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Folga e famílias: Marrocos subverte a lógica em campanha histórica na Copa

Hakimi, lateral de Marrocos, beija a mãe depois da vitória sobre a Bélgica - Fadel Senna/AFP
Hakimi, lateral de Marrocos, beija a mãe depois da vitória sobre a Bélgica Imagem: Fadel Senna/AFP

Do UOL, em Doha (Qatar)

14/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

O técnico brasileiro Vanderlei Luxemburgo criou um termo que transcendeu o futebol: "pijama training". É o que ele dizia para quando seus jogadores precisavam de repouso e descanso e não de mais carga de treinos. Na Copa do Mundo do Qatar tem uma seleção que é líder do pijama training: Marrocos, que disputa uma das semifinais hoje (14), às 16h (de Brasília), contra a França.

Desde o começo do torneio, os marroquinos tiveram cinco dias de folga geral, ou seja, sem qualquer atividade em campo ou na academia do CT. A seleção brasileira durante sua participação já encerrada nas quartas de final, por exemplo, não deu dia livre para os jogadores e treinou em campo nem que fosse só com reservas todos os dias em que não teve jogos para disputar. Os outros três semifinalistas tiveram só um dia livre ao todo.

Os dados sobre treinos e folgas são disponibilizados pela Fifa e mostram que Marrocos chegou a ter dois dias seguidos sem atividades logo depois de eliminar a Espanha nas oitavas de final — é a única seleção que teve esse benefício até agora. Depois de tirar Portugal nas quartas, mais um dia off.

O pijama training não é a única estratégia fora do convencional que Marrocos usa nesta Copa do Mundo. Frequente tema de debate no futebol brasileiro, o acesso das famílias ao dia a dia dos jogadores é totalmente liberado na seleção africana.

A pedido do técnico Walid Regragui, a federação de futebol marroquina e o ministério do esporte financiaram as viagens de um grupo de até cinco familiares por jogador, segundo ouviu o UOL Esporte. Viagem e hospedagem, tudo pago. E tudo isso no mesmo hotel do time, o Wyndham Doha West Bay, numa das áreas mais centrais de Doha. É comum ver jogadores e seus familiares circulando pelo hotel ou fazendo refeições nos restaurantes da capital nos dias de folga.

Essa relação familiar ficou mais clara quando jogadores da seleção marroquina decidiram interagir com familiares após os jogos. A imagem do astro do PSG Hakimi recebendo um beijo e um beliscão na bochecha da mãe foi a primeira que repercutiu. Depois, o próprio técnico Regragui viralizou beijando o rosto da mãe, o meia Boufal levou a mãe e o goleiro Bono o filho para dentro do gramado, onde brincaram sorridentes.

"Meus pais e minha esposa estão aqui, acho que todos os outros jogadores têm família aqui também. Depois dos jogos confraternizamos e isso é fantástico, nos dá força que vamos tentar usar nos próximos jogos", elogia o meio-campista Ilias Chair.

Marrocos - Reprodução - Reprodução
Jogadores de Marrocos em momento de descontração no hotel durante a Copa
Imagem: Reprodução

É exatamente esse o clima que Regragui queria quando decidiu liberar totalmente o acesso das famílias à seleção. Ele chama de "energia positiva" e tem consciência de que essa foi sua grande missão ao ser contratado pela seleção marroquina há apenas quatro meses.

Aí está outro elemento totalmente fora do padrão da formação do grupo de Marrocos para a Copa do Mundo: a contratação de um técnico tão perto do torneio. A seleção era comandada pelo bósnio Vahid Halilhodzic há três anos, mas ele entrou em rota de colisão com Ziyech, o melhor jogador do país, que defende o Chelsea, e com Hakimi, a outra grande estrela. A ameaça é que eles ficassem fora da Copa em razão desse conflito aberto com o treinador.

Mesmo às vésperas do torneio, a seleção decidiu trocar de técnico e contratou Regragui com a missão de fazer o máximo para unir as estrelas e levar para campo o time mais competitivo possível. Numa campanha fora dos padrões, nem o mais otimista dos torcedores imaginava a chance de disputar a semifinal do maior torneio do mundo. A Argentina já espera seu adversário.