UOL Esporte Futebol
 
29/05/2010 - 07h04

Tropeços, brigas e convicções rígidas marcaram passagem de Fossati pelo Inter

Daniel Cassol e Jeremias Wernek
Em Porto Alegre
  • Daniel Cassol/UOL Esporte
  • Neco Varella/Freelancer
  • Jeremias Wernek/UOL Esporte

    No Inter desde 4 de janeiro, Jorge Fossati já teve cargo ameaçado mais de uma vez. Nesta sexta, após a derrota para o Vasco no Rio, desembarcou em Porto Alegre praticamente demitido do cargo.

Com um aproveitamento de 60,6% e deixando o Internacional nas semifinais da Libertadores, o técnico Jorge Fossati foi demitido nesta sexta-feira pela direção do clube. Os maus resultados no Brasileirão, os sustos na Libertadores e as dificuldades de adaptação ao ambiente do Beira-Rio foram determinantes para sua saída.

Na prática, Fossati balançava desde a partida contra o Estudiantes, na Argentina. Apesar da classificação, os dirigentes do Inter estavam descontentes e até foram flagrados por repórteres reclamando do treinador, durante o intervalo do jogo em Quilmes. Fossati já havia sido criticado pelo desempenho do time diante do Banfield, nas oitavas de final, quando atuou com três zagueiros e mesmo assim sofreu 3 a 1, precisando reverter o placar no Beira-Rio. Rígido nas suas convicções, Fossati acabou sucumbindo às críticas à atuação da equipe na Libertadores, mesmo classificado às semifinais. As três derrotas em quatro rodadas do Brasileirão terminaram por selar o destino do treinador uruguaio.

Disciplinador e experiente

Jorge Fossati foi anunciado pela direção do Inter no dia 13 de dezembro de 2009. O Inter foi atrás do uruguaio, basicamente, por dois motivos principais: a fama de treinador disciplinador e a experiência em competições sul-americanas. Com passagens por Peñarol, Cerro Porteño e seleção do Uruguai ao longo dos 20 anos de carreira como treinador, Fossati havia acabado de conquistar a Copa Sul-Americana com a Liga Deportiva Universitária (LDU), do Equador. Era o técnico ideal para um time que buscava nos vizinhos uruguaios e argentinos a experiência necessária para chegar ao bicampeonato da Libertadores.

Logo na pré-temporada da equipe, em Bento Gonçalves, Fossati e sua comissão técnica, formada por outros três compatriotas, apresentaram a nova metodologia de trabalho no Inter. Nos treinos físicos, a bola sempre estava presente, algo incomum entre preparadores brasileiros. Em campo, Fossati apostava no rígido esquema com três zagueiros e um atacante.

As novidades animaram a direção. Tanto é que, no dia 25 de janeiro, o diretor de futebol Fernando Carvalho se disse “positivamente impressionado” com o trabalho do uruguaio. “Fossati introduziu a bola em todas as etapas do treinamento. E é uma pessoa muito clara, posicionada. Estamos positivamente impressionados com ele”, afirmou o dirigente.

OS NÚMEROS DE JORGE FOSSATI NO INTER

  • 33

    JOGOS

     

  • 18

    VITÓRIAS

     

  • 6

    EMPATES

     

  • 9

    DERROTAS

     

  • 60,6%

    APROVEITAMENTO

     

Primeiros tropeços

O primeiro resultado positivo veio no clássico Gre-Nal, vencido pelo Inter, por 1 a 0. Na sequência do Campeonato Gaúcho, porém, o time ficou de fora da final do primeiro turno, pela decisão de poupar os titulares para a disputa da Libertadores. No returno, viveu a primeira crise ao ser goleado pelo São José, por 3 a 0. Naquela noite de 24 de março, a direção do Inter ouviu os primeiros pedidos de demissão do treinador. Na final do Gauchão, a perda do título para o Grêmio foi amenizada pela vitória no Olímpico na segunda partida da final.

Na Libertadores, o time de Fossati demorou a engrenar e foi criticado por não conseguir vencer fora de casa, ocasiões em que o treinador adotava uma postura cautelosa, na maioria das vezes atuando com três zagueiros e apenas um atacante. A dura classificação para as semifinais, diante do Estudiantes, sintetizou a estratégia do treinador colorado. Após uma vitória apertada em casa, por 1 a 0, o Inter sofreu dois gols do Estudiantes no início da partida, mas Fossati só desfez a linha de três zagueiros no final – quando Giuliano entrou em campo e marcou o gol da classificação. A organização tática acima de tudo, prescrevia o treinador.

Ao final da partida contra o Estudiantes, Fossati se irritou com a pergunta de um repórter, que questionou por que o Inter havia enfrentado tantas dificuldades: “O quê? Você não gostou do time? Esse baixinho só quer me tirar do sério!”, esbravejou, referindo-se ao autor da pergunta.

Neco Varella/Freelancer
O que nunca vivi não é a pressão, mas sim a cobrança, o nervosismo e a ansiedade. Além do tipo de cobrança de parte da torcida com jogadores e treinador. O que percebo na cultura geral do jornalismo daqui é a leitura negativa.

JORGE FOSSATI, ex-técnico do Inter

Esta foi mais uma das marcas da passagem de Fossati pelo Beira-Rio. Mais de uma vez, Fossati se mostrou desconfortável com as cobranças da imprensa, algo que confessou também a pessoas próximas. "Eu até pensei que tinham tirado do dicionário a palavra parabéns, pois escutei só duas ou três vezes aqui", lamentou Fossati, em entrevista ao UOL Esporte no seu apartamento, no último dia 12.

Por diversas vezes, encerrou as entrevistas coletivas abruptamente, irritado com perguntas, chegando a tentar brigar fisicamente com um repórter. Em entrevistas, afirmava que poderia repensar sua permanência do Inter durante o recesso da Copa do Mundo. Além dos problemas com a imprensa, Fossati citava sempre o apertado calendário brasileiro, que limitava o tempo dos treinamentos.

Problemas no grupo

Mesmo classificando o Inter às semifinais da Libertadores, Fossati caiu por não fazer o time jogar como a direção gostaria. Os últimos maus resultados, a inflexibilidade em mudar o sistema tático e as opções equivocadas por determinados jogadores contribuíram para sua queda. No entanto, a direção admite que o problema do Inter não está apenas no treinador.

“Vejo o time jogando diferente em jogos de Libertadores e nos demais. Na Libertadores é muita entrega, vontade. No Brasileiro, o time vai em baixa rotação em muitos momentos”, afirmou um dirigente colorado nesta sexta, à reportagem do UOL Esporte.

Até a parada da Copa do Mundo, o Inter tem três partidas para sair da 18ª posição do Campeonato Brasileiro. Depois, serão cerca de 40 dias de preparação para os confrontos contra o São Paulo na Libertadores.
 

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