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ANÁLISE

França prova do seu veneno e é derrotada pela própria cabeça após reagir

Didier Deschamps, técnico da França, durante a final da Copa do Mundo - Paul ELLIS / AFP
Didier Deschamps, técnico da França, durante a final da Copa do Mundo Imagem: Paul ELLIS / AFP
Gabriel Carneiro, Igor Siqueira, Pedro Lopes, Danilo Lavieri e Rodrigo Mattos

Do UOL em Doha

18/12/2022 15h11

Classificação e Jogos

Durante a maior parte da Copa, a França foi letal mesmo quando tinha pouco controle de bola ou era dominada. Era um time cerebral, que vencia em cenários difíceis. Na final diante da Argentina, o time foi dominado quase sem chutar a gol, teve de reinventar, reagiu duas vezes... mas acabou derrotado pela própria cabeça de seus jogadores na disputa de pênaltis.

A formação francesa tem três homens no meio-campo, dois pontas abertos, Demebele e Mbappé, para explorar as transições rápidas. A intenção é que os jogadores façam pressão sobre o meio rival, recuperem e contra-ataquem. Foi assim que bateu Marrocos e Inglaterra só com 35% de posse de bola.

Mas Scaloni resolveu espelhar o esquema francês. Em vez de quatro no meio, abriu Di Maria em uma ponta para acompanhar Messi e Julian Alvarez no ataque. Com duas jogadas pelas pontas, fez dois gols e dominou completamente a equipe europeia.

O segundo tento mostrou que Deschamps provou de seu próprio veneno. Foi uma bela jogada coletiva argentina. Upamecano erra o passe, a Argentina recupera e sai em velocidade, toquinho de Messia para Mac Allister aberto na direita servir Di Maria.

Defensivamente, a Argentina marcava com uma linha de quatro jogadores, com De Paul e Molina bloqueando o forte lado francês com Mbappé e Theo Hernandez.

Deschamps foi obrigado a mudar ainda no primeiro tempo com as saídas de Giroud e Dembele por Thuram e Kolo Mouani. Seu objetivo era bloquear as jogadas da Argentina pelas pontas. Centralizou mais Mbappé. Suas substituições contiveram os argentinos, e o time reagiu quando os rivais cansaram.

A primeira conclusão a gol só veio aos 23min do segundo tempo (68min) no total em cabeçada fraca do primeiro. Mas os espaços surgiam, enfim, para o craque francês

No período de dois minutos, Mbappé empatou o jogo justamente nas costas dos defensores argentinos. Primeiro, Kolo Mouani sofreu pênalti de Otamenti. Depois, tabelou e serviu Mbappé para o segundo tento. Em quatro arremates, a França fez dois gols.

A partir daí, a França passou a mostrar uma nova face. Na prorrogação, Deschamps arriscou tudo com quatro atacantes. As mudanças otornaram o jogo vertiginoso.

De novo, a Argentina conseguiu uma jogada com enfiada em profundidade, nas costas do zagueiro, como era a fórmula francesa. Messi completou para o gol depois do arremate de Lautaro. Um novo pênalti do outro lado, e Mbappé fez o segundo. Kolo Mouani, aposta de Deschamps, era um dos nomes do jogo. Só que ele perdeu a chance de matar a partida no lance final.

Na disputa de pênaltis, a França se deixou afetar pelo jogo mental do goleiro Dibu Martinez, conhecido por suas fanfarronices e por ser pegador de cobranças. Se Mbappé não vacilou, Coman chutou à meia altura para ele pegar. Depois, o goleiro ainda fez um carnaval antes da batida de Tchouameni, que chutou mal, para fora.

A França cerebral saia do eixo e perdia o bicampeonato consecutivo.