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Alexandre Lops/AI Inter

Técnico quer seu time jogando no esquema atual, mas admite marcar mais na decisão

01/12/2010 - 07h00

Roth defende Renan, mantém esquema e revela tática para ganhar Mundial

Jeremias Wernek
Em Porto Alegre

O Internacional tem jogado com a cara de seu treinador. Pragmático, sem espaço para coisas diferentes. E seguirá assim. Celso Roth garante ter confiança em Renan, escolhido goleiro titular em um processo conturbado de seleção. Explica que sua equipe não mudará de esquema, mantendo o formato vencedor da Libertadores, comenta sobre a rivalidade Gre-Nal, seleção brasileira e dupla Rafael Sóbis e D’Alessandro, que pode decidir.

Em pouco mais de 25 minutos de bate-papo, Roth deposita inteira confiança em Renan, como não fizera até então. Admite, também, que deve orientar sua defesa a ter uma marcação especial na possível decisão com a Internazionale de Sneijder, Diego Milito e Eto’o. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o treinador do Internacional aborda todos os assuntos às vésperas da luta dos colorados pelo segundo título Mundial da Fifa, que começa na semifinal, em 14 dezembro. Confira a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: Você escalou pela primeira vez o seu time ideal para o Mundial contra o Vitória. Além do jogo com os baianos tem a partida com o Prudente. Não é pouco tempo para a equipe jogar junta e se tornar preocupante este caso?

Celso Roth: Não é preocupante. Os jogadores sabem muito bem a maneira e o jeito como vamos jogar. Não tenho dúvida que estes jogos são suficientes mesmo.

UOL Esporte: O Inter parte para o Mundial com uma desconfiança em cima do goleiro, o Renan. Como você vê essa questão dele ser titular e encarar todo este ambiente por parte da torcida e opinião pública?

Celso Roth: Por parte da comissão técnica não tem desconfiança. Não temos com o Renan ou qualquer outro, é exatamente ao contrário: confiança. O que existe em cima do Renan é a sequência de alguns desequilíbrios como para qualquer um, mas para o goleiro é fatal. Demos um tempo dando oportunidade aos outros. Fora do nosso rodízio pensado estava o Muriel, mas por ele ter sido vitorioso no sub-23 também proporcionamos a oportunidade. Mas não existe nenhuma desconfiança para com o Renan.

UOL Esporte: Essa circunstância de não colocar ‘este é o meu goleiro titular’, categoricamente, não pode alimentar algum questionamento?

Celso Roth: Não alimenta nada. Vou dizer de novo. O bom entendedor entende. Ele joga e a probabilidade é que ele continue. Se não ocorrer uma tragédia ele joga, tem o imponderável do futebol.

C. ROTH, VITORIOSO, RUMO A ABU DHABI

  • Jefferson Bernardes/Vipcomm

    Treinador comemorou vaga na decisão dentro do Morumbi com entusiamos junto aos torcedores

  • Lucas Uebel/Vipcom

    Celso Roth, no entanto, ainda mostra seu lado menos sociável durante e depois das partidas

  • Jefferson Bernardes/VIPCOMM

    Na cerimônia de premiação, no estádio Beira-Rio, técnico recebeu carinho de dirigentes e do Rei Pelé

Chamar de ponto fraco é muito forte, mas todos os outros setores do seu time não tem esse mesmo problema. A defesa tem bons marcadores, o meio é criativo, o ataque faz gols. Mas você concorda que o goleiro seja a deficiência mais latente do Inter?

Não, não e não. Não concordo. Acho que o Renan fez grandes partidas e junto com isso teve erros. Como qualquer goleiro tem. Só que sempre, por ser goleiro, é mais forte. Não existe ponto fraco, não existe desconfiança. Quem eu botar ali será o jogador da nossa confiança. Essa situação se cria pelo goleiro ter errado, mas são situações normais no futebol. O profissional tem que conviver com isso e o Renan, que é dele que estamos falando, sabe disso. É um jogador com capacidade enorme e de maneira nenhuma será considerado ponto fraco por nós, grupo de trabalho. Ao contrário, é o ponto forte. Fez e nos ajudou muito, como o Pato e o Lauro antes de eu chegar aqui. Admiro e acho um grande goleiro, não só de estatura.

Antes do segundo jogo com o Chivas o Bolívar disse que o segundo título da Libertadores terminaria, nas palavras dele, com a chacota que os gremistas faziam com o Inter por não ter o bicampeonato. Antes do Mundial, você vê alguma relação com essa possível conquista do segundo titulo para superar o Grêmio?

Eu não vejo as coisas assim. Me preocupo com o Internacional. Esse negócio de comparação é de vocês, coisas da mídia. Nós como profissionais, e aqui não vai nenhuma crítica – está dentro do contexto do Rio Grande do Sul. Mas nós profissionais não temos isto, vamos trabalhar para conquistá-lo independente de qualquer situação.

Você tem um jogador no grupo chamado de predestinado, por marcar gols em partidas importantes e decisivas. Por crescer nessas horas, que é o Rafael Sóbis. Além do D’Alessandro. O quanto esta dupla pode te ajudar nesta competição que é uma situação atípica, Celso?

Eles são jogadores que tem qualidade e sempre é importante ter jogador assim. Em qualquer setor da equipe. Estes jogadores tem mundo, universo pelas conquistas e pelo que produziram e produzem. Espero que estejam bem e se estiverem bem e felizes vão nos ajudar muito.

  • Lucas Uebel/Vipcomm

    Celso Roth cita semifinal da Copa Sul-Americana, onde Goiás eliminou Palmeiras como exemplo para Inter não ser surpreendido na sua estreia no Mundial, em 14 de dezembro

Desde que você chegou ao Inter instalou o esquema com a linha de três homens no meio-campo. Algo preponderante para conquista da Libertadores, com o Taison, que depois saiu. Entrou o Rafael Sóbis e não deu a resposta, por toda a circunstância de lesão e ritmo de jogo. Agora nos treinos você vem ensaiando o próprio Sóbis mais a frente. Se mudar, dá para dizer que você chega ao Mundial sem conseguir usar a sua ideia dos três meias?

Nós vamos jogar o Mundial com três jogadores fazendo a linha, não vamos abrir mão. O Rafael, quando tiver sequência – coisa que não teve, mesmo quando efetivado após a Libertadores, dentro da produção normal dele cumpre muito bem a função pelo lado direito. Obviamente com a função de chegar mais por que é característica dele. Saímos daqui com a coisa absolutamente definida. Esquema definido, time definido, não tem dúvida nenhuma em nenhuma posição. A não ser que o imponderável atue, espero que não. As coisas estão muito claras, só uma questão de colocar um ou outro pelo rendimento momentâneo. As coisas são assim, futebol é momento.

MARCAÇÃO ESPECIAL? SIM

Obviamente que temos que ter certos cuidados

Roth, confirmando marcação especial em caso de encontro com a Internazionale

Tinga será titular, então?

As coisas estão definidas...

Inegavelmente, Celso, o grande adversário é a Inter de Milão. Pela sua linha de trabalho, você já deve ter observado o time italiano. Você conseguiu achar algum ponto que possa ser utilizado pelo seu time, e qual é este ponto?

Não, isso aí é pressupor que o Inter e a Inter chegarão na final. Primeiro nós temos uma semifinal que é muito difícil e passou a ser, até na opinião pública, uma situação que o Internacional tem que ultrapassar com obrigação. Tenho dito aos meus jogadores que a semifinal é pior que a final. Não podemos criar esta situação hipotética da Inter. Isso se cria e tem que se criar na cabeça do torcedor e na mídia. Nós profissionais temos um jogo muito complicado com Mazembe e Pachuca. A Inter vai ficar para depois. Teremos a oportunidade de ver o jogo lá de Pachuca e Mazembe, já temos notícias sobre eles. Para pensarmos na Inter temos que passar pela semifinal.

Até por este novo formato, colocando representantes de todos os continentes e correr aquela ideia de que uma hora o sul-americano ou o europeu não vai conseguir passar. Até por isso você coloca este discurso?

Não, não é 'colocar este discurso'. Esta é a realidade. Não é questão de colocar discurso, não é assim que funciona. A cada dia que passa temos exemplos. Não viram o exemplo na Copa Sul-Americana, com o Palmeiras e Goiás? Toda hora a gente tem exemplos iguais. Não adianta passar na frente das coisas. Primeiro é semifinal, seja qual for o adversário, temos que passar por isso. Não adianta falar lá na frente. Não é discurso, nem conversa fiada. E sei que tu não estás dizendo isso. Temos na prática este adversário.

Você deu uma entrevista depois de vencer a Libertadores onde falou em etapas e no fim disso falava em seleção brasileira. Citou campeonatos regionais, a Libertadores e dizia que faltava um Campeonato Brasileiro e o Mundial. O quanto o Mundial muda este quesito de sonhar com seleção brasileira?

Esse negócio de sonhar com seleção, seja brasileira ou outra qualquer, é representar o país em um Mundial. Eu não falei desta forma. Disse que, na minha opinião, não quer dizer que seja a verdadeira, o treinador tem que ter cinco quesitos: ter ganho um campeonato regional, ter ganhou um campeonato continental, um mundial, ter vivência no exterior, como treinador que é diferente de jogador; e três destes deveriam ser importantes para um treinador galgar uma seleção brasileira ou de qualquer lugar do mundo. Digo e repito isso, a mais de dez anos. É isso que acho. Certamente o treinador que trabalha em nível alto, como é o caso do Inter e outros times da série A tem que pensar em chegar algum dia, colocar este objetivo, como ponto fundamental. Seja a brasileira ou outra qualquer. Isto faz parte da carreira de cada profissional. Não estaria dizendo a verdade se não colocasse isso para vocês. Mas tudo tem seu tempo, tudo caminha e se a coisa tiver que acontecer vai acontecer. Agora é o tempo do Internacional.

Pois é, você não calcula, então?

Agora é o tempo do Internacional. Tu calculas o tempo na tua carreira?

UOL Esporte: Calculo.

Que bom, que ótimo. Na tua profissão de repente tu podes calcular, que bom. Assim mesmo tenho algumas dúvidas. Na minha é um dia atrás do outro.

Em outra manifestação, você citou que a expectativa agora é muito maior do que em 2006. E se somar a isto os problemas que os adversários, já que você não quer falar só da Internazionale, que papel você colocaria para o Inter no Mundial? Dificilmente o próprio Inter vai admitir que cresça em relação ao favoritismo.

O papel do Inter é completamente diferente da primeira vez. Além desta situação da Inter, o Pachuca não conseguiu classificar no Campeonato Mexicano. A Inter de Milão vive um desequilíbrio, agora já conseguiu um resultado que pode colocar a equipe dentro do seu equilíbrio. Na minha maneira de ver, é diferente de 2006. Pois o Inter já não é mais surpresa. Já não é mais a primeira vez, a instituição, o clube é conhecido mundialmente. Cresceu muito, está comprovado. O que se espera do Inter é chegar em uma final com igualdade de condição, claro que temos a seleção técnica da coisa. A Inter de Milão, como normalmente são os europeus, é compradora. O Internacional de Porto Alegre, como são basicamente todos da América do Sul, é fornecedor. Formador de jogador. A diferença básica é esta e mostra, por ser compradora, a Inter de Milão – teoricamente pelo lado técnico, teria de ser favorita. Mas isso a gente sabe que na realidade e na prática é igual. Os sul-americanos se equivalem pela qualidade. O Inter tem jogadores que já saíram, voltaram, são consagrados, andaram pelo mundo e isso faz com que a gente tenha a possibilidade de conquista em uma provável final.

Dentro da probabilidade, uma hipótese real, mantendo a tradição de europeu contra sul-americano. Na sua visão como treinador, é possível o time sul-americano jogar de igual para igual ou é preciso cuidado maior na marcação?  Tentar pegar uma bola, fazer o gol e surpreender?

Marcar em qualquer jogo tem que se marcar. O jogo é igual em qualquer lugar, isso tudo teoricamente. Obviamente que se tu tens - como eu disse anteriormente e não posso sair da minha linha de raciocínio - uma seleção de jogadores, obviamente teremos cuidado com a Inter. Se a gente chegar na final e a Inter também chegar, nesta situação hipotética que tu estas criando e estou sendo educado e respondendo, obviamente que temos que ter certos cuidados.

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