Topo

Palmeiras-BA, berço de Liedson e M. Jackson, relembra passado da dupla e pede ajuda

Luiza Oliveira*

Em São Paulo

04/03/2011 13h02

Liedson e Adriano Michael Jackson jogam em grandes rivais e são os artilheiros de Corinthians e Palmeiras na temporada. Mas têm muito mais em comum. De origem pobre, os dois cresceram na cidade de Valença, na Bahia, curiosamente jogaram em um Palmeiras durante a adolescência e não deixaram boas lembranças no clube amador.

ARTILHEIROS: CORINTHIANS E PALMEIRAS

  • Fabio Braga/Folhapress

    Liedson voltou ao Corinthians com a missão de substituir Ronaldo e tem dado conta do recado

  • Adriano Vizoni/Folhapress

    Adriano também não deixa a desejar. Ao lado de Kleber, é o maior goleador do Palmeiras em 2011

O Palmeiras da cidade que fica a 278 km de Salvador se orgulha de ter participado da formação não só dos dois, mas também de outros atletas que vingaram, como o lateral-esquerdo Júnior (ex-São Paulo) e o atacante Oseas (ex-Palmeiras). Mas esperava uma recompensa maior em troca.

O diretor-presidente do clube Domingos Ribeiro de Assis, o Mingo, diz que o time passa por uma situação financeira complicada e reclama que os filhos ilustres nunca deram assistência. A equipe hoje vive de doações de sócios e, por falta de estrutura, conta apenas com a categoria juvenil. Segundo o dirigente, o tio de Adriano ficou encarregado de pedir uniformes ao sobrinho, mas não obteve resposta.

“Nunca mais deram valor, reconhecimento. O Liedson nunca veio na minha casa, mas o destino da vida é esse mesmo. Eu acho que não é obrigação deles não, mas acho que deveriam ajudar. A gente não está trabalhando só com eles, estamos tentando formar cidadãos, pais de família. Eles deveriam pensar nisso”, lamentou.

Os goleadores não demonstraram muita afeição ao time de várzea baiano.

"Eu já sabia que ele [Adriano] é de lá também. Conheço algumas pessoas da família dele. Joguei [no Palmeiras] faz muito tempo, nem lembro direito. Acho que foi em 1994 ou 95. Mas foi coisa rápida, acho que um campeonato só. Time de várzea é assim, você pula de um para o outro", comentou Liedson.

"Joguei no Valencia quando tinha 14 anos e fiquei no Palmeiras dos 16 aos 18. Fui campeão nos dois times. Eu sabia que o Liedson tinha jogado no Valencia, mas não no Palmeiras. Eu torcia pra ele quando ele estava na seleção de Portugal e gosto dele no Corinthians também. Enquanto ele estiver fazendo gol lá e eu estiver fazendo gol aqui, está ótimo", relembrou Adriano.

LIEDSON EM NÚMEROS

  • 7

    gols na temporada

     

  • 33

    anos de idade

     

  • 1,75

    metros de altura

     

  • 63

    kg

     

E a mágoa de Mingo não se restringe aos jogadores. Depois de adotar o mesmo nome, cores e escudo da Sociedade Esportiva Palmeiras, o primo pobre também recorreu ao primo rico de São Paulo. Mas as tentativas foram em vão e nunca foram atendidas. Os valencianos decidiram se vingar. Mudaram o escudo e adotaram apenas o Periquito como símbolo.

Na época do Palmeiras-BA, Liedson e Adriano não tiveram contato pela diferença de idade. Dez anos mais novo, Adriano trilhou os passos que Liedson, hoje com 33 anos, já havia percorrido.

Domingos deixa a chateação de lado e ressalta a dedicação dos pupilos e a qualidade técnica que já os diferenciava entre os garotos da mesma idade.

“Eles jogavam até anoitecer, na lama e no meio dos caranguejos. Não tinha tempo ruim com eles. É muita perseverança. E o que eles mais têm em comum é a velocidade. Nesses tiros de 50m ninguém ganhava deles”, conta.

ADRIANO EM NÚMEROS

  • 6

    gols na temporada

     

  • 23

    anos de idade

     

  • 1,70

    metros de altura

     

  • 65

    kg

     

Liedson nasceu em Cairú, também na Bahia, mas bem jovem se mudou para Valença, onde parte de sua família vive até hoje. Saiu de lá para atuar no também baiano Poções. Mingo conta que o atacante teve uma proposta do Vitória-BA em 1998, mas recusou por medo de não se adaptar e seguiu conciliando a vida de atleta com a de empacotador do supermercado Rio Branco.

Adriano também precisou se esforçar. Entre bicos de servente de pedreiro e os campeonatos amadores acabou se destacando quando marcou um gol na final do municipal de 2005 contra o Fluminense, time local. O feito chamou a atenção e ele acabou contratado pelo Bahia.

*Colaboraram Carlos Padeiro e Paula Almeida