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Luizão revela atritos com Tite, Luxemburgo e Leão e diz: "O Santos foi um erro"

Hoje empresário, Luizão tentou evitar atritos, mas criticou alguns de seus ex-técnicos Imagem: Priscila Gomes/UOL

Do UOL Esporte*

Em São Paulo

08/04/2011 07h00

Luizão se esforça para ser boa-praça, não admite ter desavenças com ninguém e tenta evitar polêmicas, sem muito sucesso. Em entrevista ao UOL Esporte, o atacante que fez sucesso em clubes como Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Vasco e Flamengo atacou alguns de seus ex-treinadores e um clube em especial.

“[O Santos] foi o maior erro da minha minha vida. Não por ter vestido a camisa do Santos, mas pela maneira que me trataram. Foi o maior erro que eu acho que cometi”, disse Luizão, que hoje trabalha como empresário.

O atacante, campeão da Copa do Mundo de 2002 com a seleção, conta que foi traído por Vanderlei Luxemburgo na passagem pela Vila Belmiro. Mas mantém o estilo boa-praça: “Somos amigos”.

O discurso é o mesmo para Antonio Lopes, Emerson Leão e Tite, outros ex-técnicos que viraram alvo de Luizão.

Confira a íntegra da entrevista com o jogador:

UOL Esporte – Você sente falta de ser identificado com um único clube?
Luizão -
Acho que o único que teria essa chance é o Corinthians. Eu já estava há três anos, era o capitão, tinha identificação. Mas aí teve todo o problema na saída. Um dia sentamos, [Alberto Dualib, presidente do clube], Edvar [Simões, diretor de futebol] e Dick [Law, da investidora Hicks Muse]. O Dick falou que eu tinha duas alternativas, ou eu fazia um acordo para receber o que eu tinha atrasado ou brigava na Justiça e esperava cinco anos, para talvez receber. Eu levantei para brigar com ele, e o Edvar que me segurou. Eles me queiram fora, não o clube, a empresa. Mas eu sou muito querido pelos corintianos. Talvez, se eu tivesse feito um marketing como o Marcelinho [Carioca] e outros da minha época, fosse ainda mais.

*Nota da Redação: A reunião em questão aconteceu em 2001, meses depois de Luizão fechar com o Borussia Dortmund e lesionar-se, cancelando o contrato na sequência.

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O Felipão falava na palestra: 'O Luizão é bom, chuta de esquerda, de direita, cabeceia. Até para beber ele é bom. Se deixar ele toma uma caixa de cerveja'

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Lembrando as palestras de Felipão, então técnico do rival Palmeiras. Veja mais no vídeo no topo da página.

UOL Esporte – Logo depois da saída do Corinthians, você teve uma passagem-relâmpago pelo Grêmio, sendo muito criticado na saída. O que aconteceu? Você guarda alguma mágoa?
Luizão -
Faltavam 20 dias pra acabar meu contrato, o Tite ia me colocar na reserva na semifinal da Libertadores. Eu já tinha acertado com o Hertha [Berlim, da Alemanha] e eu pedi para ir embora, porque já tinha perdido um contrato milionário no ano anterior por conta da lesão. Com o [José Alberto, então presidente do Grêmio] Guerreiro foi tudo certo. Mas aí tinha aquela briga. Tentaram me jogar contra a torcida. A única coisa que eu fiquei chateado na minha carreira foi com o Tite. No domingo eu soube que ia ficar no banco e pedi para ser liberado. Ele, sabendo que eu tinha pedido para ir embora, anunciou que eu estava no time titular. E aí eu já estava em São Paulo. Mas eu não tenho nada contra ele, é que foi uma situação mal resolvida.

UOL Esporte - Outro episódio polêmico foi no Santos, em 2005, quando você voltou ao Brasil e acabou sendo dispensado depois de poucos meses. O que aconteceu ali?
Luizão -
Foi o maior erro da minha minha vida. Não por ter vestido a camisa do Santos, mas pela maneira que me trataram. Foi o maior erro que eu acho que cometi. Eu sou amigo do Vanderlei [Luxemburgo, técnico do Santos na época], mas ele não foi correto comigo. Ele disse: ‘olha, estou te mandando embora, mas não sou eu. Eu quero que você fique, mas é a diretoria’. Aí depois passam dois meses e em uma palestra ele fala que o presidente disse pra ele que não tinha mais dinheiro. E que ele disse: ‘Bom, então vou mandar o Giovanni, o Luizão e o [Cláudio] Pitbull embora e economizo R$ 800 mil’. Ele foi uma pessoa que não agiu corretamente, e eu já disse isso na cara dele. Uma vez eu estava voltando pra São Paulo com o Kleber, lateral, e voltamos porque tinha saído o pagamento. Voltamos, fui no guichê e disseram que não estavam autorizados a me pagar. Você acha que isso é um clube sério? Não pagar um só atleta?

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Eu sou amigo do Vanderlei [Luxemburgo], mas ele não foi correto comigo. Eu já disse isso na cara dele

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Lamentando a passagem pelo Santos, em 2005, quando ele diz ter sido traído por Luxemburgo.

UOL Esporte – Você já sofreu muito com dirigentes? Tem ideia de quanto deixou de receber ao longo da carreira?
Luizão –
Eu sempre bati muito de frente com dirigente porque eu não tinha alguém que brigasse por mim. Por isso que hoje decidi ser empresário, acho que o jogador precisa disso. No Santos eu abri mão de mais R$ 1 milhão para não brigar. O Vasco me deve US$ 600 mil há 13 anos. No Corinthians eu acertei o que me deviam na época. O único lugar que me arrependo é do Santos, depois do que eu ouvi do Vanderlei. Me arrependo de não ter brigado pelos meus direitos.

UOL Esporte – As críticas a você foram constantes ao longo da carreira, até na seleção. Você sofreu muita pressão antes da Copa, por conta da lesão?
Luizão –
Antes da Copa do Mundo, principalmente contra a Venezuela [jogo das eliminatórias que decidiu a classificação para o Mundial de 2002], se não fosse pelo Felipão e pelo [Luiz Alberto, fisioterapeuta] Rosan, todo mundo queria me cortar. Até o [Antônio, então coordenador técnico do Brasil] Lopes, por quem eu corri tanto [no Vasco], queria me cortar. Ele queria chamar o Romário. Todo mundo queria. A maioria me olhava meio de lado, mas a bola te ensina. Eu joguei com um edema. Se você ver, nos dois gols que eu marco eu não apoio a perna esquerda.

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Antes da Copa, se não fosse pelo Felipão e pelo Rosan, todo mundo queria me cortar. Até o Lopes, por quem eu corri tanto [no Vasco], queria me cortar para levar o Romário

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Sobre a vaga que conseguiu no grupo campeão do mundo de 2002.

UOL Esporte – Como era a sua relação com o Antonio Lopes no Vasco? Você saía muito à noite?
Luizão -
Eu nunca menti pra treinador nenhum. Atleta nenhum engana treinador. Com o Lopes [em 1998] eu era solteiro, tinha dia que eu ia para a noite. Tinha 22 anos. Morava de frente pro mar, na Barra da Tijuca. Aí o Lopes dizia: ‘Foi para a noite ontem?’. ‘Fui’. ‘Tá, então dorme aí’. Aí dizia: ‘Meu polícia te viu tal hora na rua’. Eu respondia: ‘Mentira’. Eu nunca menti. Mas nunca fui muito de balada. Eu gostava mais de fazer meu churrasco, sempre morei em cobertura, de tomar minha cerveja.

UOL Esporte – Mais perto do fim da sua carreira, você fez muito sucesso no São Paulo, mesmo sendo muito questionado. Como foi aquele período?
Luizão –
Minha chegada foi imposição do Juvenal [Juvêncio, então diretor de futebol] e do Marcelo [Portugal Gouveia, então presidente]. O [Emerson, técnico do São Paulo na época] Leão não queria. Quando eu cheguei o Leão tinha umas brincadeiras que, se eu respondesse, ele ia ficar bravo comigo. Porque ele me chamava de quero-quero, com barriga grande e perna fina. E se eu chamasse ele de Glória Menezes e Clodovil? Giorgio Armani ele ia gostar, porque ele começou a se vestir todo de preto pra gente pensar que era o Armani. E ele começou a faltar com o respeito, mas eu levava na brincadeira. Mas eu não tenho nada contra o Leão. Agora, quando o [Paulo, técnico que seria campeão da Libertadores e Mundial pelo São Paulo] Autuori chegou ele me passou uma confiança que logo no primeiro jogo fiz dois gols.

UOL Esporte – Hoje você atua como empresário. É difícil lidar com os dirigentes?
Luizão -
Com dirigente é fácil, porque já tratava com eles. A maior dificuldade hoje são os pais. Meu pai veio fazer o meu contrato no Guarani uma vez. Quando ele subiu e começou eu disse: ‘Desce’. Nunca mais subiu. Hoje o moleque acerta um chute e o pai já acha que é o... E fica atrás do filho, quer se meter em tudo. Fica na cabeça do moleque, para de trabalhar. É a maior dificuldade. 

*Reportagem de Alexandre Rosafa, Cesar Cuninghant, Gustavo Franceschini e Priscila Gomes

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