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Sócios do Santos definem rumo do clube em eleição de estatuto revolucionário

Caso o novo estatuto seja aprovado, Luis Alvaro ainda poderá ser presidente do clube até 2017 - João Henrique Marques/UOL
Caso o novo estatuto seja aprovado, Luis Alvaro ainda poderá ser presidente do clube até 2017 Imagem: João Henrique Marques/UOL

João Henrique Marques

Em Santos (SP)

11/03/2011 07h00

A proposta de revolucionar o estatuto, criando um novo modelo de gestão no futebol brasileiro, será colocada em votação pelo Santos neste sábado, na Vila Belmiro, das 10h às 18h. O clube convoca os associados maiores de 18 anos, e que tenham, no mínimo, três anos de associação, para confirmar, ou não, a mudança do regime político.

O novo estatuto, aprovado no Conselho Deliberativo por unanimidade no mês passado, apresenta artigos modernos, enriquecedores, democráticos, éticos e até de responsabilidade social, mas tem como ponto principal, e mais polêmico, a extinção do presidencialismo.

A proposta embutida no novo documento obriga a criação de um Comitê de Gestão no clube, formado por nove integrantes, para que as decisões sejam tomadas em conjunto.

A figura do presidente ainda estará presente, assim como a do vice. No entanto, outros sete gestores serão eleitos pela chapa, posteriormente ao resultado das eleições, e dividirão os poderes no clube.

ALGUMAS MUDANÇAS DO NOVO ESTATUTO

O órgão executivo do clube será o Comitê de Gestão, formado por um presidente e um vice, eleitos em Assembleia Geral. Eles escolherão sete pessoas, que atuarão no Comitê como diretores.
O mandato do Comitê de Gestão e do Conselho Deliberativo será de três anos e só será possível uma reeleição.
Os cargos de membros do Conselho serão decididos por proporcionalidade. Isso significa que a porcentagem alcançada por uma chapa na votação será a mesma que ela terá direito dentro do Conselho.
Os dirigentes do Santos não poderão emprestar dinheiro ao clube.
Se decidido pelo Conselho, as eleições também poderão ser realizadas por correio ou internet.
O Santos terá definido o uniforme branco como o principal da equipe. O estatuto atual não define nenhum uniforme como o principal.
A Vila Belmiro terá o endereço "Rua Princesa Isabel, s/nº" em vez de possuir o número "77", adotado na administração anterior
A sede do clube não poderá ser alterada de Santos. No estatuto atual, ela pode ser transferida.
Haverá as embaixadas do Santos, representações dos sócios do clube com, no mínimo, 100 integrantes, em qualquer local. Nelas, serão realizadas campanhas sociais, captação de novos associados, entre outros.
Para adiantar receita da próxima administração, o presidente deverá pedir autorização para o Conselho Deliberativo. Hoje não há impedimento.

“O conselho de administração só pode tomar decisões com presença de, no mínimo, cinco membros, e por maioria simples de votos”, cita o artigo 62 do novo estatuto, explicitando a diminuição do poderio do presidente.

O modelo de gestão já é adotado pelo Santos desde a posse de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro. Oposicionistas ferrenhos o chamam de “Rainha”, em uma clara alusão ao regime parlamentarista que se assemelha com o atualmente adotado no Santos.

Luis Alvaro divide os poderes com os “ministros” do Grupo Guia (Gestão Unificada de Inteligência e Apoio ao Santos Futebol Clube), formado basicamente por empresários conselheiros do Santos. O grande problema é que alguns deles são os responsáveis por investirem dinheiro no clube com a elaboração do “bolsão” de jogadores, que atualmente detém parte dos direitos econômicos de Neymar, Elano, Arouca e Jonathan. Com a oficialização do novo estatuto, os gestores do clube não poderão ter participação em porcentagens de atletas, a não ser que infrinjam os códigos éticos determinados.

“Nenhum dirigente pode ser agente ou procurador do atleta. Qualquer conflito de interesse será julgado pelo clube. Estamos propondo um modelo de gestão coorporativa, com todos os membros do comitê de gestão devidamente remunerados”, disse o presidente da comissão de estatuto, Fernando Martins, em entrevista ao UOL Esporte.

O novo estatuto proposto também tem itens favoráveis ao clube de consenso entre os associados. Como é o caso da permissão de apenas uma reeleição, não dando margem para que volte a acontecer uma ditadura no clube, como a ocorrida recentemente com Marcelo Teixeira, que ficou dez anos no poder.

A ala opositora do Santos encabeçada por Teixeira está enfraquecida no clube. Conselheiros de confiança, e o próprio ex-presidente boicotaram a eleição do estatuto no Conselho Deliberativo, sabedores de que as presenças em nada mudariam o resultado de aprovação.

Marcelo Teixeira não vai comparecer a Assembléia Geral para votar no sábado – a assessoria do ex-presidente comunicou que ele estará em viagem -. A chance do documento ser desaprovado é considerada nula pela oposição. O Santos está prestes a ganhar um novo estatuto, após sete anos da última modificação.

“Essa diretoria foi esperta. Programou a eleição do novo estatuto no sábado seguinte ao carnaval, sem dar chance para o associado conhecer o que vai votar. Ele será aprovado. Só que não houve uma explanação para os sócios, somente para os conselheiros, que são a maioria da situação. Estou cheio de dúvidas, sendo assim, voto contra. Não quero ser julgado como omisso”, disse Vasco Vieira, sócio do Santos há cerca de 50 anos, e que trabalhou na última campanha presidencial de Marcelo Teixeira.