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Agora técnico, Mirandinha recorda briga com Rincón no Corinthians: "também dei nele"

Técnico Mirandinha em ação durante partida; estilo folclórico o marcou como atleta - Paulo Elias/Divulgação
Técnico Mirandinha em ação durante partida; estilo folclórico o marcou como atleta Imagem: Paulo Elias/Divulgação

Renan Prates

Em São Paulo

25/05/2011 07h00

Atacante reconhecidamente folclórico, Mirandinha diz que se tornou um técnico sério e compenetrado no que faz. Mas em entrevista ao UOL Esporte, o atual treinador do Araripina manteve o estilo fanfarrão e relembrou de algumas passagens polêmicas no Corinthians no final da década de 90, inclusive a briga com o colombiano Freddy Rincón. O pernambucano admite ter trocado socos com o ex-companheiro de equipe, mas nega a versão divulgada na época de que ele teria levado a pior.

"FUTEBOL DE HOJE ESTÁ CHATO DEMAIS"

  • Folhapress

    Um dos exemplos de irreverência na hora de comemorar os gols, principalmente na hora de provocar os rivais, Mirandinha admitiu que atitudes como a dele estão cada vez mais raras no futebol 'politicamente correto' praticado hoje em dia.

    "Está chato demais! Tem que extravasar, nunca desrespeitando ninguém. Aquele rapaz, o Neymar, colocou uma máscara e expulsaram ele. Sou contra isso. Pelo amor de Deus, o futebol é alegria", reclamou.

    Na época em que atuava nos gramados, Mirandinha muitas vezes imitou, porco, urubu ou pescava o peixe na hora de comemorar o gol. Ele falou que se jogasse hoje, faria muito mais. "Eu se tivesse jogando ainda, faria o dobro tudo de novo, não me arrependo". "Fazia de tudo. Imitava, urubu pesquei peixe, várias vezes me cansei de imitar porco. Faria tudo de novo. Falo para os jogadores se estiverem lendo essa entrevista: comemorem!".

“Perdemos de 1 a 0 para o Santos, fui expulso no jogo e ele veio reclamar. A gente se desentendeu, houve troca de ofensas e chegamos a brigar, mas hoje ele é meu amigo. Time que não tem isso não é campeão. Ele me deu soco e eu também dei nele. Mas não foi agressão de sair sangue”, disse Mirandinha.

O episódio ocorreu em 1997, quando Joel Santana era o técnico do Corinthians, e o clube ainda não tinha tantos títulos nacionais (havia conquistado o Brasileirão de 1990 apenas). Os dois acabaram sendo multados em 10% dos seus salários pela diretoria e afastados, sendo confirmou o próprio Mirandinha. 

“Sou baixinho e nordestino, o Rincón é homem igual a mim. Apesar dele ser mais alto, se tiver que decidir na porrada a gente decide, não sei quem vai levantar. Mas o pessoal do deixa disso chegou rápido, não teve nem dois minutos de briga”, relembrou.

Mirandinha manteve seu lado verborrágico ao comentar se seria titular ou reserva no atual time do técnico Tite. Primeiro ele disse ter “certeza absoluta” que figuraria no onze inicial, mas depois mudou de ideia alegando que se ficasse no banco daria muita dor de cabeça ao treinador do Corinthians.

“Certeza absoluta [que seria titular]. Naquela época, o Donizete e o Tulio ficaram no banco e eu era titular. Se não jogasse ia dar dor de cabeça para eles. Colocaria uma pressão grande no treinador”.

Zé Love, o substituto

Como treinador, Mirandinha passou a observar melhor o futebol. E ele não se furtou de responder quem na sua visão no futebol de hoje tem um estilo de jogo parecido com o seu naquela época.

E o escolhido foi Zé Eduardo, o Zé Love, atacante do Santos. “O Zé Eduardo é mais parecido com o meu futebol, mas deixa a desejar porque não é goleador. Não faz gols como eu fazia”, alfinetou.

COMO TÉCNICO, ‘GARIMPEIRO’ E SÉRIO

  • Paulo Elias/Divulgação

    Mirandinha está há cinco anos como treinador, e já se destacou ao conquistar o título do interior no Pernambucano à frente do Araripina, o ‘Bode do Sertão’. Ele disse ter recebido propostas de outros clubes, mas foi convencido pelo prefeito local a continuar. Como o clube não tem mais competições em 2011, o ex-corintiano terá a missão de ‘garimpar’ talentos pelo Brasil. “O primeiro treinador contratado para 2012 sou eu”.

    Sempre brincalhão como jogador, Mirandinha quer mudar essa imagem agora como comandante. “Futebol é seriedade dentro de campo...tenho que mudar, porque estou fora de campo e tenho que passar exemplo para os meus jogadores. Já tenho 40 anos, não dá certo”, disse Mirandinha, que colocou Joel Santana, Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho como seus exemplos, e se vê em “3 ou 4 anos” dirigindo uma equipe do eixo Rio-SP.

“Matador de porco”

A fama de carrasco do Palmeiras ainda persegue Mirandinha. E a alcunha é mais do que pertinente, já que ele marcou expressivos 14 gols em dez jogos contra o maior rival do Corinthians. O agora técnico reconheceu que é parado nas ruas por torcedores palmeirenses.

“Vou para o shopping e sou reconhecido na hora. O palmeirense pede autógrafo e tira sarro dele mesmo, me chama de matador de porco. Quando viajo para São Paulo sou reconhecido, mas tem palmeirense chato que não fala comigo e ainda fala besteira”.

Que tipo de besteira, Mirandinha? “Falam que eu sou um cara sorte porque só fazia gol no time dele. Mas tenho DVD comigo fazendo gol no Flamengo, no Santos, em todos os clubes. Todos goleiros levaram gol meu, principalmente o Marcos e o Velloso”.

Seleção: única frustração

O ex-jogador do Corinthians admitiu que não ter defendido a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998 foi a única frustração da sua carreira. Ele achava que merecia um lugar, e ficou decepcionado pelo então técnico Zagallo não o ter convocado.

“Fui considerado o mais importante jogador pela [Revista] Placar, mas não fui convocado pelo Zagallo. Foi a única decepção da minha vida não ter ido. Conquistei tudo na carreira”, declarou. “Em 97 e 98 tive dois anos de glória, dinheiro, tudo. Não sei incompetência de quem [não ter sido chamado]. Só sei que eu não fui”.  

Pedido de ajuda para ‘curandeiro’

Mirandinha relembrou uma passagem no Corinthians onde ele fez de tudo para poder atuar na final do Campeonato Brasileiro de 1998 contra o Cruzeiro, mas a estratégia escolhida "no desespero" não deu certo.

“Tive uma contusão grave no Brasileiro. Na final contra o Cruzeiro estava desesperado em fazer de tudo para não sentir dor. No Nordeste todos querem ser curandeiros. Me indicaram um tratamento com sebo de carneiro que não adiantou porra nenhuma, só ficou fedendo [risos]. Me machuquei do mesmo jeito, só joguei 45 minutos”.