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Novo-velho camisa um: Lauro se define como goleiro forjado para decisões

Lauro foi importante na conquista da Sul-Americana de 2008 e está de volta ao time  - Jeremias Wernek/UOL Esporte
Lauro foi importante na conquista da Sul-Americana de 2008 e está de volta ao time Imagem: Jeremias Wernek/UOL Esporte

Jeremias Wernek

Em Porto Alegre

01/03/2011 07h01

O novo goleiro do Internacional é um velho conhecido da torcida. Lauro está de volta. Agora muito mais experiente. Segundo ele, mais preparado. Bagagem acumulada nos 12 meses em que amargou ficar fora até do banco de reservas. Com mais uma chance, o jogador garante: é um goleiro feito para jogos decisivos.

  • Alexandre Lops/AI Inter

    Lauro desbancou Clemer, logo que chegou ao Inter

  • Goleiro virou titular no meio da Copa Sul-Americana e ajudou o Inter a vencer Boca Jrs (foto), Chivas e Estudiantes, na grande decisão do torneio de 2008

Os fatos que baseiam a afirmação de Lauro são palpáveis. O jogador lembra os clássicos diante do Grêmio, além das partidas importantes da Copa Sul-Americana de 2008 e da Copa do Brasil do ano seguinte para se definir como o homem da decisão. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o goleiro relembra dois momentos marcantes do Mundial de Clubes de 2010, admite cobrança maior no Rio Grande do Sul e se mostra admirador do trabalho de Celso Roth. Confira o bate-papo abaixo.

UOL Esporte: Esse ano, quando você voltou ao time titular, sempre que deu entrevistas citou que está mais experiente e maduro. E até usou a palavra preparado. O que ajudou a se sentir mais preparado agora em 2011?

Lauro: Até pelo momento que eu passei no ano de 2010, uma coisa inesperada, depois da sequência de jogos que vinha tendo. Uma das coisas que coloquei como prioridade como pessoa, é que quando tivesse oportunidade estaria melhor. Então eu comecei a analisar o que eu tinha de bom e de ruim. Não é só falar por falar, eu realmente coloquei isso dentro de mim. Então por isso essa confiança e a certeza. Com a chegada do treinador, o Marquinhos, o início de ano com perspectiva melhor, eu fiz uma pré-temporada bem feita. Juntando tudo isso, dá mais confiança para entrar em campo e fazer o melhor.

UOL Esporte: Logo que surgiram contestações, perguntaram para você se ainda era reflexo daquela falha diante do Barueri [na reta final do Brasileirão de 2009]. Você ainda vê isso como o gênese das críticas aqui no Inter?

Lauro: Todo momento que o goleiro falha, fica marcado. Aquele jogo era um marco, a gente estaria buscando cinco vitorias para conquistar o título. Toda falha marca e você acaba pagando. Não é só comigo, com outros goleiros também. Vou citar o Rogério Ceni que falhou na decisão com o Inter. Você ficar marcado por um lance só acho que é muito injusto. A gente, dentro de campo, está sujeito a fazer coisas boas ou ruins. Ninguém ouve falar muito quando você faz uma grande defesa. Tenho certeza que fiz grandes defesas no Campeonato Brasileiro em várias partidas, que decidiram o resultado da partida para o lado do Inter. A gente lamenta que algumas pessoas coloquem e relembrem isso. Você carrega o peso por uma fatalidade.

GOLEIRO DE JOGO GRANDE

Lucas Uebel/Vipcomm
Sempre importante ter um goleiro decisivo, no momento em que o time mais precisa. Momento de decisão. Lembro de ir bem em várias partidas assim, até mesmo no Gre-Nal [...] Tenho uma confiança muito grande quando bate ao saber que existe a necessidade de ter uma postura de confiança. Tenho o perfil de estar bem tranquilo nestes momento

Falha em decisão você não teve no Inter. Pelo contrário. Em 2008 na Copa Sul-Americana o desempenho foi muito bom. Em 2009 o Inter não ganhou a Copa do Brasil, mas você foi bem. Inclusive com uma grande defesa diante do Flamengo, no Maracanã. Por isso tudo, essas críticas seriam injustas?

Sempre importante ter um goleiro decisivo, no momento em que o time mais precisa. Momento de decisão. Lembro de ir bem em várias partidas assim, até mesmo no Gre-Nal. Mas eu não tenho que me preocupar se isso é justo ou injusto. A gente tem uma cultura no futebol brasileiro. Se é feito dessa forma aqui, não sou eu que vou ficar questionando. O negócio é ficar com a cabeça erguida sempre, sereno se estiver bem ou mal.

Não parece muito ser do seu perfil falar de características. Mas você se vê como um goleiro que cresce em decisão? Onde o clima é diferente?

Exato. Tenho uma confiança muito grande quando bate ao saber que existe a necessidade de ter uma postura de confiança. Tenho o perfil de estar bem tranquilo nestes momentos. Estar focado e ajudando os companheiros. Fiquei muito feliz nestes jogos da Libertadores com minha atitude dentro de campo. Tivemos três jogos de preparação e cada jogo foi acrescentando. Espero futuramente corresponder e dar alegria para o nosso torcedor, para o nosso clube.

Como é ir para o maior torneio da carreira, no caso o Mundial de Clubes de 2010, sabendo que a chance de jogar é muito pequena?

É um momento dividido. Muita alegria pela oportunidade que a gente estava tendo, podendo ser marcado como um grupo muito especial na história do Inter. E triste por saber que as chances de jogar eram remotas. Mas valeu como uma experiência, como aprendizado. Viver aquele clima foi muito bom. Indescritível o momento da nossa chegada, passando na rua e vendo uma cidade praticamente tomada por colorados. O estádio também. E também muito dolorido ver o sofrimento dos torcedores após o jogo. Serve de lição e somando tudo, foi algo importante. Serve de aprendizado para o futuro, se chegar lá.

Em 2010, mesmo ficando fora do banco, você nunca reclamou de nada. Não chegou uma hora que você pensou em "chutar o balde", pedir mais chances ou algo assim?

RESERVA, LESÃO E EMPRÉSTIMO NO CRUZEIRO


Quando cheguei no clube tinha o Fábio e o Juninho. A gente disputava posição e era uma disputa bem acirrada. Quando eu tive chance de jogar me lesionei. O Cruzeiro não queria me emprestar, mas foi colocado da importância de eu jogar. Aí, sem brigas, eu fui para o Sertãozinho disputar o Campeonato Paulista. No meu retorno, o Cruzeiro me passou a proposta do Inter. Então, de comum acordo, eu sai. Passei por uma situação difícil, eu vinha jogando pela Ponte Preta. Nunca com acomodação. Você ficar quieto não é sinal que está acomodado. Às vezes que fala e fala quer esconder o que está fazendo de errado dentro de campo. As coisas vem da forma que a gente faz, ou seja. Se você faz coisas boas vem coisas boas. É nisso que acredito. Tenho boas lembranças do Cruzeiro, apesar de não ter jogado.

Não, pelo respeito que eu tinha com as pessoas dentro do clube. A partir do momento em que você coloca publica e internamente uma insatisfação é ruim. Quando você assina um contrato longo não diz que você vai ser titular ou não. Que algo vai ser justo ou injusto. O que está no contrato é para ser feito. A decisão do treinador tem que ser tomada naquilo que ele pensa ser correto. Em relação a diretoria, sempre fui muito aberto com o Fernando Carvalho. E ele sempre colocou as coisas com clareza. Não tinha o porquê reclamar. Quando surgiu a proposta para eu sair, ele me explicou por que não iria aceitar. Eu aceitei. Lógico que é uma situação incomoda, mas tinha que pensar no clube também. Não só em mim. A proposta não era boa para o Internacional e eu entendi. Não tinha por que criar briga. Depois de tudo isso, ficou como um fato positivo para mim. O nosso vice, o Siegmann, colocou que minha postura tinha que ser valorizada. E o nosso torcedor também ficou feliz ao saber como é o goleiro Lauro nos momentos bons ou ruins. E tudo que você faz de bom volta em dobro para você. Por isso essa minha postura de não me rebelar.

Pelo menos para quem observa o treino, parece que existe uma diferença – um tanto quanto significativa, na preparação dos goleiros do Inter. Com a saída do Clemer e a vinda do Marquinhos. Você também percebe isso?

Não é defesa nem crítica. Mas existe diferença de um treinador para outro. Um valoriza chutes de fora da área, outro valoriza os cruzamentos, trabalho de agilidade e força. Quem observa atentamente, vai sempre perceber diferença. O Clemer tinha acabado de jogar e virou treinador de goleiros. Me surpreendeu a maneira como ele mudou o foco. É difícil jogar tanto tempo e virar um treinador agindo com naturalidade dois ou três meses depois. O Clemer sabia o que estava fazendo. A gente tem muito respeito pela pessoa dele e pela conduta profissional, sempre de muita seriedade no trabalho. Já com o Marquinhos, é um método diferente. Um treinador experiente, que já trabalho no clube há dez anos. Com goleiros como Taffarel e André. Uma pessoa centrada e que procura estar exigindo ao máximo. Para mim, não tem quem é melhor ou não. São características que tem que ser respeitadas. O que posso dizer é que estamos em boas mãos com o Marquinhos. Nos exige muito nos detalhes e sabe o que passar para os goleiros.

A cobrança aqui no Rio Grande do Sul é bem diferenciada em relação aos outros lugares por onde você já passou, Lauro?

Existe uma cobrança muito forte mesmo, acho que por característica das pessoas que vivem aqui. Tenho amigos gaúchos e eles quando saem daqui vêem a diferença daqui, pela cultura e maneira de agir. A cobrança é muito grande por parte da imprensa e dos torcedores por resultados. Temos que nos adaptar. Mas é importante colocar a situação da justiça. Às vezes você vai fazer críticas, tanto torcida quanto imprensa, tem que trabalhar com a justiça. Você criticar por criticar, pode prejudicar o jogador. Mesma coisa com elogio. Já vi casos, sem citar nomes, de jogadores que fizeram duas ou três partidas e serem colocados no ponto máximo. Falarem que era o novo Nilmar, o novo Alexandre Pato. Na sequência, se viu que não era isso. Tem que ter cuidado, mas o profissional que quer se dar bem aqui no sul, tem que estar preparador e acostumado. Se sai muito mais fortalecido com isso.

Tem uma pessoa que convive com isso, críticas e contestações fortes há tempos, aqui no estado. O Celso Roth. Como você percebe ele e como está a relação dele com o grupo depois do Mundial?

O Celso age sempre com bastante clareza nas coisas colocadas para ele. Tudo que é feito ele repassa para gente. É uma maneira correta, pois não tem mais menino dentro do futebol. Primeiro houve uma valorização, por parte da diretoria, em renovar o contrato do Celso após o Mundial. Dar toda a estrutura para ele montar o time, com contratações e chegaram novos jogadores. É um treinador que está buscando o encaixe ideal para o time. Um treinador que exige e está de doando bastante. Isso daí vale muito para se ter respeito com o profissional. Às vezes o cara está dando a vida, querendo o bem do clube e recebendo críticas pesadas. A análise que eu tenho, estando dentro do grupo, é que o Celso tem o grupo na mão. Está no início de ano com várias mudanças e tentando encaixar. Tenho certeza que depois desses 15 dias de treino, vai haver uma mudança muito grande. Tenho certeza que vamos ter uma sequência de vitórias pela evolução natural. A tendência é melhor. A gente sabe que vamos alcançar o ponto alto da forma física mais para frente. Com isso, vem as vitórias e a confiança no trabalho do Roth.