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Luiza Oliveira/UOL

Funcionário do estádio há 40 anos, Luizão acompanhou fatos históricos do futebol

27/04/2010 - 07h03

Celebridade do Pacaembu, Luizão é contra mando do Corinthians e corneta Neymar

Luiza Oliveira
Em São Paulo

"Luizão do Pacaembu" não carrega o nome à toa. Funcionário do estádio há quatro décadas, mal consegue circular sem ser solicitado com a segurança de quem conhece o local de trabalho como a palma da mão. Ele já até reclama da fama de celebridade adquirida, apesar de ela ter lhe dado a tarimba para questionar o jovem Neymar, a relação com o Corinthians e até para se candidatar a deputado.

Sua vida se confunde com a história do Pacaembu, onde passou 41 de seus 63 anos. Chegou como limpador de banheiros em 1969 e hoje como assistente da direção ‘cuida de tudo’, como ele próprio diz. E é por isso que se sente a vontade para falar o que pensa.

LUIZÃO SE CANDIDATOU A DEPUTADO

  • Com tanta popularidade, Luizão seguiu o conselho e incentivo de amigos envolvidos com a carreira política e decidiu se candidatar a deputado estadual em 1995. A experiência, no entanto, não o agradou.

    Com pouco mais de 900 votos, não conseguiu se eleger e disse que se arrependeu ainda no período da campanha. Agora ele garante que a vida pública não está mais em seus planos.

    “A política é uma sujeira. Você tem que enganar as pessoas para se eleger. Fala algo com um aqui e na mesma hora o oposto com outro ali. Tem que prometer o que não pode. E isso eu não faço.”

Mesmo corintiano declarado, Luizão é contra o clube do Parque São Jorge assumir o poder do estádio por considerá-lo um patrimônio da cidade. “Isso aqui é de todo cidadão paulistano. Não pode um clube só pegar para ele. É do Juventus, do Nacional, do Palmeiras. Sou corintiano, mas sou mais o meu trabalho. Sei separar muito bem as coisas”, disse.

Luiz Afonso de Andrade é testemunha ocular da história do futebol brasileiro e percebeu mudanças ao longo desses 40 anos, principalmente em relação aos jogadores. Entre os que considera ‘verdadeiros craques’ e acompanhou de perto há uma seleta lista que vai de Romário, Leônidas da Silva, Ademir da Guia, Garrincha, a principalmente Rivelino, seu maior ídolo. Da maior parte, se orgulha de ter sido amigo.

Hoje a história é bem diferente. “Jogador virou estrelinha e é blindado, tem assessor, empresário. Até a educação é diferente. Domingo mesmo, o Neymar saiu do jogo machucado e fui perguntar se precisava de algo. Ele disse: ‘obrigado tio, precisa de nada não’, mas gente sente o distanciamento.”, afirmou, referindo-se à lesão no olho direito sofrida pelo atacante na primeira partida da final do Paulista contra o Santo André.

Mas nada abala Luizão, que já é mais conhecido que muito jogador pela sua trajetória no Pacaembu. O funcionário admite que a fama até o atrapalha. Certa vez, sua conta em uma churrascaria foi paga sem que ele soubesse. Em outra ocasião uma pessoa se jogou na frente do carro com um jornal com sua entrevista. Comumente lembrado nas ruas, vê o lado bom, mas garante: “Não gosto dessa fama que ganhei. A gente perde a privacidade”.

Após ser candidato a deputado estadual e desistir da vida política, ele traça planos para voltar a estudar após os 12 cursos profissionalizantes e a interrupção da faculdade de engenharia metalúrgica no segundo ano. Ciente de que a carreira não é para sempre espera encontrar seu sucessor para coordenar o estádio.

Mas enquanto não aparece prefere continuar se dedicando ao lugar que impulsionou sua vida e o ajudou a criar os quatro filhos já crescidos. O Pacaembu foi onde viveu momentos inesquecíveis como lances dos craques do passado e recentemente o acesso do Corinthians à Série A. Mas também passou apertos.

As horas mais difíceis foram nas duas vezes em que viu sua segunda casa virar um campo de guerra: na derrota do Corinthians para o River Plate pela Libertadores de 2006 e na final da Supercopa São Paulo de Futebol Júnior, em 1995, entre Palmeiras e São Paulo que teve um saldo de 101 feridos e um morto.

Em ambas as ocasiões esteve no campo e precisou superar o medo para trabalhar. Em 2006, mandou trancar com cadeado os jogadores no vestiário para ficarem protegidos da torcida. Em 1995, não pode fazer tanto, mas ordenou que os portões fossem fechados em setores para separar as torcidas.

Este episódio, apontado como o mais difícil, é lembrado com pesar e até certa emoção em uma das poucas vezes em que Luizão não sorri. “O piscinão estava em reforma e o estádio estava cheio de paus e pedras. O policiamento não estava preparado e ainda tinha um jogo do Corinthians à tarde. Falamos com o secretário que não tinha condições de fazer o jogo, mas ele mandou fazer. Deu no que deu”, disse.


 

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