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Palaia flerta com oposição, promete comitê orçamentário e não vê idade como problema

Salvador Hugo Palaia (f) concorre à presidência com Paulo Nobre e Arnaldo Tirone - Jefferson Coppolla/Folhapress
Salvador Hugo Palaia (f) concorre à presidência com Paulo Nobre e Arnaldo Tirone Imagem: Jefferson Coppolla/Folhapress

Carlos Padeiro e Paula Almeida

Em São Paulo

17/01/2011 09h00

A partir da próxima quarta-feira, o Palmeiras terá um novo presidente, com mandato de dois anos, e entre os três candidatos, Salvador Hugo Palaia talvez seja o mais conhecido do torcedor palmeirense. Conselheiro do clube desde a década de 1970, virou figura frequente e atuante na última década, tendo trabalhado com representantes de diversas facções da política alviverde. Hoje, é membro da situação, mas tem discurso que se aproxima mais da própria oposição.

 

Aos 77 anos, Palaia seria o “candidato natural”, como ele mesmo diz, à presidência do Palmeiras. Há dois anos, retirou uma possível candidatura para apoiar Luiz Gonzaga Beluzzo, esperando o apoio do companheiro na eleição seguinte. Mas não foi o que se viu. Com o surgimento de Paulo Nobre como “terceira via”, Palaia perdeu apoio maciço dentro da situação e até mesmo o suporte de Belluzzo, que evita falar em público sobre sua preferência, mas não respeitou o acordo de dois anos atrás.

 

“Ele deveria manter a palavra que teve comigo há dois anos quando eu o apoiava. Eu sou o candidato natural”, declarou Palaia em entrevista ao UOL Esporte, emendando em seguida uma das diversas críticas a Nobre. “Agora olhe a diferença entre Salvador Hugo Palaia e Paulo Nobre. Naquela ocasião também havia dois candidatos da situação. Eu poderia muito bem recusar meu apoio ao Belluzzo e sair candidato. Mas se eu faço isso, eu racharia a situação. Mas para o bem do Palmeiras, eu desisti da minha candidatura e trabalhei pelo Belluzzo, aceitando a condição de ser primeiro vice”.

 

MÁGOA COM BELLUZZO

Ele deveria manter a palavra que teve comigo há dois anos quando eu o apoiava. Eu sou o candidato natural

Palaia, sobre não contar com o apoio de Belluzzo nas eleições

Segundo Palaia, a mágoa em relação a Nobre surgiu quando o convidou a ser primeiro vice de sua chapa e diretor de futebol, não obtendo resposta. “Ele me disse que consultaria 20 conselheiros amigos e que me daria a resposta em três dias. Eu aguardei a resposta, e ele não foi nada cordial comigo, foi até mal-educado, porque no dia seguinte eu vi nos jornais que ele era candidato à presidência. Ele não honrou o compromisso de me dar uma resposta, e respondeu pelos jornais”.

 

A insatisfação com Belluzzo, a quem culpa por não tê-lo participado das decisões do clube em dois anos de gestão, e com Nobre, a quem qualifica como “o continuísmo de uma má administração”, acabou por aproximar Palaia ainda mais da oposição. Hoje, ele tece mais elogios a Arnaldo Tirone, candidato que, com o racha da situação, desponta como grande favorito ao pleito.

 

SALVAÇÃO NA BASE

A base será a solução do Palmeiras, porque vai trazer lucros e diminuir a dívida com a revelação de novos atletas

Palaia, sobre como a base pode ajudar nas finanças do Palmeiras

“Falar do Arnaldo Tirone seria fazer uma propaganda do meu adversário. Mas o que eu posso falar é o seguinte. A oposição do Palmeiras hoje está sendo uma oposição leal, estão fazendo um discurso democrático, sem atacar. A vantagem que eu vejo no Tirone é que ele está sendo apoiado por três grandes presidentes que passaram pelo Palmeiras: Carlos Facchina, que é uma bandeira dentro do Palmeiras, Mustafá Contursi, que é um homem muito inteligente e que prestou um grande serviço ao Palmeiras, e Afonso Della Monica, que também foi um grande presidente”, afirmou.

 

Mas apesar do flerte com a oposição, Palaia segue firme com sua candidatura e tem seu “plano de governo”, como chama suas propostas. Sua principal ideia é manter o comitê gestor para coordenar o departamento de futebol profissional, como fez nos dois meses em que foi presidente interino do Palmeiras na ausência de Belluzzo, e criar um comitê orçamentário, com o objetivo de fiscalizar com mais afinco as finanças alviverdes e tentar reduzir a dívida que hoje passa de R$ 130 milhões.

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  • Reprodução

    Mais novo entre os três candidatos que estão na disputa, Paulo Nobre quer fazer mudanças estruturais na organização do Palmeiras que vão de novos cargos na diretoria a alterações no estatuto geral.

    O forte controle de Nobre sobre o Palmeiras, se eleito, começará pelo futebol. Mais do que isso, será fortemente baseado na modalidade, carro-chefe do clube. O empresário está disposto a extinguir o cargo de vice-presidente de futebol e assumir total poder na área.

“O comitê gestor será sob responsabilidade do presidente eleito. Todo e qualquer assunto importante, a decisão final será do presidente. Serão três diretores do futebol profissional e três do futebol amador”, explicou. “E o comitê orçamentário vai reduzir os custos do Palmeiras. Cada departamento faz uma previsão orçamentária para ser gasta durante o ano. Essa previsão vai ser acompanhada pelo diretor do comitê orçamentário. Ultimamente, por exemplo, um departamento estipula gastar R$ 240 mil durante o ano, mas gasta isso em seis meses. Agora vai parar. O diretor do departamento vai ter que arranjar alguma solução para dar continuidade ao trabalho dele sem ultrapassar o valor orçamentário”.

Ainda para reduzir a dívida, Palaia aposta em um bom departamento de marketing, com um gabaritado profissional da área, e em um trabalho maior com as categorias de base. “A base será a solução do Palmeiras, porque vai trazer lucros e diminuir a dívida com a revelação de novos jogadores. E estamos pensando em fazer um intercâmbio internacional com outros países para trazer jogadores jovens e escolinhas, de lá pra cá e de cá pra lá”, detalhou.

Mais velho entre os três candidatos, com 77 anos, hoje Salvador Hugo Palaia é visto por alguns como uma vertente ultrapassada no clube. Mas, mesmo contando com o apoio de membros da terceira idade alviverde, ele não quer ser visto como um homem de ideias antigas e garante que não se deixará abater pelo estresse da presidência. “Eu nunca tive um pensamento retrógrado”, garante. “Sou calmo, não terá estresse".