Em livro, presidente do Barcelona revela bastidores do penta

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

  • EFE/Andreu Dalmau

    Sandro Rosell conta histórias da conquista da seleção brasileira no Japão

    Sandro Rosell conta histórias da conquista da seleção brasileira no Japão

O atual presidente do Barcelona, Sandro Rosell, viu de perto a conquista do Pentacampeonato da seleção brasileira, que completa dez anos neste sábado. Na época executivo da Nike, o dirigente esteve com a delegação durante todo o tempo na campanha no Japão e na Coréia.

Em um livro de memórias, lançado na Espanha no ano de 2010 e reeditado em 2012, Rosell dedica um capitulo às suas lembranças do título do Brasil. Histórias como a do momento em que Felipão desistiu de convocar Djalminha e a de uma balada na Coréia onde um atacante - não revelado pelo autor - ganhou o apelido de "craque", passando pelos bastidores da relação entre a CBF e a imprensa. O livro "Bienvenido al mundo real" nunca foi lançado no Brasil.

Mesmo após deixar a Nike, Rosell seguiu próximo ao ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. No livro, o dirigente catalão classifica o brasileiro como um "amigo de verdade" e revela ter sido seu padrinho de casamento. Rosell é o proprietário da empresa Ailanto, suspeita de desviar recursos do amistoso entre Brasil e Portugal em 2008, custeado pelo governo do Distrito Federal por R$ 9 milhões. 

Confira trechos do livro:

Pacto com a Globo

A pressão mediática que uma seleção como a do Brasil suporta durante um Mundial é impressionante e isso transforma a relação com a imprensa um tema muito delicado. Quando chegou à seleção, Scolari não tinha uma relação muito boa com a Globo por problemas nascidos quando ele era técnico do Grêmio de Porto Alegre e do Palmeiras. Quando foi escolhido treinador, a imprensa o via como um partidário da disciplina tática, o futebol rígido, tudo muito diferente do que todo mundo considera que deve ser o jogo da "seleção canarinho".

  • Reprodução

    Livro inédito no Brasil tem histórias do penta

Quando ainda disputava as eliminatórias, afirmou que o Brasil precisava fazer mais faltas. Isso deixou a relação com a imprensa ainda mais tensa. Na preparação para o Mundial, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma nota com a informação de que os jogadores receberam um kit com revistas pornográficas para que eles pudessem suportar o período de castidade, que Felipão queria impor. Scolari reagiu, primeiramente, de forma irada, pela falsidade da informação, mas depois seguindo os conselhos de Rodrigo Paiva – chefe de imprensa da CBF – convocou os jornalistas para uma conversa informal. Pediu para que eles desligassem os gravadores e as câmeras e que conversassem como amigos. Disse que a informação dos tais kit sexos era falsa e que isso denegriu moralmente a seleção e pediu que o trabalho fosse feito de forma séria pelos jornalistas.

Rodrigo Paiva e Ingo Ostrovski decidiram conjuntamente com Scolari se apoiar na Globo para ganhar o Mundial. Felipão recomendou aos jogadores que não lessem os jornais. Ao mesmo tempo pediu à Globo imagens das celebrações dos torcedores no Brasil para mostrar aos atletas. Antes de cada jogo, um vídeo com essas imagens era editado e mostrado aos jogadores.

Convite para Felipão

Um dia perguntei a Ricardo Teixeira se ele não havia pensado em Scolari. "Sim, várias vezes. Falei com ele antes de contratar o Leão e ele disse não", me respondeu.

Depois acrescentou: " Por que você não vai falar com ele? Você diz que eu gostaria de contar com ele na seleção. Diga-o que é a pessoa que quero, mas que temo que ele volte a negar o pedido."

Na manhã seguinte entramos em contato com Gilmar Veloz, seu agente, e marcamos um encontro com Scolari em Belo Horizonte. Conversamos por algum tempo e expliquei porque estava lá. Ele respondeu: Bom, está bem. Se Teixeira me chama outra vez, claro que irei escutar o pedido".

Depois de pouco tempo, Ricardo o convidou para uma almoço na sua fazenda – ele tem uma fazenda linda a uma hora de carro do Rio de Janeiro – e chegaram a um acordo.

 Djalminha cortado

Quando vinha ao Rio de Janeiro, Scolari jantava e dormia na minha casa algumas vezes. Um dia me ligou para dizer que já havia feito a lista dos 23 jogadores para a Copa do Mundo e queria me mostrar. Quando chegou a minha casa, lembro que estávamos na sala e liguei a televisão no canal da TVE Internacional. Foi justamente neste momento que foi exibida uma reportagem com a cabeçada que Djalminha deu no seu técnico Irureta. Ficamos paralisados e Scolari se levantou e disse: "P.. que pariu! Acaba de cair um dos meus jogadores. Já não posso convocá-lo, como vou chamar um jogador que faz isso com seu técnico, um colega meu". Ali, na minha casa, Djalminha caiu da lista e se incorporou Kaká, na época no São Paulo.

Na balada com o time do penta

Na Coréia do Sul, Rosell conta que foi a uma festa em uma discoteca com os jogadores da seleção brasileira. Ele e outros funcionários da Nike organizaram vans para levar os atletas, tudo com o consentimento de Scolari.

De repente, no camarote da boate, um dos jogadores, um dos principais craques do time, me indicou uma garota que estava na pista. Queria baixar para buscá-la. Disse que teríamos problema com o publico, formado por asiáticos loucos pela seleção brasileira que iria atacá-lo.

Mandamos um garçom convidar a moça. E ela subiu. Sem perder tempo, ela e o artilheiro foram a um canto do camarote. De repente gritos seguidos de gemidos surgiram do local: "Sim, que homem. Sim, que homem". Todos riram. E o artilheiro passou a ser chamado de verdadeiro craque e sempre lembrado pela história.

 

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