Herói da Argentina na Copa do Qatar, goleiro incentiva leitura e psicologia

Nas horas vagas, as mãos de Emiliano "Dibu" Martínez, herói da Argentina na Copa do Mundo ao pegar dois pênaltis dos holandeses, gosta de agarrar livros. Em papel. Nada de eletrônicos, nada de telas, apenas a boa e velha encadernação.

Sua fixação pela leitura é gigante, e quem conhece a Argentina sabe da paixão do país por livros. Martínez, de 30 anos, nutre tanto o hábito que até lançou um livro infantil dois meses atrás justamente para propagar a paixão entre os pequenos.

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Chamada "Paixão pelo futebol", a sua obra conta a saga do goleiro com ilustrações e textos que incutem tanto a magia da leitura quanto pelo esporte. É uma biografia para crianças.

A obra foi publicada em outubro e é sucesso de vendas nas inúmeras livrarias do país. Foi doada também às escolas, e esteve livre para ser baixada de graça nos meios digitais logo quando foi lançada.

"Na verdade, eu me emociono com este projeto", contou "Dibu" ao UOL, em outubro. "O público infantil me comove, sei como é importante ter paixões e sonhos desde o começo da vida. Sem este desejo, não estaria aqui, na seleção, e se eu puder propagar um pouco disso, ótimo."

Fervoroso defensor da psicologia

Outra faceta desconhecida no Brasil do goleiro argentino é sua fixação pela psicologia.

É bastante repetida na Argentina a história de quando ele era criança e sofria bullying dos colegas maiores. A maneira como ele se defendia para cortar o diálogo era sucinta: "Tirem sarro agora, enquanto podem. Não sei vocês, mas eu vou jogar na Europa e ser goleiro da seleção".

Longe de demonstrar soberba ou empáfia, a "profecia" ainda criança mostrava a força mental precoce do goleiro que enfrentou inúmeras dificuldades na profissão até brilhar e se consagrar como "a mão dos 45 milhões de argentinos" que vibraram com seu histórico desempenho ante a Holanda.

O treinamento mental é tão presente na sua vida que Martínez conta há quatro anos com um psicólogo pessoal, o inglês David Preastley, que incorporou à rotina de trabalho muito antes de se destacar na seleção e no Aston Villa que defende hoje.

Sempre que pode, Martínez dá declarações públicas incentivando as consultas com psicólogos e falando abertamente sobre a importância que merece a saúde mental.

Uma rápida repassada nas suas entrevistas nesta Copa do Mundo demonstra a ênfase: "O psicólogo me mudou muito, ele me prepara para cada jogo", comentou ao jornal argentino "La Nación" depois da derrota para a Arábia Saudita.

"Não sei se ele quer que eu fale do seu trabalho. Conversamos duas ou três vezes por semana e antes de uma partida. Minha cabeça está mais centrada que nunca, ganhando ou perdendo. Com o que exige o futebol mundial, creio que todo jogador precisa de um psicólogo. Hoje, é muito fácil que te chegue uma mensagem que te insulta ou te discrimina."

"Nas redes, encontramos pessoas que te ameaçam e te falam para você se aposentar, por isso é preciso ter a cabeça centrada e manter um objetivo."

Vem daí, do desenvolvimento psicológico, suas calorosas e já aguardadas provocações com os atacantes, o famoso "trash talk" tão comum na NBA e nas lutas, quando um atleta tenta afetar o desempenho do adversário deixando-o nervoso.

Para o "La Nación", trata-se do seu "showtime", algo tão comum na seleção argentina atual quanto as magias de Lionel Messi.