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Rivais do Grêmio reclamam da fama após morte de coruja: "o importante era o jogo"

Marinho Saldanha e Carmelito Bifano

Em Porto Alegre

07/04/2011 07h02

No dia 27 de fevereiro, um ato de violência contra um animal indefeso tornou o Atlético Junior de Barranquilla, rival do Grêmio nesta quinta-feira, famoso no mundo todo. No jogo contra o Deportivo Pereira, pelo campeonato colombiano, uma coruja levou uma bolada e um chute do panamenho Luis Moreno. A "patada" gerou a ira da torcida e o animal, mascote do time que vivia no estádio Metropolitano, não resistiu. A morte gerou comoção em toda parte. Os jogadores, que entram em campo às 19h15 pela Copa Libertadores em Porto Alegre, não escondem a insatisfação com a constante lembrança: para eles, foi feito muito alarde com a morte da mascote.

MOMENTOS DIFÍCEIS NO MUNDO ANIMAL

  • Reprodução

    A coruja foi agredida por Luis Moreno, do Deportivo Pereira, em partida pelo Campeonato Colombiano

  • Reprodução/La Libertad

    Morta, virou estátua e seu exemplo se torna pedido de paz e tolerância a todos envolvidos no futebol

  • Carmelito Bifano/UOL Esporte

    Jornalista Manoel Ortega, do El Heraldo, revela que torcida sente falta e há novas corujas no estádio

O único brasileiro da equipe, Anselmo de Almeida reclama que se dá mais atenção atualmente à morte da mascote do que ao time. Segundo ele, jogadores e torcedores de Barranquilla não deram tanta importância para o que aconteceu.

"Eu acho que deram muita importância a uma coisa que neste momento não era tão importante. Ganhamos um jogo importante contra o Deportivo Pereira, não vimos uma relevância neste ato. O mais importante era o jogo. O animal leva uma bolada antes da famosa patada. Acho que não foi assim, o jogador tenta tirar o animal com o pé. Como é um animal do estádio que as pessoas têm um carinho especial, falaram tudo isso", explicou o zagueiro, natural de Minas Gerais.

O chute no animal indefeso gerou indignação em várias partes do mundo, mas dentro do elenco, foi levado na brincadeira. "Não sou de Barranquilla, não posso falar", brincou um dos profissionais do clube. "Já passou, vamos falar sobre o time. Não há mais corujas", disse um dos atletas enquanto a reportagem do UOL Esporte conversava com Anselmo de Almeida.

Como surgiu o mito da coruja e a homenagem ao animal morto

Os torcedores do Junior de Barranquilla acreditam que sempre que uma coruja cruza o céu sobre o estádio a equipe acaba vencendo. Coincidência ou não, o jogo em que corujinha morreu começou com vitória do Deportivo Pereira, mas acabou em virada por 2 a 1. "Assassino! Assassino!" gritavam os aficionados após a patada.

"A crença surgiu em 1996, quando apareceu uma coruja pela primeira vez em uma partida bastante complicada. Um jogo que estava empatado em 1 a 1 acabou 4 a 1 para o Junior. Depois, cada vez que a ave aparecia, a equipe ganhava. O povo pegou um carinho enorme pelo animal. Ao ver um jogador rival dando um chute, o povo reagiu e se indignou quando chegou a notícia da morte", disse Manoel Ortega, do jornal El Heraldo.

Mais tarde, Moreno explicou que fez o movimento com o pé pensando que o animal voaria. Em vão. "Eu quero pedir desculpas aos torcedores. Eu não queria machucar a coruja. Eu chutei para ver se ela voava”, tentou se defender o agressor. De nada adiantou. Ameaças de morte foram feitas ao zagueiro, que foi multado em 560 dólares pela Divisão Maior do Futebol Colombiano (Dimayor). Seu clube, inclusive, divulgou nota oficial pedindo desculpas pelo ato hostil

Refeito do trauma, o Junior não ficará sem mascote. As corujas são comuns na região e, após a morte da mais famosa delas, os jornalistas locais encontraram um ninho. "O estádio é grande e há ninhos de corujas e, depois que ela morreu, a imprensa descobriu nove ovos em um setor do estádio. O que nos faz imaginar quantas corujas estão por lá", afirmou Manoel.

Partiu de um jornalista a ideia de erguer um monumento em homenagem ao animal. Mesmo que o Tiburon (tubarão) seja o primeiro representante animal do Junior, a crença popular na sorte trazida pelo animal só aumentou com o chute do adversário e uma estátua foi colocada atrás de um dos gols do estádio Metropolitano. "A ideia era empalhar, mas não foi possível, pois no dia seguinte ocorreu a necropsia e o embalsamador não poderia fazer seu trabalho. O que fizeram foi ume pequena escultura, colocando, digamos, em uma cripta de vidro. Servirá como uma mensagem de não violência no futebol. O esporte não pode ser violento e rechaçamos isso mais que tudo", disse Manuel Ortega.

A ideia é que ao lembrar do que ocorreu em 27 de fevereiro, jogadores, imprensa e torcedores reflitam sobre a violência e a intolerância no futebol. O atingido naquela ocasião foi uma coruja, mas em outros momentos as vítimas são torcedores, jogadores e demais envolvidos em eventos esportivos.

"O que passa é que lá estamos em uma aldeia e de pronto não esperávamos que tivesse essa repercussão, mas aconteceu. Não é comum que golpeiem um animal tão indefeso como esse e ele morra. Porém, o mundo está globalizado pelas comunicações e qualquer coisa que pensamos que é pequena dá a volta no mundo", finalizou o jornalista.

PREDILETO DOS ATLETAS, MAS NÃO DA TORCIDA DO JUNIOR DE BARRANQUILLA

  • Reprodução site oficial do Junior de Barranquila

    A mascote oficial do Junior, o Tiburón (tubarão), não gera o mesmo ciúme que a coruja. No entanto, os torcedores acreditam que as aves trazem mais sorte para a equipe colombiana