'Novo Obelisco': casa de Maradona vira ponto de encontro nos jogos da Copa
Classificação e Jogos
Uma casa que pertenceu a Diego Maradona está atraindo torcedores para os jogos da Argentina na Copa do Mundo. A cada avanço da seleção de Messi e companhia no Mundial do Qatar, o local em Buenos Aires chama mais atenção dos fãs e o proprietário está tendo de dosar a euforia para evitar que a residência tenha superlotação.
Esta é a primeira Copa realizada desde a morte de Maradona, em novembro de 2020. Mas, para muitos, ele ainda está presente. O novo hit da torcida, cantado pela própria seleção, diz "podemos ver, do céu, o Diego, com o seu Diego e a Dona Tota, incentivando o Lionel [Messi]".
Na última sexta-feira (9), a casa foi palco de uma dupla comemoração. Primeiro, os presentes vibraram com o Brasil sendo eliminado da Copa pela Croácia. Depois, e não sem muito sofrimento, com a garantia da vaga da Argentina para a semifinal.
"Com a gente aqui, o Brasil não poderia ganhar", disse ao UOL Ariel García, empresário argentino do setor de fabricação de medicamentos, que concluiu a compra do imóvel localizado em Villa Devoto, bairro de classe média alta de Buenos Aires, no começo de dezembro, e hoje recebe convidados para assistir aos jogos da Copa.
Em um dia agitado pelos jogos do Brasil e da Argentina, sob um calor sufocante de quase 40 graus, centenas de argentinos se reuniram no pátio, ao redor da piscina que um dia pertenceu à família Maradona — o ex-jogador comprou a casa para os pais, Dona Tota e seu Diego, mas também chegou a morar no local —, para assistir aos duelos das quartas de final.
A aquisição da casa é, segundo García, uma oportunidade para que os que não viram Maradona jogar possam saber mais sobre o grande astro do futebol argentino e mundial.
"Meus filhos só conheciam o Messi e, agora que sabem mais sobre o Maradona, estão fascinados. A ideia é todos saberem mais sobre ele e abrir o local, não só para os argentinos, mas para os napolitanos, os de Barcelona e do mundo inteiro", explicou Garcia, que colocou a casa no nome das filhas, menores de idade, sob a condição de que não seja vendida.
O empresário decidiu comprar a casa após ler em um jornal argentino sobre a intenção de que ela fosse demolida para a construção de um prédio. Inconformado, ligou para a imobiliária responsável pela venda para confirmar a veracidade da informação e decidiu dar uma entrada e conseguir tempo para juntar dinheiro para comprá-la.
A venda foi concluída no início de dezembro e a casa de Maradona foi entregue a García, como na época em que era ocupada pelos pais do astro argentino: com uma parte da sala em mármore, enormes lustres, hall de entrada e um bar com espelhos, vitrais e capas ampliadas de revistas de fofoca que Maradona estampou transformadas em quadros.
A intenção do empresário é inaugurar um museu interativo sobre a história de Maradona e um centro educativo para jogadores iniciantes, de baixa renda, no local. Enquanto isso não acontece, ele tem recebido convidados para assistir aos jogos da Copa, da casa onde, muitos acreditam, o "Deus" argentino ainda está dando um empurrãozinho para a seleção argentina.
Após abrir as portas da propriedade e ver uma multidão ocupar todas as partes da casa no jogo contra a Polônia - na qual, ele calcula, estiveram cerca de mil pessoas - ele diz agora que a entrada está mais controlada, mas que, enquanto houver espaço, vizinhos serão bem-vindos. Uma hospitalidade que, no jogo contra a Holanda, incluiu cerca de 130 kg de carne e centenas de garrafas de água e refrigerante disponíveis para os convidados.
"As alegrias [de Maradona] foram todas aqui. Acho que é um lugar emblemático, é o lugar mais importante da Argentina, eu diria, esse era o lar dele. Tem uma energia aqui", disse, animado.
A fé em Messi e Maradona
Mas quem foi para o lugar acreditando que o eterno camisa 10 da Argentina abriria o caminho para a final sem dificuldades, descobriu logo que nem "Deus" torna os jogos da Copa menos sofridos. De fato, o jogo contra os holandeses foi tão tenso, que os cantos de torcida, com os quais argentinos comumente apoiam os jogadores do começo ao fim dos jogos, somente começaram a ser entoados após 20 minutos de bola rolando. Algo de que, provavelmente, o próprio Diego, se vivo, reclamaria.
"A derrota do Brasil me deixou nervoso", expressou um dos convidados, o advogado Gastón Urita, 38, que assistia ao jogo em pé, no pátio da ex-casa do Maradona. Seu temor era de que o jogo fosse para a prorrogação e acabasse nos pênaltis, como acabou acontecendo. A tensão continuou mesmo após a Argentina abrir o placar, com o gol de Nahuel Molina, e somente se aplacou com o segundo gol da albiceleste.
Só neste momento os convidados conseguiram soltar o grito preso no peito, e cantar com vontade que voltariam a ser campeões como em 1986, e hit desta Copa, no qual os argentinos dizem que voltaram a ter esperança de ganhar o título mundial.
Mas o alívio durou somente até a Holanda marcar contra a Argentina. Foi quando alguém teve a ideia de colocar, embaixo do enorme telão instalado no pátio (somando-se a outros dois dispostos nas salas da casa), uma estatueta de santa que estava na propriedade e, segundo as pessoas envolvidas na aquisição, acompanhou Maradona durante a temporada como jogador do Napoli.
Mas nem a presença da virgem ajudou a mitigar o sufoco até a definição da partida. Após o segundo gol da Holanda, nos questionados 10 minutos adicionais, o desespero era total e a estatueta foi retirada do local. O que se sucedeu a isso foram unhas roídas, mãos sobre bocas e olhos, e rostos de frustração, medo e descrença. Uma angústia que durou até a definição nos pênaltis, a favor da Argentina.
"Esta é para o Diego, que está assistindo lá do céu", cantaram os presentes, comemorando a vitória, do pátio da casa do ex-jogador, onde uma faixa foi estendida com os dizeres: "Diego, se você já encontrou a paz que nós te roubamos, por favor volte, que aqui todos sentimos sua falta".
Como quando já aconteceu durante a vida de Maradona, após a vitória da seleção, vizinhos da região lotaram a quadra em frente a propriedade e fizeram uma enorme festa na rua, ao som de cantos como "Olê, olê, olê, olê, Diego, Diego".
"Não existe mais o Obelisco, o lugar de comemoração vai ser aqui", garantiu García, orgulhoso da aquisição. Afinal, para ele e para muitos, Maradona está lá, fazendo sua parte para ajudar a seleção albiceleste. "Estou muito emocionada. Eu tocava toda hora nessa faixa com a imagem do Diego com o troféu e pedia 'por favor, por favor', para dar sorte. Foi muito sofrido, mas ele estava aqui com a gente, ele sempre esteve nesta casa", concluiu Lucía Díaz Casteli, 51, artista plástica e moradora daquele quarteirão, após acompanhar o jogo da casa do ídolo, do qual sempre se orgulhou de ser vizinha.
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