"Colecionador de clubes", Marcelo Ramos elege o Corinthians como a pior passagem
Quinto maior artilheiro da história do Cruzeiro, com 162 gols e sexto maior goleador do Bahia, com 128, Marcelo Ramos completou 38 anos no último sábado e inicia agora uma nova etapa na carreira. Depois de pensar na aposentadoria, ele assinou contrato com o Araxá, seu 18º clube, e disputará a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, a partir de agosto.
Marcelo Ramos se diz surpreso com a recepção dos torcedores em Araxá, incluindo as crianças
No novo clube, Marcelo Ramos terá como treinador o ex-zagueiro Clebão, que é assessorado pelo também ex-zagueiro Célio Lúcio. Já o ex-volante César Sampaio auxilia na indicação de jogadores à comissão técnica e à diretoria do Araxá. Agora na divisão de acesso do Campeonato Mineiro,
Marcelo Ramos avalia que a ausência de um perfil ‘marqueteiro’ impediu que tivesse maior reconhecimento pelos feitos alcançados na carreira. “Vejo jogadores que fizeram metade do que fiz e têm reconhecimento maior. Mas não me importo, os números são melhor que tudo para analisar. Foram 457 gols e muitos títulos”, ressaltou o atacante, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Com passagens pelo Trio de Ferro do futebol paulista, ele considera que viveu no Corinthians o “pior momento” de sua carreira. “Marquei dois gols só, tive uma fratura na perna, e, consequentemente, pouca sequência de jogos. Quando retornei da fratura, perdi confiança, a bola não entrava”, salientou. Ele relembra como a contratação de jogadores só para a disputa do Mundial Interclubes, em 1997, gerou revolta entre os atletas celestes.
UOL Esporte: Como foi sua chegada ao Araxá?
Marcelo Ramos: Tinha jogado o Carioca pelo Madureira. Foram passando um, dois meses, achei que era hora de parar, fiquei desanimado para jogar. Eu estava sem perspectiva de poder voltar. Esperava alguma proposta para jogar Série B ou Série C, e, no final do ano, encerrar a carreira. Tive contato do Marcelo Araxá, um dos diretores, ele comentou que o Clebão é o treinador, o Célio Lúcio auxiliar e o César Sampaio estava no projeto. São três caras com quem joguei junto. O Clebão foi por pouco tempo no Cruzeiro. O Célio Lúcio no Cruzeiro por mais tempo, estivemos juntos nas principais conquistas. E o César Sampaio no Palmeiras e no Japão. Acertei até o fim do ano. Eu não tinha outra perspectiva, acertei para jogar até final do ano e ver se a gente sobe. O campeonato começa em agosto, a recepção foi legal pra caramba, nem esperava. A gente fala que vai encerrar a carreira, de repente começa a treinar, fazer gols e muda. A expectativa é boa. Aqui recebi esse carinho do torcedor de Minas, que me fez ter boas lembranças.
UOL Esporte: Depois de ser companheiro de Clebão como jogador, como está sendo ser comandado por ele?
Marcelo Ramos: O relacionamento está muito bom. Ele é um cara fantástico, conversou comigo por telefone antes de eu vir para cá, explicou o projeto. Temos um relacionamento de muito respeito. O Célio Lúcio também é fantástico. Começamos a treinar semana passada. Agora é encarar. Sei que não é fácil esse campeonato, teremos algumas dificuldades, em relação a campo, mas a gente supera tudo. A relação com eles é muito boa.
UOL Esporte: Entre suas passagens pelo exterior, houve uma pela Colômbia. Como foi?
Marcelo Ramos: O time foi campeão colombiano e jogava a Libertadores de 2006. Cheguei no meio de 2005 e joguei a Libertadores do ano seguinte pelo Nacional de Medelín. Foi o Aristizabal que me indicou. Ele disse que o time era muito forte, com uma torcida legal, a cidade era boa. Falou para eu jogar ao lado dele e eu fui.
A oportunidade de voltar a trabalhar com o ex-zagueiro Cléber, que foi seu companheiro no Palmeiras e agora é técnico, foi decisivo para Marcelo Ramos acertar contrato com o Araxá
UOL Esporte: E nas duas passagens pelo Japão, você e sua família conseguiram se adaptar bem?
Marcelo Ramos: A primeira foi de julho de 2001 a junho de 2002 (pelo Nagoya Grampus). A segunda foi entre maio de 2003 e dezembro de 2003 (pelo Sanfrecce Hiroshima), foi quando saí do Cruzeiro. Essa foi muito boa, a equipe estava na Segunda Divisão e subiu para a Primeira. Quando retornei em 2003, já conhecia o país e a adaptação foi mais fácil. Levei minha família e não tivemos problemas. Meu filho estudava em uma escola americana. No início, é claro que houve dificuldade com o inglês, mas depois foi se acostumando, e não tivemos problemas de adaptação.
UOL Esporte: Como quinto maior artilheiro da história do Cruzeiro, sexto maior goleador do Bahia, você julga que merecia maior reconhecimento?
Marcelo Ramos: Pelo fato de que eu nunca fiz questão de aparecer, ser ‘marqueteiro’, fazer mídia, isso tudo passou até batido. Mas não arrependo, seria mais uma questão de os clubes reconhecerem, fazerem alguma homenagem, um jogo de despedida, como vejo fazerem para outros jogadores. Não guardo mágoa. O maior reconhecimento é do torcedor. Quando chego a Salvador ou vou a Belo Horizonte, o contato com o torcedor é a melhor coisa que tem.
UOL Esporte: Em três passagens pelo futebol paulista, você não conseguiu repetir o mesmo sucesso alcançado por Cruzeiro e Bahia. Como avalia as trajetórias em Palmeiras, São Paulo e Corinthians?
Marcelo Ramos: No Palmeiras, marquei dez gols em 20 e poucos jogos. A equipe tinha quatro, cinco atacantes de muita qualidade e joguei a maior parte como titular. Foram apenas quatro meses de contrato para disputar o Paulista e a Libertadores, em que chegamos à final e perdemos nos pênaltis. No São Paulo, foi melhor. Estive com o Levir Culpi, fui artilheiro da equipe no Brasileiro, marquei 14 gols no total. O São Paulo teve interesse em renovar meu empréstimo, mas o Cruzeiro pediu alto. O Felipão tinha assumido, o Cruzeiro havia sido campeão da Copa do Brasil e ia jogar a Libertadores. O Felipão pediu para eu voltar também. Acabei voltando. A pior passagem, realmente, foi a do Corinthians. Marquei dois gols só, tive uma fratura na perna, e, consequentemente, pouca sequência de jogos. O Corinthians foi meu pior momento na carreira. Quando retornei da fratura, perdi confiança, a bola não entrava. Mas são algumas coisas que acontecem, a vida não é só de alegrias. Foi o que aconteceu, houve vários fatores de não ter tido sorte.
A 43 gols de atingir 500, Marcelo Ramos evita estabelecer essa meta, mas não descarta buscar esse número, além de dizer que não se arrepende de nada que fez ao longo de sua carreira
UOL Esporte: Apenas no Cruzeiro, foram 14 títulos conquistados. Aos 38 anos, qual momento você vê como o melhor da carreira?
Marcelo Ramos: Foram no Bahia e no Cruzeiro. Foi onde tive a maior sequência, fiz mais gols. O Santa Cruz também foi muito bom, tive duas passagens, fui duas vezes artilheiro do campeonato, apenas não ganhei títulos. Mas por ser o sexto maior artilheiro da história do Bahia e quinto maior do Cruzeiro, foram os meus melhores momentos.
UOL Esporte: Pelo Cruzeiro, você conquistou a Copa Libertadores em 1997 e ficou marcado por fazer o gol do título da Copa do Brasil diante do Palmeiras, no Parque Antarctica, em 1996. Qual o mais marcante?
Marcelo Ramos: O título da Copa do Brasil, pela situação do jogo, ter feito o gol no final, marcou mais. A Libertadores foi importante, fui bem em jogos decisivos. O próprio Mineiro de 1997 foi muito legal. Tive grandes momentos no Cruzeiro. Mas a Copa do Brasil foi mais marcante, pela situação de como conquistamos o título, todos acreditavam mais no Palmeiras.
UOL Esporte: Com o título da Libertadores, o Cruzeiro foi enfrentar o Borussia Dortmund no Mundial Interclubes de 1997. A diretoria decidiu investir em jogadores apenas para aquele jogo. Para o ataque, chegaram Bebeto e Donizete. Como foi encarada aquela decisão?
ATACANTE ADIA PLANOS DE SE APOSENTAR
?O campeonato começa em agosto, a recepção foi legal pra caramba, nem esperava. A gente fala que vai encerrar a carreira, de repente começa a treinar, fazer gols e muda. A expectativa é boa. Aqui recebi esse carinho do torcedor de Minas, que me fez ter boas lembranças?, Marcelo Ramos, sobre o Araxá
Marcelo Ramos: Fui para a Holanda, jogar pelo PSV, e fomos campeões holandeses com cinco rodadas de antecedência. O Cruzeiro me contatou, eu já não estava jogando muito e vim por empréstimo. Cheguei nas oitavas da Libertadores, fiz o gol do título do Estadual. Depois permaneci, porque o Cruzeiro me comprou de volta. No Mundial, a gente ficou chateado com as contratações. A maioria dos jogadores não gostou. Mas a gente também tem de levar em consideração que, depois do Estadual e da Libertadores, nosso Brasileiro foi muito ruim, brigamos para não cair. O presidente e a diretoria ficaram com receio de ir com o mesmo time e perder. Eles contratam vários jogadores, a gente ficou chateado e acabou perdendo da mesma forma. Os jogadores contratados também tinham qualidade, mas foram para um jogo, houve revolta de muita gente, principalmente revolta da torcida.
UOL Esporte: Depois de ter pensado em parar antes de assinar contrato com o Araxá, você já estabelece a data para encerrar a carreira?
Marcelo Ramos: Tenho de esperar as coisas acontecerem. De repente, tudo vai bem. É difícil prever. A principio será até novembro (o contrato com o Araxá vai até 30 de novembro). Depois vamos ver o que vai acontecer. A principio, a ideia é continuar jogando por aqui.
UOL Esporte: Próximo de se aposentar, há alguma coisa que cause arrependimento?
Marcelo Ramos: Não me arrependo de nada, minha carreira foi vitoriosa, poucos marcaram tantos gols como eu. Conquistei muitos títulos, tive uma carreira vitoriosa. Talvez, pelo fato de não me importar muito com divulgação por imprensa, não fazer questão de aparecer, eu poderia ter tido um reconhecimento maior. Vejo jogadores que fizeram metade do que fiz e têm reconhecimento maior. Mas não me importo, os números são melhor que tudo para analisar. Foram 457 gols e muitos títulos.
UOL Esporte: Faltam apenas 43 gols para 500, estabelecerá isso como meta?
Marcelo Ramos: De repente se forem acontecendo os gols, posso estabelecer. Se eu fizer 20 gols neste ano, fico mais próximo. Mas tem de tentar acontecer ao natural. Dependerá também da parte física, a idade chega. Mas não projeto nada para frente.
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