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Clube dos 13 contesta argumentos da Globo e nega "maldades" na disputa por direitos

Ataíde Gil Guerreiro, diretor-executivo do Clube dos 13, fez questão de rebater o discuros da Globo - Gabo Morales/Folhapress
Ataíde Gil Guerreiro, diretor-executivo do Clube dos 13, fez questão de rebater o discuros da Globo Imagem: Gabo Morales/Folhapress

Mauricio Stycer

Crítico do UOL

17/05/2011 12h10

Em longa carta enviada ao UOL Esporte, o diretor executivo do Clube dos 13, Ataíde Gil Guerreiro, nega que a entidade tenha tido contato com a Rede Record durante o processo de licitação dos direitos de transmissão do Brasileiro 2012, como sugeriu o diretor-geral da Rede Globo, Octavio Florisbal, em declarações na semana passada.

Guerreiro também contesta outros argumentos levantados por Florisbal (leia a entrevista aqui) em entrevista ao UOL Esporte, publicada no último dia 10. Na conversa, o executivo da Globo apresentou as razões da emissora para romper com a entidade e negociar individualmente com cada clube.

Em sua carta, enviada também a Florisbal, Guerreiro reconhece o papel da Globo “na divulgação e consolidação do futebol como esporte e como negócio” e observa que “boa parte da incontestável liderança” da emissora, “se deve a bem estruturada posição do futebol na grade de programação”.

Mas, depois dos elogios, ataca, como é possível ler nos trechos abaixo:

QUEIXA DOS CLUBES

Nestes anos todos, embora satisfeitos e muito bem tratados pela TV Globo, os clubes se queixavam de não ter certeza do real valor dos espetáculos que propiciavam. Uma cláusula de preferência existente nos contratos com a TV Globo para transmissão dos jogos de futebol dos campeonatos brasileiros, inibia outras emissoras a participar das concorrências realizadas a cada três anos.

NO CADE

A TV Globo se comprometeu a não incluir cláusula de preferência em futuros contratos de transmissão de futebol e abriu mão de exercê-la no contrato atual. O Clube dos 13, por sua vez, se obrigou nos futuros contratos de transmissão a realizar concorrências com regras claras e objetivas separadas em cinco mídias independentes: TV aberta, TV por assinatura, pay-per-view, internet e telefonia móvel.  

Na TV aberta a TV Globo não aceitava concorrer somente com regras claras e objetivas, alegava que pelo trabalho que realizam pelo futebol brasileiro deveriam ser incluídos conceitos “intangíveis” que a beneficiaria. Impossível atendê-la, considerar fatos “intangíveis” seria o mesmo que abandonar as concorrências e passar todas as mídias para a TV Globo, descumprindo o TCC (Termo de Compromisso de Cessação) assinado com o CADE.

PRINCIPAIS TRECHOS

Dúvida sobre a força dos clubes

Nestes anos todos, embora satisfeitos e muito bem tratados pela TV Globo, os clubes se queixavam de não ter certeza do real valor dos espetáculos que propiciavam.
Compromissos da Globo

A TV Globo se comprometeu a não incluir cláusula de preferência em futuros contratos de transmissão de futebol e abriu mão de exercê-la no contrato atual.
Sem conversas com a Record

O Florisbal, sempre cavalheiro, quando falou em apoio de outra emissora ao Clube dos 13, tenho certeza que não pensou em criar conjecturas espúrias sobre o processo licitatório. Entretanto, para que não restem dúvidas, em nenhum momento o Clube dos 13 teve envolvimento com a TV Record ou com qualquer outro órgão participante da concorrência.
C13 pensou em gerar as imagens

No início do processo licitatório para evitar a eterna discussão com a TV Globo sobre a exibição das marcas patrocinadoras das camisas dos clubes pensamos em gerar as imagens dos jogos.
Globo e o futuro do C13

Preocupa apenas que no atual envolvimento entre os executivos da TV Globo e os dirigentes dos clubes, a emissora terá enorme influência no que for decidido para o Clube dos 13.

MEDINDO O “INTANGÍVEL”

Considerando, porém, que a TV Globo tem a preferência unânime dos clubes e que a liderança de audiência supera e muito seus concorrentes, o Clube dos 13 procurou uma instituição com credibilidade, para desenvolver um modelo matemático que medisse a maior exibição das marcas dos clubes fora dos horários das partidas de futebol, nos noticiários, nos intervalos de programas, medindo a exposição dos patrocinadores das camisas dos clubes em toda grade das emissoras.

Contratada uma empresa especialista no desenvolvimento de modelos matemáticos, com a direção de catedráticos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o Clube dos 13 promoveu reunião conjunta com os representantes das três emissoras concorrentes, TV Globo, RedeTV e TV Record (SBT não se interessou e a Bandeirantes só pretendia ser sublicenciada) para discutir o modelo, cuja base de dados incluía a medição da exposição dos clubes efetuada pela empresa Informídia durante a competição do campeonato brasileiro de 2.010.

O estudo não prosperou em razão da TV Globo não aceitar discutir objetivamente uma forma de realizar a concorrência nas regras assinadas perante o CADE, continuando a insistir no “intangível”. Ressalte-se, o modelo matemático dava uma substancial vantagem para a proposta da
TV Globo.

CONJECTURAS ESPÚRIAS                                 

O Florisbal, sempre cavalheiro, quando falou em apoio de outra emissora ao Clube dos 13, tenho certeza que não pensou em criar conjecturas espúrias sobre o processo licitatório. Entretanto, para que não restem dúvidas, em nenhum momento o Clube dos 13 teve envolvimento com a TV Record ou com qualquer outro órgão participante da concorrência. Todas as reuniões, discussões ou trocas de ideias foram realizadas abertamente e os valores que poderiam ser alcançados com as concorrências não foram discutidos com as emissoras licitantes, excetuando-se uma única manifestação do Florisbal, em um café da manhã com o Fábio Koff e a Patrícia Amorim, sem a minha presença, sinalizando que a Globo pretenderia investir no máximo R$ 700 milhões anuais para deter todas as mídias de transmissão dos campeonatos brasileiros.

Os R$ 500 milhões de reais foram estabelecidos de comum acordo na “Comissão de Negociação” (composta: Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo e Santos), comparando os valores pagos pelas emissoras na transmissão dos jogos das Ligas Europeias e ouvindo dirigentes de mídias de algumas das principais agências de publicidade do país. Estes mesmos “mídias” ressaltavam que este piso de valor não seria problema para captação de patrocinadores pela TV Globo, mas seria muito difícil de ser conseguido pelas outras emissoras concorrentes.

EQUÍVOCOS

Para corrigir os pequenos e involuntários equívocos na entrevista do Florisbal:

O número de jogos exibidos na TV aberta foi mantido o mesmo do contrato atual, isto é, três jogos por rodada.

A emissora vencedora da concorrência poderá a seu exclusivo critério gerar as imagens dos jogos que transmite. No início do processo licitatório para evitar a eterna discussão com a TV Globo sobre a exibição das marcas patrocinadoras das camisas dos clubes pensamos em gerar as imagens dos jogos. Essa ideia, porém, foi abandonada no início do processo, pois o Clube dos 13 concluiu que não conseguiria gerar imagens com a qualidade e perfeição das emissoras concorrentes. Na carta-convite consta que o Clube dos 13 também gerará suas próprias imagens, para evitar os transtornos do contrato atual, onde a TV Globo não cede as imagens para as outras mídias e nem mesmo para os vídeos comemorativos dos clubes campeões brasileiros.

PAY-PER-VIEW

O crescimento das vendas no pay-per-view tem sido maior do que as outras mídias e tem a vantagem de propiciar, sem maiores discussões, um rateio que privilegia os clubes de grandes torcidas. Como é uma exclusividade da Globosat, o Clube dos 13 expôs aos seus executivos as intenções para melhorar ainda mais a arrecadação nesta mídia. Entre as várias opções, o Clube dos 13 decidiu pela retirada das imagens na TV aberta para o Estado da Federação onde o jogo é realizado. Como esta modificação tem reflexos diretos nos direitos da TV aberta, este assunto foi submetido às emissoras concorrentes antes da elaboração das cartas-convites. Somente com a TV Globo este tema não foi discutido em detalhes pela deterioração do relacionamento durante a reunião de apresentação. As outras duas concorrentes aceitaram os nossos argumentos, mesmo não sendo beneficiadas pelo pay-per-view, exclusividade da Globosat.

EM QUALQUER PRAÇA

No contrato atual a Globo tem direito a escolher seis jogos por temporada (e não dez) para transmitir sem qualquer restrição inclusive para as praças onde estes jogos se realizam. O Clube dos 13 manteve na concorrência a possibilidade da exibição livremente destes mesmos seis jogos, entretanto, condicionou a uma remuneração estabelecida de comum acordo entre as partes antes do início de cada temporada, dividida exclusivamente entre os dois clubes participantes. Nada mais justo, pois seriam os jogos mais importantes da temporada e nesses eventos a emissora arrecada muito mais com os anunciantes extras, dos intervalos, pré e pós jogo, que não são os patrocinadores habituais dos campeonatos.

SUBLICENCIAMENTO

Com relação ao sublicenciamento a Globo no contrato atual divide com o Clube dos 13, 50% das receitas que ultrapassarem 40% do valor que ela paga pela exclusividade. O Clube dos 13 estabeleceu o sublicenciamento em 20% do valor que a emissora receber do sublicenciado, com o mínimo de R$ 40 milhões por temporada. Este valor foi determinado depois de várias reuniões com os executivos da TV Bandeirantes, com o intuito único de não prejudicá-la.

FUTURO

Com relação ao futuro do Clube dos 13, a decisão caberá aos associados pela vontade da maioria. Seja qual for a decisão, reformulação ou extinção, a arrecadação dos clubes dobrou na venda dos direitos de transmissão, graças aos trabalhos realizados pelo Clube dos 13, abrindo a possibilidade de outras emissoras concorrerem em igualdade de condições no processo licitatório.

Preocupa apenas que no atual envolvimento entre os executivos da TV Globo e os dirigentes dos clubes, a emissora terá enorme influência no que for decidido para o Clube dos 13. Este envolvimento é nefasto para o futebol, incompatível com o papel que a televisão deve desempenhar, ela tem que ser a maior parceira do futebol, mas não deve influir na gestão. Muitas vezes os interesses entre as duas partes são conflitantes, seja na elaboração dos calendários, na exposição dos clubes, na compatibilidade com a grade de programação da televisão, na escolha dos patrocinadores das camisas dos clubes, na divulgação dos estádios e muitos outros assuntos.

Os clubes para serem instituições fortes, saudáveis e consolidadas, devem ser independentes para gerir o negócio futebol, respeitar, mas não se submeter, a órgãos públicos, federações ou emissoras de televisão. 

O que mais incomodou e decepcionou neste processo todo foi o lamentável posicionamento do Sr. Fernando Furlan, na “Audiência Pública” do Senado Federal, validando a forma atual de negociação entre a TV Globo e os clubes, totalmente contrária ao determinado no TCC.       

O processo não implodiu por “maldades” contra a TV Globo, implodiu porque ela entende que não pode correr o risco de perder concorrências e o Clube dos 13 inocentemente entendeu que o TCC deveria ser cumprido como redigido e assinado.