dunga, que soma 59 vitórias também com mais jogos do que Tite, 85.
Parreira, Tite e Dunga estão atrás somente de Zagallo em vitórias pela seleção. O técnico do tri em 1970 e também nas Copas de 1974 e 1998 tem impressionantes 90 vitórias em 126 partidas. São números que Tite não vai alcançar, porque já anunciou que deixa a seleção depois do Mundial do Qatar. Como todos os jogos agora são eliminatórios, ele tem no mínimo um e no máximo três partidas pela frente na beira do campo. O lugar máximo no pódio é o segundo.
"Lideranças não têm que ser impostas o tempo todo. Tem que ter novos profissionais, com novos ciclos, um ciclo inteiro. Minha maturidade entende que os processos têm início, meio e fim e eu já tenho início e meio, estou construindo o fim, e não sou dono da posição. Outros grandes profissionais têm condições de aqui estar", disse Tite, em entrevista recente ao UOL.
Para tudo isso acontecer, o foco é na partida contra a Croácia e na possibilidade de espantar o pesadelo das quartas de final.
Aquele jogo contra a Bélgica em 2018 ainda mexe com Tite. Primeiro porque a alta quantidade de reprises vistas lhe deu a certeza de que foi o melhor jogo do Brasil na Copa do Mundo, com desempenho superior ao da Bélgica, mesmo com a derrota por 2 a 1.
O desembarque da delegação no Brasil depois da eliminação foi muito marcante para o treinador, que ameaçou chorar. Para não derramar lágrimas, mordeu o lábio e a língua, dizem pessoas próximas. O então coordenador de seleções Edu Gaspar disse num programa de TV que Tite chorou ainda no vestiário do estádio em Kazan, na Rússia.
Foi uma ferida que demorou para cicatrizar e deixou o treinador em dúvida sobre continuar no comando da seleção. Ele tinha o convite, mas não a certeza de que era a decisão certa por causa da exposição. Depois de conversas com a esposa Rosmari, os filhos Matheus e Gabriele, irmãos e profissionais da comissão técnica, aceitou a proposta.
O resultado de toda a reflexão está em campo na Copa do Mundo do Qatar, entre as oito melhores seleções e agora com a possibilidade de chegar às semifinais. Para Tite poder dormir em paz.
- Risco de prorrogação
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