Belluzzo deixa Palmeiras somando gafes, dívidas e fracassos em campo
Do UOL Esporte
Em São Paulo
19/01/2011 07h00
Luiz Gonzaga Belluzzo foi alçado à presidência do Palmeiras como símbolo de mudança e exemplo de renovação da cartolagem brasileira. Dois anos depois, seu maior e quase único trunfo é a promessa de um estádio renovado e moderno. O renomado economista deixa o Palmeiras com o clube imerso em uma enorme crise política, uma dívida de R$ 199 milhões e um histórico recente de fracassos em campo, apesar do elenco caro.
Se não foi um fracasso retumbante, a gestão ficou longe da expectativa criada. Belluzzo manteve por muito tempo diretores criticados, se expôs demais por não saber separar o lado dirigente do torcedor e ignorou os problemas financeiros do clube ao tratar do futebol.
O descaso com as contas, aliás, é o principal problema da “era Belluzzo”. Em dois anos, quatro treinadores efetivos passaram pelo banco de reservas alviverde: Vanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho, Antonio Carlos Zago e Luiz Felipe Scolari. Demitidos antes do fim de seus contratos, os três primeiros oneraram a folha salarial por mais alguns meses depois de suas saídas.
Folha essa que também não teve fôlego com a atual diretoria. A escassez de títulos não combina com a quantidade de estrelas que passaram pelo Palestra Itália no período. Em 2009, Diego Souza, Cleiton Xavier, Pierre e Maurício Ramos ganharam aumentos e recusaram propostas do exterior.
LEIA ENTREVISTAS COM OS TRÊS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DO PALMEIRAS
Clique para acessar conteúdo externo | Mais novo entre os três candidatos que estão na disputa, Paulo Nobre quer introduzir mudanças estruturais na organização do Palmeiras que vão de novos cargos na diretoria a alterações no estatuto geral. Leia a matéria completa |
Clique para acessar conteúdo externo | A principal ideia de Palaia é manter o comitê gestor para coordenar o futebol profissional e criar um comitê orçamentário, com o objetivo de fiscalizar com mais afinco as finanças alviverdes. Leia a matéria completa |
Clique para acessar conteúdo externo | Cria de cardeais como Mustafá, Della Monica e Facchina, Arnaldo Tirone entende que o presidente tem de ser sociável nos bastidores e não aparecer muito. Além disso, promete ser "pão-duro" para acabar com os problemas financeiros. Leia a matéria completa |
Diego Souza seria mandado embora pela torcida menos de um ano depois, Cleiton Xavier foi negociado sem ter ganho nenhum título e Pierre passou 2010 na reserva. Vágner Love, também contratado a peso de ouro, deixou o clube pela porta dos fundos após ser agredido pela torcida, insatisfeita com seu desempenho, em uma agência bancária
A aposta em grandes nomes se repetiu no ano passado. Lincoln, Kleber e Valdivia chegaram e aumentaram os gastos do clube. Durante quase todo o segundo semestre, o Palmeiras conviveu com relatos de atrasos nos direitos de imagem, sempre relativizados pela diretoria. Lincoln pagou R$ 1 milhão do próprio bolso para obter a liberação do antigo clube. Até agora não recebeu e o caso chegou a gerar mal-estar.
Os gastos exagerados e a falta de títulos refletem nos bastidores. O naturalmente agitado ambiente político do Palmeiras efervesceu durante a era Belluzzo. A pressão da oposição no Conselho Deliberativo foi minando a influência do presidente, que teve dificuldade para aprovar diversas medidas dentro do clube.
A maior novela foi a da Arena Palestra. O projeto inicial havia sido aprovado em 2008, mas as obras só começaram em meados de 2010. No período, além da burocracia imposta pela Prefeitura, Belluzzo enfrentou todo tipo de boato e reclamação da oposição, que por diversas vezes tentou travar o processo.
A crise política também afetou outros projetos de Belluzzo, que viu sua popularidade cair internamente. Entre outros, ele perdeu o apoio de Afonso Della Monica, que o ajudou a chegar ao poder e hoje apoia Arnaldo Tirone, candidato da oposição. O próprio presidente tem culpa nesse processo. Seu estilo falastrão e exageradamente sincero foi visto com ressalvas pelos cardeais alviverdes.
Em 2009, por exemplo, Belluzzo chegou a ser ameaçado de um longo gancho pelo STJD por chamar Carlos Eugênio Simon de “crápula” e “safado”. O destempero se deu após um erro do juiz gaúcho na partida contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro daquele ano.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
"Belluzzo quebrou tradição palmeirense de pagar os salários em dia" |
Na mesma época, um vídeo de Belluzzo na festa de uma torcida organizada do Palmeiras ofendendo são-paulinos ganhou a internet. Nele, o mandatário dizia que os torcedores iriam “matar os bambis”. O episódio marcou negativamente a imagem do presidente, e só ficou pior após os resultados negativos em campo.
Curiosamente, seu adeus é na surdina, com poucas entrevistas e quase nenhuma aparição pública, ao contrário do expediente adotado no início do mandato. O estilo low profile de agora é resultado do susto do ano passado, quando foi internado com problemas cardíacos e decidiu, definitivamente, que não concorreria à eleição.
O susto foi sucedido por ainda mais burburinho nos bastidores. Salvador Hugo Palaia, primeiro vice-presidente, assumiu e decidiu dissolver a diretoria de futebol, comandada pelo seu desafeto Gilberto Cipullo. A postura prejudicou o próprio Palaia, que perdeu possíveis apoiadores importantes para o pleito desta quarta, mas também respingou no trabalho de Belluzzo.
Sob pressão, o time decepcionou de novo e foi eliminado da Copa Sul-Americana pelo Goiás, diante do Pacaembu lotado e com a vantagem do empate. O resultado foi o início de um racha da diretoria com o elenco, que não gostou da forma que foi cobrado e até hoje chia, especialmente com o diretor de futebol Wlademir Pescarmona, criando um ambiente quase inóspito para o futuro presidente.