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ANÁLISE

Neymar na seleção mirou Pelé, mas deve terminar perto de Zico. E tudo bem

Neymar durante disputa de pênaltis entre Brasil e Croácia, pelas quartas da Copa 2022 - Jewel SAMAD / AFP
Neymar durante disputa de pênaltis entre Brasil e Croácia, pelas quartas da Copa 2022 Imagem: Jewel SAMAD / AFP

Pedro Lopes

Do UOL, em Doha (Qatar)

10/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

Em uma noite de tragédia para o Brasil, com mais uma eliminação dura nas quartas de final de uma Copa do Mundo, Neymar marcou com um golaço para igualar Pelé como maior artilheiro da história da seleção brasileira: 77 gols, na contagem oficial da Fifa. É um recorte que simboliza uma realidade. O camisa 10 brasileiro chegou ao Qatar para definir seu legado na história do futebol brasileiro.

Há 12 anos, o atacante carrega a missão de ser o rosto do Brasil dentro das quatro linhas. Incontestável na posição de estrela máxima do esporte no país, acumula, além dos 77 gols, 124 partidas. É razoável imaginar que, caso continue a serviço da seleção, isole-se na artilharia, e até persiga o recorde de partidas jogadas, que pertence a Cafu. O lateral atuou 142 vezes. De cabeça quente, Neymar não quis dizer se continuará vestindo a camisa amarela. "Não garanto nada", foi a resposta.

O cenário impõe a pergunta: qual o real tamanho de Neymar na história da seleção brasileira e do futebol brasileiro? Independentemente da continuidade ou não a serviço do Brasil, é um jogador de 30 anos, que desde 2017 sofre com lesões e não supera a marca de 31 jogos em uma temporada. Há indícios de que sua trajetória em alto nível como grande nome da seleção pode, ou até deve, estar entrando na reta final. Na campanha do Qatar, o protagonismo já foi dividido com Vini Jr.

No Brasil, tradicionalmente, o desempenho em Copas do Mundo carrega um peso enorme no folclore da torcida e da crônica na hora de discutir a prateleira à qual pertencem grandes jogadores. A carreira de Ronaldo, o Fenômeno, é um exemplo disso. Vestindo a camisa de clubes, não conseguiu conquistar a glória máxima da Champions League. O desempenho na Copa de 2002, entretanto, com artilharia e título, elevam seu nome ao olimpo do futebol brasileiro.

Neymar carrega Pelé "no colo" durante visita do Rei do Futebol ao CT que leva seu nome, em Santos, em 2010 - Spiffy Fotografia - Spiffy Fotografia
Neymar carrega Pelé "no colo" durante visita do Rei do Futebol ao CT que leva seu nome, em Santos, em 2010
Imagem: Spiffy Fotografia

Sendo esse o critério, as comparações com Pelé perdem o cabimento. Não que fossem fáceis, para além dos números. Não se trata, aqui, de comparar níveis dos jogadores. Isso seria absurdo partindo de um jornalista que viu Neymar, mas não viu Pelé e tantos outros. E que aprendeu, cedo e em casa, a cautela necessária ao comparar mortais ao Rei do Futebol. A análise é, mesmo, sobre dados e números.

E sob essa ótica, a trajetória de Neymar se aproxima mais da de Zico: um jogador que encantou pelo que fazia com a bola, estampou por uma década as manchetes dos jornais, cravou números enormes com a camisa da seleção, mas bateu na trave na hora de conquistar os grandes títulos. Se não tiver em 2026 a sua última dança, será esse seu legado.

Como Zico, ele inspirou uma geração que vai herdar a tocha. O legado de Neymar são as "perninhas rápidas" de Rodrygo e Vini Jr, por exemplo. São jovens que olharam para Neymar e viram uma maneira de viver o futebol e tentam fazer o mesmo. Há mais gente boa por vir, como Endrick e Marcos Leonardo, o último cria da mesma Vila Belmiro, que também olham para Neymar como fãs. Nos próximos quatro anos, é isso que deve ser cultivado.

O UOL News Copa repercute a eliminação do Brasil, os erros brasileiros, o nó tático da Seleção Croata, a saída de Tite, os jogos do dia e mais! Confira: