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Botafogo comemora 15 anos do título brasileiro; grupo revela brigas e problemas

Túlio Maravilha e o presidente Maurício Assumpção com o troféu do Brasileiro de 1995 - Bernardo Feital/UOL Esporte
Túlio Maravilha e o presidente Maurício Assumpção com o troféu do Brasileiro de 1995 Imagem: Bernardo Feital/UOL Esporte

Pedro Ponzoni

No Rio de Janeiro

17/12/2010 07h08

O dia 17 de dezembro de 1995 é especial para todo torcedor do Botafogo. Nesta sexta-feira, o clube comemora o aniversário de 15 anos da conquista do Campeonato Brasileiro. Desta maneira, o UOL Esporte procurou os heróis do título para relembrar os momentos da gloriosa conquista alvinegra.

  • Site oficial do Botafogo

    O Botafogo irá receber o grupo campeão brasileiro em 1995 com uma grande festa neste domingo

Naquela oportunidade, o Botafogo era presidido por Carlos Augusto Montenegro e as dificuldades fora das quatro linhas eram imensas. O clube chegou a atrasar até quatro meses de salários, além de não ter condições ideais para treinar.

“Tivemos que superar a falta de uma boa estrutura, pois as condições de trabalho do Caio Martins não eram das melhores. O bom relacionamento que o grupo tinha com a diretoria acabou ajudando para superarmos tudo. No final daquele ano, o clube retornou para General Severiano. Assim, os jogadores puderam treinar com campos e vestiários novos. Porém, somente quem ficou para a temporada seguinte pôde usufruir daquilo tudo”, afirmou o ex-zagueiro Gonçalves.

“A situação financeira não era fácil. O grupo tinha que treinar atrás de um dos gols porque o gramado de Caio Martins estava sendo trocado. Mas todos deixaram os problemas de lado e trabalharam muito”, completou o técnico Paulo Autuori.

Na época, mesmo com as dificuldades salariais, a diretoria encontrou uma saída para os atletas continuarem trabalhando. Foi combinado que a renda das partidas serviria para pagar o “bicho”. Desta maneira, somente vencendo que o grupo seria recompensado. No Brasileiro de 1995, o Botafogo atuou em Fortaleza (contra o Flamengo), João Pessoa (contra o Internacional) e Vitória (contra o Fluminense).

SITUAÇÃO ATUAL DO TIME CAMPEÃO-1995

Wagner (goleiro): Dono de um quiosque na praia de Camboinhas, em Niterói-RJ
Wilson Goiano (lateral-direito): Formado em Direito e atualmente estuda para passar em Concurso Público
Gottardo (zagueiro): Empresário e aguarda propostas para trabalhar como técnico
Gonçalvez (zagueiro): Trabalha em uma empresa de consultoria indicando jogadores para atuar na Noruega, Finlândia e Suécia
André Silva (lateral-esquerdo): Formado em Educação Física, dá aulas em escolas particulares e tem uma escolinha de futebol em Campo Grande (bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro)
Jamir (volante): Formado em Educação Física e trabalha em uma academia em Florianópolis-SC
Leandro Ávila (volante): Aguarda propostas para trabalhar como técnico e é dono de um restaurante em Jacarepaguá (bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro)
Beto (meia): Intermedeia negociações de jogadores para clubes da Europa
Sérgio Manoel (meia): "Pendurou as chuteiras" e vai morar nos Estados Unidos a partir de 2011
Donizete (atacante): Embaixador das escolinhas de futebol do Botafogo espalhadas pelo Brasil
Túlio (atacante): Atua pelo Botafogo-DF e é vereador em Goiânia (PMDB-GO)
Paulo Autuori (técnico): Atualmente é treinador do Al-Rayyan, do Qatar

“Salário era coisa rara para o nosso grupo. Porém, como o Montenegro prometeu que ganharíamos o bicho em cima da renda, o grupo ficou mais motivado para buscar as vitórias. Somente dessa maneira poderíamos cobrar”, recordou o ex-lateral-direito Wilson Goiano.

Somado as dificuldades fora de campo, Paulo Autuori precisou superar a falta de entrosamento dentro das quatro linhas. A equipe não estava cotada para conquistar a competição, mas acabou conseguindo superar tudo para faturar o título. Leandro Ávila, Donizete e Gonçalves reforçaram o Botafogo e somaram a base formada por Wagner, Sérgio Manoel e Túlio. Além disso, o elenco tinha dois jovens atletas que se firmaram entre os titulares: André Silva e Beto.

“A equipe já tinha um padrão de jogo. Mas outros jogadores chegaram com o campeonato em andamento, como Leandro Ávila e Donizete. O grupo ficou encorpado, os resultados começaram a aparecer e todos começaram a acreditar que poderíamos chegar ao título”, analisou Autuori.

O time encaixou dentro das quatro linhas, mas fora de campo era notório o problema de relacionamento entre Túlio e Gottardo. O atacante e o zagueiro tinham suas diferenças e, por vezes, a estrela da turma chegou a ser cobrada de forma mais dura pelo capitão do time.

“Eu era um segundo capitão do time. Como tinha um bom relacionamento com os dois, consegui amenizar os problemas. Por vezes, o Gottardo reclamava do Túlio de forma enérgica e eu precisei agir para não desmotivar o nosso atacante”, revelou Gonçalves.

Wilson Goiano lembrou também que Gottardo chegou a questionar algumas “facilidades” para o atacante, mas dentro de campo e família alvinegra era unida.

“Era público e notório que os dois não se davam. O Gottardo era um cara sério e não gostava das regalias dadas ao Túlio. Ele chegava a não treinar para gravar comerciais e isso incomodava nosso zagueiro. Eles não se davam fora de campo, mas nos jogos o Gottardo chegava a defender o Túlio como um filho”, contou.

Árbitro da final do Brasileiro é lembrado pelos jogadores

A campanha do Botafogo no Campeonato Brasileiro acabou sendo coroada após os dois jogos diante do Santos. No primeiro, a equipe carioca venceu por 2 a 1 e foi para São Paulo com a vantagem do empate. Resultado final: 1 a 1 e título para General Severiano.

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Os santistas, mesmo 15 anos depois, ainda reclamam de Márcio Rezende de Freitas. Através do recurso eletrônico, o grande público percebeu que os dois gols da partida do Pacaembu foram irregulares e o árbitro ainda anulou um gol a favor dos paulistas.

Procurado pelo UOL Esporte, o ex-árbitro, hoje comentarista de TV, afirmou que só poderia falar com autorização de sua empresa. Ele não respondeu as perguntas, mas os jogadores do Botafogo lembram bem da repercussão após o segundo jogo da final.

“O choro é livre. Eu mesmo chorei muitas vezes quando entendi que a arbitragem prejudicou o Botafogo. No entanto, o Márcio era o melhor árbitro em atividade. Sua carreira é inquestionável . Ele errou como um goleiro poderia perfeitamente falhar durante a partida”, defendeu Sérgio Manoel.

O atacante Túlio Maravilha não abriu mão de seu bom humor ao comentar a situação. Na oportunidade, ele estava em impedimento quando marcou o gol do Botafogo no segundo jogo.

“Ele pode ter errado, mas isso é muito normal com os recursos apresentados pela TV. No entanto, eles (Santos) chegaram a ganhar dois títulos (2002 e 2004) depois disso. Desta maneira, todos estão felizes”, encerrou.

CONFIRA AS FICHAS DAS DUAS PARTIDAS FINAIS DO BRASILEIRO DE 1995

PRIMEIRO JOGO - Botafogo 2 x 1 Santos - 13/12/1995 - Maracanã
Botafogo: Wagner; Wilson Goiano, Gottardo, Gonçalves e André Silva (Iranildo); Jamir, Leandro, Beto e Sérgio Manoel; Donizete (Moisés) e Túlio. Técnico: Paulo Autuori
Santos: Edinho; Vágner, Narciso, Marquinhos Capixaba e Marcos Paulo; Gallo, Carlinhos, Marcelo Passos e Robert (Camanducaia); Giovanni e Jamelli (Macedo). Técnico: Cabralzinho
Árbitro: Sidrack Marinho - Público: 53.767 - Gols: Gottardo (B), Giovanni (S) e Túlio (B)
SEGUNDO JOGO - Santos 1 x 1 Botafogo - 17/12/1995 - Pacaembu
Santos: Edinho; Marquinhos Capixaba, Ronaldo, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Marcelo Passos, Robert (Macedo) e Giovanni; Camanducaia e Jamelli. Técnico: Cabralzinho
Botafogo: Wagner; Wilson Goiano, Gottardo, Gonçalves e André Silva (Moisés); Jamir, Leandro Ávila, Beto e Sérgio Manoel; Donizete e Túlio. Técnico: Paulo Autuori
Árbitro: Márcio Rezende de Freitas - Público: 28.488 - Gols: Túlio (B) e Marcelo Passos (S)