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C. Alberto chama Tostão de demagogo em polêmica sobre aposentadoria para campeões

Ex-companheiros Tostão e Carlos Alberto Torres têm opiniões diferentes sobre o tema - Arquivo/Folhapress
Ex-companheiros Tostão e Carlos Alberto Torres têm opiniões diferentes sobre o tema Imagem: Arquivo/Folhapress

Bruno Freitas

Em São Paulo

28/06/2011 07h43

À espera de um desfecho, a aposentadoria para os jogadores campeões mundiais pela seleção prometida pelo Governo Federal ainda na gestão Lula suscita debate acalorado mesmo dentro deste rol seleto de ídolos das Copas. Recém nomeado presidente de honra da associação que cuida dos interesses destes atletas, Carlos Alberto Torres qualificou como demagógica a posição do ex-companheiro de 1970 Tostão, que manifestou publicamente que abrirá mão do dinheiro, caso ele realmente seja oferecido.

"É um demagogo, pode escrever aí. O Tostão não precisa ficar falando. Ele teve mais sorte que do os outros, é médico, não sei nem se é ele que escreve aquela coluna lá no jornal. Mas tem gente que não foi preparada. Esse filho da p... deveria falar algum tipo de verdade. Não gosto nem de falar", comentou Torres.

"Demagógica? Não sou bilionário. Só entendo que o governo não pode pegar dinheiro e distribuir assim [sem critérios]. E os campeões de outros esportes, as outras classes? Um artista que elevou o nome do Brasil também poderia pedir esse benefício. Mesmo assim, entendo também que a carreira de um jogador tem suas particularidades, precisa realmente ser amparada de um jeito diferente", rebate Tostão, que reforçou à reportagem do UOL Esporte que recusaria o auxílio financeiro em caso de aprovação.

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A promessa feita por Lula em 2006 virou proposta que tramita em Brasília em debates de comissões especiais. Se passar por este crivo, será levada à votação diretamente ao Senado.

De acordo com projeto do Poder Executivo, os brasileiros campeões de Copas receberiam de uma só vez uma quantia de R$ 100 mil. Fora isso, existe a previsão de um auxílio especial mensal para jogadores sem recursos, ou com recursos limitados, de até R$ 3,4 mil.

CAMPEÕES EM DIFICULDADES

Baseada em São Paulo, a associação de ex-campeões atua em algumas frentes para auxiliar a vida dos vencedores de Copas. A entidade presidida pelo filho do goleiro Gilmar tem receita com venda de réplicas de camisas, atua para colocar esses personagens em eventos, presta auxílio jurídico em casos de uso indevido de imagem e se esforça para ajudar os jogadores mais antigos que sofrem problemas de saúde.

"Os problemas são principalmente de saúde, com os campeões de 58 e 62. A maioria do pessoal de 58 está na casa dos 80 anos. A gente manda R$ 1 mil para o Moacir lá no Equador a cada 15 dias. Ele faz quimioterapia por lá. O De Sordi está com Parkinson, numa cadeira de rodas em João Pessoa. O Bellini (foto) também está com Parkinson. Meu pai sofreu um AVC", relata Neves.

A turma dos títulos de 1994 e 2002 aproveitou tempos mais generosos do futebol e, por enquanto, dispensa esse tipo de auxílio da associação. No entanto, alguns deles procuram ajudar a entidade ocasionalmente, como Cafu, Mauro Silva e Dunga.

Em caso de morte do jogador, os sucessores previstos na lei poderiam se habilitar para receber os valores proporcionais. Inicialmente seriam beneficiados os jogadores, titulares ou reservas, das seleções brasileiras dos Mundiais de 1958, 62 e 70.

A proposta passou pelas comissões de Seguridade Social, Turismo e Desporto, Finanças e Tributação e deve ser apreciada pela de Constituição e Justiça em breve.

"Devemos ter a reunião da última delas até o fim deste mês, antes do recesso da Câmara. Nossa ideia é reunir pelo menos dez campeões em Brasília para participar dessa comissão", diz Marcelo Izar Neves, filho do ex-goleiro Gilmar, responsável pela entidade que trabalha a favor dos ex-campeões.

Ainda na opinião de Carlos Alberto, as esferas públicas poderiam também efetivar a ajuda aos campeões mundiais através de cargos públicos.

"Não entendo o motivo, pessoas que deram alegrias tão grandes para o Brasil inteiro, até quem não gosta de futebol vibrou. Deveria se pensar numa colocação através de secretarias, quem sabe um cargo para cada jogador, para ele ter uma atuação esportiva. Não tem mais de 35 que precisam. Tem tanto vagabundo por aí com cargo, por que não dar para quem fez muito pelo país? Tem cara que é medico que vira ministro da Fazenda, poxa", opina.

MAS E A CBF?

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Paralelamente à tentativa de fazer valer a aposentadoria do Governo federal, a classe dos ex-campeões do mundo planeja viabilizar através da CBF um pacote de plano de saúde que atenda esse grupo de jogadores. Carlos Alberto Torres diz ter a palavra do presidente da entidade de que o assunto será apreciado em breve.

"O Ricardo Teixeira tem os seus afazeres particulares, mas pedi a ele uma reunião para tratar do plano de saúde desses jogadores. A gente se encontrou no fim do ano, na festa do Brasileirão. Ele conversou comigo rapidamente, ficamos de acertar [a reunião]", disse o lateral da conquista do tri em 1970.

No entanto, a esperança de Torres contrasta com o pessimismo de Marcelo Neves sobre a boa vontade da CBF sobre este assunto. O filho de Gilmar diz que atualmente os 63 filiados da associação de ex-campeões contam com uma espécie de sistema de saúde com benefícios limitados e atendimento concentrado no eixo Rio-São Paulo e que não espera ver essa situação aperfeiçoada com intermédio da entidade de Ricardo Teixeira.

"A CBF nos prometeu plano de saúde em 2006 e até hoje não deu nada. Não contamos mais com isso. Até deveria ter partido deles essa iniciativa de constituir a associação. São 238 campeões do mundo hoje, temos 80 deles, um terço. Falta esse reconhecimento", afirma Neves.

Também na avaliação de Tostão, a postura da entidade neste debate é omissa. "A CBF só pensa na Copa do Mundo, em fazer contratos de publicidade, em faturar. Ela está ausente do dia a dia do esporte", comenta o campeão de 70.