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ANÁLISE

Grito de 'olê' antes da hora antecipa drama argentino e quase vira tragédia

Torcida da Argentina se empolgou e menosprezou a França no meio do segundo tempo - REUTERS/Carl Recine
Torcida da Argentina se empolgou e menosprezou a França no meio do segundo tempo Imagem: REUTERS/Carl Recine

Do UOL, em Doha (Qatar)

18/12/2022 17h12

Classificação e Jogos

Foram 76 minutos da tradicional cantoria, 76 minutos de braços erguidos no movimento de alento, 76 minutos de apoio incansável. Mas no minuto 77, aos 32 do segundo tempo, a torcida argentina vacilou. Ganhando de 2 a 0 na final da Copa do Mundo, vislumbrou a terceira estrela no peito e começou a gritar olé quando o time tocava a bola.

Olé, caso algum extraterrestre tenha chegado à Terra neste exato momento e ainda não tenha se inteirado, é o que se grita quando seu time está goleando um adversário totalmente dominado.

Naquele momento, gritar olé parecia fazer sentido: a final da Copa tinha sido totalmente argentina até ali, os franceses não haviam chutado nenhuma vez ao gol, e Mbappé vagava sem rumo no gramado, perdido.

Mas do ponto de vista da superstição, ou do que os argentinos chamam de cábala, foi um passo em falso em direção ao abismo. Três minutos depois, o francês Kolo Muani se estendia na grande área, o juiz marcava pênalti e Mbappé diminuía. Mais dois minutos para o artilheiro da Copa empatar a partida.

Com cábala não se brinca, as abuelas argentinas devem ter pensado. Não se canta olé antes da hora, todos sabem — ou deveriam. Na arquibancada, vários torcedores organizados, acostumados a balançar os braços pra cima e pra baixo, levaram as mãos à cabeça e ficaram em silêncio, incrédulos com o que se passava no gramado.

O olé precipitado ecoava nas paredes da memória, e o drama estava armado, esperando o desenlace. Mais uma derrota em final de Copa, a quarta? Quantos tangos escreveremos sobre isso? Do outro lado, os franceses, em menor número e sempre menos animados, se fizeram ouvir mais alto pela primeira vez.

O 3 a 3 ao final da prorrogação transformou os 120 minutos de Doha na maior final de Copa de todos os tempos.

Não dá pra saber em que momento a sorte voltou a convergir para o lado azul celeste da arquibancada. Pode ter sido nos pênaltis. Na segunda cobrança dos franceses, os mesmos lábios que naquele tempo distante entoaram olé agora vaiavam o meia Aurélien Tchouaméni. O goleiro Martínez, talvez sentindo a sorte mudar, pediu para as vaias aumentarem. A pressão sobre os ouvidos do francês desceu ao pé direito, que chutou a bola em direção da arquibancada, longe do gol.

Foi o segundo pênalti perdido pela França, o que levou os argentinos para mais perto do que nunca de sua terceira estrela. Aquela que Maradona não alcançou em 1990 e que Messi deixou escapar em 2014, agora nos pés de Gonzalo Montiel, do Sevilla. Quando o lateral correu pra chutar o último pênalti, as arquibancadas estavam em silêncio, esperando.

Porque como toda abuela sabe, não se grita gol nem se canta olé antes da hora.