Fifa previu uma Copa dos pontas, mas meio-campo é setor decisivo no Qatar
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A Fifa e seu grupo de estudos, formado por ex-jogadores que analisam as tendências táticas e técnicas da Copa do Mundo, esperavam que o Qatar consagrasse jogadores ofensivos, que atuam pelos lados. O protagonismo no Qatar, no entanto, tem se espalhado por outras vias.
Arsène Wenger, chefe de desenvolvimento de futebol da Fifa, chegou a dizer que a seleção que venceria a Copa seria aquela com os melhores pontas. Mas independentemente do resultado da final entre Argentina e França, no domingo (18), a percepção é do reforço da relevância e talento de quem preenche a faixa central das principais seleções do mundo.
Mesmo que Kylian Mbappé decida o jogo final, o que se viu nos campos do Qatar ao longo do último mês não foi bem a consagração do pessoal que joga pelas extremidades. Há força no meio-campo tanto nas finalistas Argentina e França, quanto em uma das zebras, a Croácia.
No lado argentino, o enredo geral ressalta o desempenho de Messi em seu último desfile em Copas do Mundo. Faz tempo que o camisa 10 deixou de ser ponta e hoje ele também não joga como falso 9. Messi é um construtor de jogo avançado, tendo o suporte de um meio-campo reforçado e alimentando o iluminado atacante Julián Álvarez.
"Messi é o porta-bandeira da qualidade nesta Copa do Mundo", resumiu Alberto Zaccheroni, ex-técnico italiano que é membro do grupo de estudos da Fifa.
Por mais que o jogo argentino às vezes se valha do suporte dos laterais, como foi na classificação diante da Holanda, o molho é dado pelo meio-campo. Prova disso é a diferença de desempenho quando Enzo Fernández virou titular. A entrada de Mac Allister depois da derrota na estreia para a Arábia Saudita também foi relevante.
Paralelamente, o técnico Lionel Scaloni não fez questão de usar Di María na maior parte do tempo — principal jogador argentino para o lado de campo - mesmo quando ele estava em melhores condições físicas.
Segundo números da plataforma Footstats, Messi lidera a estatística de finalizações na Copa. Foram 15 certas e 12 erradas (total de 27). O francês Mbappé tem 11 certas e 13 erradas (total de 24). O craque argentino também é um dos líderes de assistências — foram três. Além disso, deu o último passe para 15 finalizações dos companheiros.
Esse quesito serve como cartão de visitas para iluminar o papel de outro protagonista francês nesta Copa — e que não joga pelas pontas: Antoine Griezmann.
Eleito melhor em campo na semifinal contra Marrocos, Griezmann também tem três assistências na Copa e deu passe para 14 conclusões de colegas de time. Para além dos números, basta olhar alguns minutos dos jogos da França para ver como a construção do time gira em torno dele.
Antes atacante, Griezmann se adaptou para suprir as lacunas deixadas pelas lesões pré-Copa na seleção francesa. O setor de meio-campo da França também tem em Tchouaméni, autor de um dos gols nas quartas diante da Inglaterra, outro nome relevante. E olha que Kanté e Pogba não vieram ao Qatar.
"É um jogador top. Ele está mostrando nessa Copa do Mundo toda a qualidade que tem", disse Tchouaméni sobre Griezmann, após a vitória sobre a seleção marroquina.
O que faltou para o Brasil
Olhando para a fase anterior, as quartas de final, o meio-campo foi o fiel da balança no embate entre Brasil e Croácia. Tite chegou à Copa do Mundo apostando na linha do que a Fifa pregou. Tinha tudo para ser a Copa dos pontas. Um torneio no meio da temporada europeia envolveria jogadores em plena forma. Com os jovens de "perninhas rápidas", a seleção brasileira parecia promissora. Mas a realidade no Qatar foi diferente.
O jogo da eliminação, contra a Croácia, foi a exposição máxima da dificuldade brasileira de ter as rédeas do meio-campo. O tripé formado por Modric, Brozovic e Kovacic fez com que o controle do jogo fosse croata - a ideia era obstruir o Brasil, sem necessariamente gerar tanto volume ofensivo. Bastou um contra-ataque certo para levar o jogo para os pênaltis. Casemiro, que até fez boa Copa, não deu conta, ao lado de Paquetá. E aí, o Brasil caiu.
Na coletiva mais recente do grupo de estudos da Fifa, os ex-jogadores envolvidos perceberam, inclusive, que os pontas não estão guardando posição nas extremidades.
"Vemos uma tendência. Nessa Copa, ainda que os pontas sejam grandes nomes, como Mbappé, Dembelé ou Phoden, eles estão flutuando. Não estão mudando de lado, simplesmente", avaliou o ex-atacante alemão Jürgen Klinsmann, que é o "capitão" do grupo.
O segundo gol da França diante do Marrocos tem muito disso: a capacidade de Mbappé criar perigo quando está na faixa central, driblando e entrando na área em velocidade.
Outra ponderação dos analistas da Fifa é que a criação pelos lados têm aumentado a relevância dos centroavantes. Com modelos diferentes de jogo, França e Argentina, de fato, têm dois camisas 9 que foram cruciais ao longo da campanha: Giroud e Julián Álvarez.
Independentemente se da ponta ou do meio, alternativas não faltam para a construção de um bom espetáculo na final de domingo.
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