UOL Esporte Futebol
 
10/09/2010 - 08h11

Dividido, Grêmio começa processo eleitoral buscando união e fim da crise

Daniel Cassol
Em Porto Alegre
  • Neste sábado, sócios do Grêmio votam para renovar conselho, que escolherá próximo presidente

    Neste sábado, sócios do Grêmio votam para renovar conselho, que escolherá próximo presidente

Neste sábado, três chapas disputam o voto do torcedor gremista nas eleições para o conselho deliberativo, que terá a missão de escolher o novo presidente para os próximos dois anos. Em um clube dividido entre dois grandes grupos políticos e tendo como sombra um rival que coleciona títulos nos últimos quatro anos, o Grêmio tenta superar sua crise interna, pacificar a política e recuperar terreno no futebol.

A eleição deste sábado renovará 150 nomes do conselho, além de 30 suplentes. A cláusula de barreira é de 30%, o que significa que cada chapa terá de ultrapassar este mínimo de votos para eleger seus conselheiros. Em outubro, acontece a eleição para presidente, que passa pela mesma cláusula de 30% dentro do conselho, para depois ser submetido ao voto do associado. Cerca de 28 mil sócios estão aptos a votar.

Dois grupos polarizam a eleição. De um lado, a chapa liderada pelo ex-presidente Paulo Odone, que concorrerá à reeleição. Do outro, o grupo do atual presidente Duda Kroeff, tendo o respaldo de Fábio Koff, dirigente histórico do clube. Um terceiro grupo, formado por não-conselheiros, tenta superar o mínimo de 30% dos votos para fazer parte do futuro conselho deliberativo.

Em pauta, a necessidade de modernização da gestão do clube, que na visão de alguns seria prejudicada pela divisão política. “As gestões não são continuadas. Sai um grupo, entra outro. A tendência é de repetir esse modelo. Essa política prejudica a gestão e o futebol é reflexo disso”, afirma Marcos Almeida, que encabeça a nominata do grupo “Terceira Via”. “O clube não tem uma gestão continuada e profissional. E está dividido. O Grêmio ainda trabalha no plano do momento histórico em que poucas pessoas decidiam tudo”, critica o candidato a conselheiro.

As gestões não são continuadas. Sai um grupo, entra outro. A tendência é de repetir esse modelo. Essa política prejudica a gestão e o futebol é reflexo disso

Marcos Almeida, chapa "Terceira Via"

Gestão profissional

A última década não foi boa para o Grêmio. Depois do título da Copa do Brasil em 2001, o clube entrou em crise, naufragou com a falência da parceira ISL e caiu para a Série B em 2004. Recuperado, conseguiu chegar ao vice-campeonato da Libertadores, em 2007. Enquanto isso, viu seu rival se modernizar, conquistar 100 mil sócios, formar e vender craques e igualar as duas conquistas continentais e o Mundial Interclubes, crescendo no cenário internacional.

Para Eduardo Antonini, da chapa de oposição, a gestão profissional do futebol, a formação de atletas e a modernização do clube começaram na gestão de Paulo Odone, interrompida com a vitória de Duda Kroeff há dois anos. Ele critica as nomeações políticas para cargos que deveriam ser ocupados por profissionais dentro do clube.

“O Grêmio passou por um processo de profissionalização e democratização nos últimos anos, mas foi interrompido. Sempre foi um clube formador de atletas, mas parou de ser. Não temos a pretensão de dizer que fizemos tudo, mas avançamos bastante”, afirma Antonini, que lidera a chapa “Renova Tricolor”, cujo candidato a presidente é Paulo Odone.

O Grêmio passou por um processo de profissionalização e democratização nos últimos anos, mas foi interrompido

Eduardo Antonini, chapa "Renova Tricolor"

Entre as críticas de Antonini à atual gestão, estão a falta de profissionalismo nas categorias de base e a ausência de planejamento na montagem das equipes. Jogadores como Carlos Eduardo, Lucas, Anderson e Douglas Costa foram formados no Grêmio, que hoje não estaria investindo na formação de atletas. A direção estaria permitindo que cada treinador que chegue ao clube comande as contratações. “Não é o Renato, não é o Silas, não é o Paulo Autuori. Se eles fazem isso, alguma coisa está errada”, aponta.

Já Evandro Krebs, da chapa “Dá-lhe Grêmio”, de situação, não concorda que a gestão do clube tenha sofrido um retrocesso. “É um processo que vem sendo implementado há algum tempo e está avançando. Às vezes nos equivocamos no desejo de que estivesse mais avançado”, pondera. De acordo com Krebs, o Grêmio conseguiu implantar seu novo estatuto, vem conseguindo trabalhar com planejamento estratégico e instituiu um Conselho de Administração. As mudanças promovidas pela gestão de Duda Kroeff não teriam cunho político.

“O que houve foi simplesmente a substituição de algumas pessoas, que na avaliação dos gestores não estavam dando resultado necessário ou que por opção seguiram seus caminhos. É uma relação profissional, não tem qualquer participação política”, afirma.

Estamos próximos de atingir o equilíbrio político, mas isso tem que passar por um processo de sensibilidade das lideranças, por uma nova cultura política

Evandro Krebs, chapa "Dá-lhe Grêmio"

Democracia interna e ‘pacificação’

Um dos principais debates na eleição do Grêmio é a necessidade de ampliar a democracia interna do clube. E a primeira medida seria reduzir a cláusula de barreira nas votações – para uma chapa entrar no conselho deliberativo, precisa do mínimo de 30% do voto dos associados.

“A distorção é tão grande que podemos ter o seguinte quadro: duas chapas com 29% dos votos e sem cadeiras no conselho, e uma com 42% dos votos elegendo todos os conselheiros”, critica Marcos Almeida. Ele diz que o conservadorismo dos líderes políticos impede a maior participação de sócios no Grêmio. As três chapas defendem a redução para 20%.

A primeira eleição com voto do associado gremista foi a de 2004, que elegeu Paulo Odone. No entanto, esta é a primeira vez que a leva de torcedores que aderiu ao clube nos últimos anos, através dos programas de sócios, poderá votar. “A política está sendo mais discutida. É a primeira eleição na qual aquele grupo de sócios torcedores estará apto a votar”, diz Marcos Almeida, apostando nisso a entrada da “Terceira Via” no conselho.

Para Antonini, a chapa 3 cumpre o papel de tirar votos da oposição liderada por Paulo Odone. “O Grêmio tem uma divisão entre dois grupos. A eleição decide se vamos ter o Odone candidato a presente ou se o Duda vai se reeleger”, afirma.

DUDA NÃO VAI SE ENVOLVER

Marinho Saldanha/UOL Esporte
Avesso à política, presidente do Grêmio diz que não pretende se envolver nas eleições para o conselho deliberativo. Duda Kroeff ainda não definiu se concorrerá à reeleição. Situação diz que nomes serão discutidos depois.

Às vésperas da eleição, Duda Kroeff ainda não afirmou se será candidato à reeleição ou não, já que o nome de Fábio Koff está praticamente descartado, pelo próprio presidente gremista. Na última quarta, após a partida contra o Atlético-GO, ele declarou que não pretende se envolver com a eleição deste sábado.

Segundo Evandro Krebs, a atual situação não fala em nomes no momento. Passada a eleição deste sábado, procurará os demais grupos para discutir o lançamento de candidatura única. “Temos nomes muito fortes, quadros da maior qualidade, lideranças históricas e que estão surgindo. Mas antes de tomarmos uma decisão pela candidatura, vamos procurar os grupos que integram as outras duas chapas, para conversamos sobre a possibilidade de lançarmos uma candidatura só”, diz.

Um dos exemplos da divisão no Grêmio está no projeto da Arena, que começa a ser construída no próximo dia 20. Derrotado nas urnas, Paulo Odone foi retirado deixou a Empreendimentos, aumentando o racha entre os grupos políticos.

Krebs diz que a crise da ISL no início dos anos 2000 gerou um “trauma político” com reflexos ainda hoje na política interna do Grêmio. Aos poucos, aposta, o clube vem conseguindo diminuir as diferenças, tanto é que alguns dos 11 movimentos políticos se uniram nas atuais eleições.

Para Krebs, o Grêmio está próximo de atingir o equilíbrio político obtido pelo rival. “O Inter iniciou esse processo de democratização antes que o Grêmio, então naturalmente atingiram esse momento de equilíbrio mais cedo. Nós estamos próximos de atingir este momento de equilíbrio político dentro do clube, mas isso tem que passar por um processo de sensibilidade das lideranças, por uma nova cultura política”, destaca.

Placar UOL no iPhone

Hospedagem: UOL Host