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Renan supera drama e admite desabafo com "segundo time dos gremistas"

Renan perdeu a mãe em março, voltou a ser titular com Falcão e brilhou nos pênaltis - Jefferson Bernardes/Vipcomm
Renan perdeu a mãe em março, voltou a ser titular com Falcão e brilhou nos pênaltis Imagem: Jefferson Bernardes/Vipcomm

Jeremias Wernek

Em Porto Alegre

17/05/2011 07h02

A final do Campeonato Gaúcho teve um personagem: Renan. O goleiro do Inter falhou na primeira partida da decisão, mas se redimiu nas cobranças de pênaltis. Defendeu três chutes e foi fundamental para a conquista do 40º título estadual do clube. Mais do que isso, o jogador tinha acumulada uma tragédia pessoal, a morte de sua mãe, no começo de março.

  • Jefferson Bernardes/Vipcomm

    Renan voltou a ser titular depois da chegada de Falcão e teve falhas nas finais; nos pênaltis, se consagrou e respondeu a flauta no estádio rival

Em entrevista ao UOL Esporte, o goleiro que retomou a posição de titular com a chegada de Paulo Roberto Falcão admite o desabafo após brilhar nas penalidades máximas. Renan era só sorrisos, mas achou tempo e espaço para imitar o goleiro Kidiaba, do Mazembe – algoz colorado em Abu Dhabi, em pleno gramado do estádio Olímpico. Para ele, foi um troco aos gremistas, que adotaram a equipe africana como um segundo time depois do Mundial de Clubes, em dezembro passado.

Contestado desde sua volta para o Brasil, na metade do ano passado, Renan vê sua permanência em Porto Alegre como bem possível. Muito pelo contexto pessoal. Confira o bate-papo com aquele que foi apontado por Falcão como símbolo da conquista vermelha do último domingo.

UOL Esporte: Qual a sensação depois de pegar três pênaltis em um Gre-Nal, final de campeonato e na casa do adversário?

Renan: Melhor impossível. Todo jogador quando criança sonha com jogos assim, então eu fico feliz de participar dessa história. Uma virada difícil do Inter, na casa do Grêmio. E culminar com defesa de pênaltis, que é sempre complicado para os goleiros. É muito bom.

UOL Esporte: Você chegou a estudar os batedores do Grêmio ou algo do gênero?

Renan: A gente sempre faz um levantamento dos batedores, tanto em jogo normal quanto para os pênaltis. Algo normal e com o Grêmio um pouco mais por ser final. Um levantamento. Mas alguns jogadores mudaram. Na hora, tive boa leitura, intuição e consegui mudar.

KIDIABA COM A 1 DO INTER

O torcedor do Grêmio encarnou o Mazembe como segundo time depois do Mundial, essa história toda. Brincaram muito com o goleiro do Mazembe, então foi uma brincadeira minha. Quem brinca tem que aceitar a volta

Renan explica o motivo da imitação do goleiro africano do Mazembe, dentro do estádio do maior rival

Nos últimos meses você tem enfrentado um fato duro, triste na vida particular. Você perdeu sua mãe. Evidente, óbvio, que este título não substitui, muito menos ameniza. Mas essa conquista tem um significado diferente também por este aspecto?

Sem dúvida (voz embargada). Depois do que aconteceu eu mergulhei no trabalho, de vez. Tentei a cada dia preencher a cabeça e não pensar nisso. Fico feliz de ter uma recompensa. A família é de colorados: minha mãe que faleceu e meu pai, que estava em casa vendo a final. Sempre tiveram esse sonho e o maior orgulho deles era me ver jogar com a camisa do Inter.

Você chegou a falar com o seu pai logo depois dos pênaltis no Olímpico? Como ele reagiu, o que ele falou para você?

Estava muito feliz. Fui para casa direito depois do jogo. Ele estava muito feliz. Jantamos em família e ficamos em um momento de felicidade. Temos que valorizar isso no futebol.

Vencer o Campeonato Gaúcho também é um sinal de que a vida continua, de que é preciso virar a página após o problema pessoal?

Claro, acho que o mundo não para. A cada dia eu tenho lembranças, cada dia é diferente. Tem dias que a saudade aperta e é bem complicado. Vou ter que conviver pelo resto da vida e nunca vai ser normal, nunca vai ser como antes. Mas graças a Deus tenho o meu pai, que ficou aqui conosco. Preciso cuidar dele, dar qualidade de vida e ajudar no que ele precisa. Preciso tocar minha vida. Com meu pai, minha esposa e minha filhinha, de cinco meses. Essa é a linha que eu tenho que seguir agora.

UOL Esporte: Até por isso tudo, por ter participado do Mundial como titular, a imitação do goleiro do Mazembe foi um desabafo?

 FALCÃO APONTA RENAN COMO SÍMBOLO

  • "O Renan tem experiência. Ele passou por um problema na vida dele recente. Aqui não importa técnica. Mas é a vida. Não sei quantas pessoas poderiam sair de uma situação dessas trabalhando. Não é fácil a situação dele. Perdendo a mãe e o pai sem saber. Poderíamos simbolizar essa conquista no ser humano Renan. Ele superou a perda da mãe. Não tenho condições de analisar a parte técnica. Não seria justo", disse o técnico, logo depois da vitória de 5 a 4 nos pênaltis.

Renan: Desabafo de todo o grupo, que viveu uma semana difícil e desde o Mundial ouvimos contestações ao grupo. Acho que uma virada contra o Grêmio, ganhando um título bem difícil, é uma forma de desabafar. Ali foi mais uma brincadeira mesmo. O torcedor do Grêmio encarnou o Mazembe como segundo time depois do Mundial, essa história toda. Brincaram muito com o goleiro do Mazembe, então foi uma brincadeira minha. Quem brinca tem que aceitar a volta. A gente ouviu muita coisa e temos que aproveitar essa vitória para desabafar, mas de uma maneira legal. Sem insultar ninguém, sem provocar ninguém.

É uma comparação um tanto quanto pobre, mas acredito que válida. Durante muito tempo, o Juventude foi tido como uma ‘touca’ do Inter, um adversário difícil de se enfrentar. Ganhou decisões dentro do Beira-Rio inclusive. Aí, em 2008, na final do Gauchão: 8 a 1 no time de Caxias do Sul. Estancou essa flauta. Agora, vocês venceram na casa de um time, como você mesmo falou, que lembra sempre o Mazembe. É sinal de que essas provocações, essas cornetas sobre o Mundial estão perto de acabar?

Na verdade, é complicado o outro lado estar há 10 anos sem ganhar títulos e ver o Inter numa ascensão aí que a cada dois anos tem um título sul-americano. Libertadores, Sul-Americana, sempre chegando no Campeonato Brasileiro. Então, a torcida do Grêmio sempre vai buscar um fato negativo. Vai se apegar nisso enquanto seguir essa situação. Essa vitória só vem a realçar isso. São 40 títulos estaduais, hegemonia total em cima do Grêmio. Acho é uma situação complicada para o torcedor gremista. O Inter é só conquistas. E com mais essa, ele vai ter que esperar um longo período para ter outra flauta diante dos colorados.

UOL Esporte: E como andam as negociações suas com o Inter, com o Valencia para a permanência em Porto Alegre, Renan?

Renan: A gente tinha começado as tratativas. Mas aí vieram os jogos decisivos e nem eu, nem o Inter tivemos tempo de tocar isso. Agora que vai dar uma normalizada, teremos tempo, jogos só no final de semana. Acho que a gente retomar isso. Já manifestei meu interesse. O Inter também. Agora é a hora de conversar com o Valencia e ver a melhor maneira de acertar.

Ninguém melhor do que você aqui em Porto Alegre para dizer se esse negócio vai acabar bem. Você acredita que vai permanecer no Inter?

Acredito que sim. Já manifestei meu interesse, desde que saí de lá. Eles sabem que com tudo que aconteceu, no lado pessoal, não só da minha mãe, mas também do nascimento da minha filha. Eles sabem que é um momento importante para que eu siga aqui. Não só no pessoal, mas também no profissional. Então acredito na sensibilidade deles. Entendo que vão buscar maneiras para atender os interesses do Valencia. Vamos conversar, no que depender de mim: farei o que for preciso para ficar aqui.