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Inter investe pesado nos estrangeiros e "rouba" tradição do Grêmio

D"Alessandro (c) é expoente da política do Inter em buscar estrangeiros e ganhar taças - Hedeson Alves/UOL
D'Alessandro (c) é expoente da política do Inter em buscar estrangeiros e ganhar taças Imagem: Hedeson Alves/UOL

Jeremias Wernek e Marinho Saldanha

Em Porto Alegre

28/01/2011 07h02

A chegada de Fernando Cavenaghi confirma o que tem acontecido nos últimos anos no Rio Grande do Sul. O Inter toma o posto de clube admirador do futebol estrangeiro. Basicamente composto por uruguaios e argentinos. A tradição está presente nos dois estádios, mas era no Olímpico que o sotaque espanhol marcava presença recentemente. Gerando até piada do lado dos colorados. Em 2011, o time de Celso Roth pode ter até cinco atletas de fora do Brasil atuando na Libertadores. Ápice do ‘furto’ da postura. Ao passo que o Grêmio, liderado por De Leon na primeira conquista da América, não conta com nenhum reforço de fora.

  • EFE

    Maxi López jogou em 2009 no Grêmio e foi titular; saída do clube foi ruim, irritando direção e torcida

  • Alexandre Lops/AI Inter

    Guiñazu chegou no meio de 2007, virando ídolo bem rápido. Volante se tornou símbolo da nova era

  • Divulgação/Grêmio

    Herrera foi bem em 2006, mas na sua segunda passagem só decepcionou no estádio Olímpico

É bem verdade que Figueroa, Benítez, Enciso e Gamarra vestiram vermelho anos antes. Mas suas passagens não se comparam a enxurrada de gringos que o Beira-Rio tem recebido desde 2006. De lá para cá, o Inter contratou 12 atletas que nasceram na América do Sul. No mesmo lapso temporal, o Grêmio buscou 13. A diferença básica está nos últimos dois anos, quando houve total inversão dos papéis. E, curiosamente, também tendo reflexo nos resultados.

Mais internacional do que nunca

No primeiro passo para se tornar efetivamente internacional, o time vermelho de Porto Alegre só tinha um estrangeiro: o colombiano Rentería, que fazia parte do grupo vitorioso na Libertadores de 2006. No ano seguinte, em meio aos péssimos resultados, chegaram Orozco, Sorondo e Guiñazu. Do trio, só o volante emplacou. Virando, inclusive, ídolo da torcida e titular absoluto de qualquer técnico que chegue ao Beira-Rio.

Em 2008, ainda tentando se estabilizar, a diretoria deu uma cartada alta. Buscou D’Alessandro, por cerca de sete milhões de dólares. O meia entrou como uma luva no time e ajudou na conquista da Copa Sul-Americana. Mais um gringo que caia nas graças da torcida, que nem se lembrava mais da flauta nos rivais, por gostar de argentinos. Meses antes, no entanto, o Inter assinou com o lateral-direito Bustos, que não tivera êxito no tradicional rival. O caminho trilhado pelo atleta foi exatamente o mesmo no colorado.

O ‘boom’ espanhol

No começo do ano passado, o Internacional buscou o lateral-direito Bruno Silva, do Ajax. Além do experiente goleiro Abbondanzieri. Assim, não era raro ver uma roda de jogadores falando um espanhol rápido, como se estivesse em Montevidéu ou Buenos Aires. Presente no time multicampeão do Boca Juniors, Pato usou sua bagagem para reverter a marcação de um pênalti contra o Inter, na primeira fase da Libertadores. Fato que sustenta a aposta do cartolas.

 

Estrangeiros recentes da dupla Gre-Nal

Ano/ClubeInternacionalGrêmio
2006Rentería, Vargas, HidalgoEscalona, Maidana, Herrera
2007Orozco, Sorondo, GuiñazuSchiavi, Saja, Hidalgo, Bustos, Gavilán
2008Bustos, D'AlessandroOrteman, Julio dos Santos, Perea, Morales
2009 Herrera, Maxi López
2010Abbondanzieri, Bruno Silva 
2011Cavenaghi, Bolatti/Píriz 

“Na Libertadores, em razão da situação da América espanhola, o estrangeiro tem muito respeito do adversário”, diz o vice de futebol Roberto Siegmann. “Com relação à entrega, garra e vontade, isso todo jogador do Inter já tem”, pondera.

A investida em cima de Cavenaghi não é por sua nacionalidade. Garantia do Inter, mesmo que D’Alessandro tenha passado referências do atleta. “Esses jogadores estão sendo ventilados por vocês e pelo Inter por que têm qualidade. É o primeiro item. Se não fosse, não estaríamos em um possível contato, independente de ser brasileiro ou argentino. Não podemos levar por este lado”, comenta o técnico Celso Roth.

Além do centroavante que começou no River Plate, o Inter negocia com Facundo Píriz, jovem volante uruguaio, e o também marcador Mário Bolatti, da Fiorentina. Um dos dois deve ser anunciado no começo da próxima semana no Beira-Rio. “O mercado de argentinos está bom para os clubes do Brasil, diferentemente de outros anos. E nós focamos na Libertadores, ter um estrangeiro ajuda”, aponta.

Diminuindo com os anos

A história do Grêmio contém, em suas mais gloriosas passagens, figuras estrangeiras. De Anchieta e Hugo De Leon, em meados da década de 70 e começo dos anos de 1980, a Arce e Rivarola, integrantes da equipe que faturou o bicampeonato da Libertadores. Time com características muito próximas do futebol uruguaio e argentino, inclusive.  

Mas nos últimos seis anos o time mostrou uma redução considerável nos estrangeiros do elenco. Em 2006 eram três, com Escalona, Maidana e Herrera. No ano seguinte, aumento: o goleiro Saja, o zagueiro Schiavi, o volante Gavilán e também o meia Júlio dos Santos. Na outra temporada, de novo três. Com Orteman, Richard Morales e Perea. O número subiu para quatro em 2009. Orteman e Perea seguiram, ganhando a companhia de Maxi López e a volta de Herrera; em 2010, porém, a redução foi total e nenhum estrangeiro ficou. O mesmo acontece em 2011, quando até o presente momento não há jogadores de fora do Brasil no Grêmio.

“Temos que tomar muito cuidado com a ‘América B’. Chilenos, equatorianos, peruanos, colombianos, este tipo de jogador não nos interessa”, dizia Luiz Onofre Meira, quando ocupava o cargo mais alto do departamento de futebol gremista, entre 2008 e 2010.

Renato pediu e levou

A não contratação de estrangeiros, agora, está também ligada ao temor de Renato Gaúcho pela adaptação do jogador. “Eu não gosto muito de trabalhar com estrangeiros. Não adianta trazer um jogador que vá precisar de adaptação ao futebol brasileiro”, disse o treinador, no final do ano passado. Outro fator que pesa contra os ‘hermanos’ é a maneira que Maxi López se desligou do Grêmio. Mesmo com os gaúchos arcando com os valores para sua permanência, o gringo preferiu se transferir para o Catania, da Itália, no começo de 2010. O Grêmio ainda cobra uma indenização do atleta na justiça e a relação ficou visivelmente abalada.
 

Coincidência ou não, os títulos diminuíram no Olímpico e abarrotaram o armário no Beira-Rio. Com gringos em campo, além das conquistas do passado, o Grêmio teve melhores campanhas. Foi vice da Libertadores de 2007, do Brasileirão de 2008 e chegou na semifinal da América no ano seguinte. Só com brasileiros, nenhuma campanha expressiva, apenas o título do Gauchão do ano passado. No Inter, são cinco taças: duas Libertadores, um Mundial, uma Recopa e uma Sul-Americana. Em todas a participação estrangeira foi fundamental.