Copa perseguiu arco-íris, e torcida LGBT reagiu com silêncio e discrição
Classificação e Jogos
A Copa do Mundo mais conservadora das últimas décadas promoveu uma perseguição às cores do arco-íris, que representam o orgulho LGBTQIA+. Bandeiras, camisetas, braçadeiras e pulseiras coloridas foram vetadas dos estádios. Torcedores e jornalistas foram constrangidos a se despir de qualquer alusão à causa, mesmo remota.
- O jornalista americano Grant Whal foi detido e impedido de entrar no estádio Ahmed Bin Ali por usar uma camiseta com um arco-íris.
- O torcedor Brian Davis, também americano, foi retirado agressivamente da arquibancada do Al Thumama por usar uma braçadeira com o arco-íris.
- Os capitães de sete seleções, incluindo Harry Kane, da Inglaterra, foram ameaçados com punições da Fifa caso entrassem em campo com braçadeiras da campanha One Love, que defende os direitos LGBTQIA+.
- O jornalista brasileiro Victor Pereira teve uma bandeira de Pernambuco confiscada no estádio Lusail. A bandeira de Pernambuco mostra um arco-íris, mas não faz alusão ao movimento.
- O influenciador brasileiro Toguro precisou se desfazer de uma pulseira colorida para entrar no estádio 974.
O que está por trás da perseguição às cores LGBTQIA+?
No Qatar, a homossexualidade é crime punível com pena de morte em alguns casos, e as autoridades do país pressionaram a Fifa a proibir manifestações pela diversidade durante a Copa. A proibição surtiu efeito, e não houve protestos organizados e eloquentes.
Como os torcedores LGBTQIA+ reagiram?
Aparentemente a maioria seguiu a determinação de não demonstrar afeto em público e não vocalizar qualquer descontentamento diante da homofobia do Estado. Alguns demonstraram medo de serem reprimidos e outros preferiram não tocar no assunto abertamente. A reportagem tentou contato com torcedores e influenciadores que pertencem à comunidade LGBTQIA+ e estão ou estiveram no Qatar durante a Copa, mas nenhum quis falar sobre sua experiência no país.
O que o Qatar disse sobre torcedores gays?
"Nós esperamos e queremos que as pessoas respeitem nossa cultura", disse o emir Tamim bin Hamad al-Thani, o ditador que comanda o país, ao ser questionado em 2020 sobre a presença de torcedores gays na Copa. Khalid Salman, um ex-jogador de futebol do Qatar e garoto-propaganda do Mundial, afirmou em entrevista, em novembro, que a homossexualidade é um "dano na mente".
O que a Fifa disse sobre o assunto?
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, deu declarações controversas sobre à perseguição à comunidade LGBTQIA+ no Qatar. Na véspera da abertura da Copa, ao tentar se defender de críticas à leniência da Fifa diante das violações de direitos humanos no país-sede, o italiano, que é hétero, afirmou que se "sentia gay" e que sabia o que era sofrer preconceito por ter sido uma criança ruiva e de sardas.
Na semana passada, Infantino voltou a defender a proibição de protestos pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ durante os jogos: "Estamos defendendo o direito de todos. Todos os torcedores têm seus problemas. Talvez o que eles querem seja só passar 90 ou 120 minutos focados apenas na maravilha que é o futebol."
Protestar por mais diversidade seguirá proibido no futebol?
Não. Jogadores, torcedores e outros profissionais devem ter mais liberdade para demonstrar apoio à causa LGBT agora que a Copa do Qatar acabou. O veto da Fifa ao arco-íris parece ter sido mesmo uma concessão ao conservadorismo do país-sede e deve ser derrubado em outras competições. A Uefa, que cuida dos torneios europeus, já demonstrou apoio aos protestos dos atletas. No Brasil, as ações em favor de mais inclusão devem seguir nos clubes, a exemplo do Vasco, que lançou um uniforme com as cores do arco-íris.
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