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Talentos driblam adversidades por última chance para deslanchar carreiras

Jovens do "A Chance" se preparam antes de jogo contra sub-17 do Corinthians - Ricardo Espina/UOL
Jovens do "A Chance" se preparam antes de jogo contra sub-17 do Corinthians Imagem: Ricardo Espina/UOL

Ricardo Espina

Em Porto Feliz (SP)

21/01/2011 09h01

Talento, qualidade técnica e uma dose de sorte. Os seis jovens classificados para a etapa mundial do “A Chance” têm histórias semelhantes às de muitos garotos que sonham um dia em se tornar jogadores profissionais. Todos passaram por peneiras em clubes grandes, ouviram muitos “nãos” e “conselhos” para que seguissem outros caminhos, mas nem por isso desistiram de seu principal objetivo.

TALENTO E UMA CERTA DOSE DE SORTE

  • Ricardo Espina/UOL

    Por pouco, um celular perdido não encerrou sonho de Helder, o "sétimo elemento" do "A Chance"

Talvez o melhor exemplo de persistência seja o de Helder Souza. O paraibano (“da cidade de Salgado de São Félix”, como faz questão de frisar), de 20 anos, rodou o Brasil para tentar se firmar e enfrentou várias dificuldades. No “A Chance”, não foi diferente. Para começar, o meia-atacante nem estava entre os finalistas. A sorte estava ao seu lado, e não apenas uma vez.

Tudo começou quando Yuri Gorentzvaig, um dos seis escolhidos, deixou o grupo. Antes mesmo de ir para os testes na Inglaterra, ele assinou contrato com o Corinthians. A vaga aberta, então, foi preenchida pelo sétimo colocado, Helder. Só que o paraibano por pouco não deixou a oportunidade escapar pela janela.

“Estava jogando videogame quando recebi o telefonema. Tinha até comprado a passagem de volta. Estava com os documentos na mão, mas perdi meu celular e o chip, que era o único contato que dei para o pessoal do programa. Felizmente consegui recuperar o número, do contrário nem saberia que havia sido chamado”, conta, aliviado.

Helder passou por João Pessoa, foi para o Paraná e Rio de Janeiro e sofreu nas mãos de empresários em busca de seu sonho (“Prometeram que eu jogaria no Tigres, mas lá só tinha espaço quem era atleta do presidente. Eu não era”). Extrovertido e sorridente, ele se inspira na história de um jogador que se tornou símbolo de superação para também conquistar seu espaço. “O Ronaldo é um exemplo por tudo o que passou. Também estou doido para jogar ao lado de Ronaldinho”, diz, citando outro de seus ídolos.

Já o paulista Mauro Navarro tem na ponta da língua a resposta sobre em qual jogador se espelha. “Eu sou meu maior ídolo”, crava o meio-campista, com segurança capaz de driblar um sinal de arrogância. Ele terá a oportunidade de jogar pela segunda vez em gramados ingleses. “Fiquei no Fulham por dois meses. Até disputei um amistoso contra os reservas do Chelsea, e joguei contra Joe Cole e Bosingwa. Não deu para ficar mais tempo por conta do passaporte”, lamenta o jovem, de 19 anos.

O período no clube inglês aprimorou seu currículo, que já contava com passagens por Corinthians e Portuguesa, e lhe deu maior experiência para lidar também com o lado negativo da carreira de jogador. “Meu primeiro empresário me ofereceu um contrato com uma multa rescisória absurda, de R$ 2 milhões. Meus pais levaram o documento para um advogado analisar e ele disse que estava tudo errado. Troquei de representante, mas o segundo era inexperiente”, lembra.

Weslley Oliveira ao menos tem um relacionamento bem menos conturbado com seu empresário. “Ele me avisou um dia antes dos testes que iria jogar, mas não me disse o que era”, conta o meia-atacante, de 18 anos. Nascido no Rio de Janeiro e com passagem pelo Botafogo, ele se inspira em Cristiano Ronaldo e tem na família a inspiração para seguir a carreira. “Meus tios jogaram no Campo Grande. Eles me indicaram meu atual empresário”, comenta.

Assim como Weslley, Yuri Messias veio de uma família humilde do Rio de Janeiro. “Minha mãe morava em uma comunidade carente”, relata. Mesmo com as dificuldades o meio-campista de 19 anos sabe de onde tirar forças para superar as agruras do mundo do futebol. “A família é quem me dá mais força. Tenho que dar o sangue por eles.”

Felipe Franco, de 17 anos, foi obrigado a tomar uma decisão difícil, talvez a primeira das muitas que encontrará em sua carreira. O meio-campista, que também atua como ala, tinha pronta a ficha para disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Primeira Camisa, clube do ex-zagueiro Roque Júnior. Ele preferiu participar do “A Chance”.

“Achei que era uma oportunidade mais interessante, com a possibilidade do estágio na Inglaterra”, diz o jovem, justificando sua opção. Felipe, que tem bolsa de estudos para jogar em um colégio paulistano, já passou por um grande clube. “Joguei futebol de salão por dois anos no São Paulo”, destaca. Ele também tentou a sorte no Cruzeiro, mas não passou no teste.

Diego Amaral, de 18 anos, parece um pouco mais tímido do que os colegas. O meio-campista, que admira o estilo de jogo de Paulo Henrique Ganso, aprendeu desde cedo uma importante lição para se dar bem no futebol. “Para mostrar o melhor, não se deve inventar para querer impressionar”, receita o jogador, nascido no Rio de Janeiro.

Seis garotos, seis esperanças, bem parecidas com as de milhares de jovens. Nem mesmo a possibilidade de não serem chamados para o estágio final do “A Chance” os desanima. “Se eu não for jogador, não saberei o que fazer da vida”, diz Helder. Para quem abriu mão de tantas coisas por um sonho, desistir parece ser a última opção.