Fossati vê preconceito com estrangeiros, mas pensa em voltar ao Brasil
Jorge Fossati passou pelo Brasil em 2010. Foram seis meses. Levou o Internacional até à semifinal da Libertadores. O tempo não foi suficiente para faturar um título, mas bastou para o treinador uruguaio detectar uma barreira com os estrangeiros. Fossati notou um preconceito com métodos e atitudes dos gringos.
Treinador saiu do Inter por oscilação no rendimento do time, mas cartolas admitiram influência do estilo diferente, jeito estrangeiro, algo que dá motivos para ele quer em preconceito com os 'forasteiros'
E o pensamento ganha argumentos no próprio estádio onde o gringo trabalhou. Depois de demitir o antigo treinador da seleção uruguaia, a então cúpula do Inter reconheceu que os procedimentos diferentes de Jorge Fossati e sua comissão técnica pesaram no rompimento do contrato. O ponto alto da insatisfação colorada era com a preparação física. Mesmo que nos números, o aproveitamento fosse de 60,6%.
Apesar de observar clima menos receptivo, o atual comandante do Al-Saad pensa em regressar. Em entrevista ao UOL Esporte, o técnico ainda repudia a informação de que foi oferecido ao Grêmio. E também revela ter pensando o que poderia ter feito com o colorado diante do Mazembe, no Mundial de Clubes em Abu Dhabi.
UOL Esporte: Desde que saiu do Inter, o senhor tem acompanhado o desempenho do time, fez isso especialmente no Mundial de Clubes?
Jorge Fossati: Claro que acompanhei, vi o jogo...
UOL Esporte: E o que o senhor achou?
Jorge Fossati: Muita gente tinha na cabeça o jogo contra os italianos. Eu falei sempre que tinha outro jogo, não podia esquecer de ganhar o primeiro. Fiquei nervoso com isso. Não sei se isso passou para o próprio Inter, daqui a pouco pode ter ganho essa mentalidade. Mas ninguém pode questionar a legalidade da derrota do Inter. O Inter não fez um grande jogo e ficou frustrado de uma coisa que deveria estar muito feliz. Não é qualquer um que vai participar do Mundial. Lógico que haviam outras expectativas, mas não deu certo. Acompanhei e continuo acompanhando com a mentalidade de quem é profissional.
UOL Esporte: Até em um reflexo natural, da profissão, o senhor chegou a imaginar como seria o Inter sob seu comando no Mundial?
Jorge Fossati: Claro. Imaginei como seria o jogo com o São Paulo. Depois diante do Chivas e o Mundial também. Claro que sim. Eu vinha pensando nisso há muito tempo. Praticamente o mesmo time que eu tinha jogou o Mundial, logicamente que se pensa. Eu tinha esse sonho, como todos os colorados. Desde que cheguei só falavam em ganhar a Libertadores e ir para Abu Dhabi. Pensei, mas foi só imaginação. Mais nada.
Uruguaio Jorge Fossati diz ter visto e 'pensado' o confronto do Internacional, de D'Alessandro (d), com o Mazembe, mas não quis revelar o que teria feito diante dos africanos em Abu Dhabi: "Não posso nem sequer garantir que comigo no comando o Inter estivesse lá. Não sei. Mas ninguém pode dizer, também, que comigo não iria chegar. Até a semifinal eu fui", disse o treinador.
UOL Esporte: Durante o jogo o senhor chegou a imaginar o que faria, algo assim?
Jorge Fossati: É um exercício que faço sempre. No caso do Inter, eu fiz com mais conhecimento e detalhe por que estava há pouco tempo no comando. Sempre penso o que faria naquele momento, como solucionar um problema. Fiz isso no jogo da seleção brasileira contra a Venezuela. Tento pensar, não só no que eu faria, mas também o motivo pelo o quê o meu colega fez aquilo. Nunca penso que o treinador lá fez por estar errado. Mas por ter uma razão.
UOL Esporte: Bom, diante disso eu pergunto se o senhor teria feito algo diferente contra o Mazembe. Se acredita que o resultado poderia ter sido diferente...
Jorge Fossati: Isso é coisa de jornalista, né? (risos). Eu tenho que ser respeitoso. Dentro deste respeito que devo ao Inter, eu não posso nem sequer garantir que comigo na direção o Inter estivesse lá. Não sei. Mas ninguém pode dizer que comigo não iria chegar. Afinal de contas, na semifinal eu cheguei. Dentro do que foi encomendado para mim, tivemos todo sucesso. Não tivemos mais por que não teve tempo (risos)
UOL Esporte: Recentemente circulou uma informação aqui em Porto Alegre, logo depois da saída do Renato Gaúcho do Grêmio. Ela dava conta que seu currículo foi enviado para a direção do Grêmio. Isso aconteceu de fato? Houve uma oferta de sua parte, ou de quem cuida dos seus interesses?
NA HORA DO FRACASSO, A 'RAZÃO ESTRANGEIRA' PESA
É fácil lembrar que quando alguém de fora não vai bem, não dá certo, a palavra ‘estrangeiro ’imediatamente surge. A razão estrangeira. Eu poderia ter sido diferente e ser brasileiro
Jorge Fossati: Não. De jeito nenhum. Se alguém apresentou o meu currículo no Grêmio foi por iniciativa própria. Sinceramente, depois de 20 anos de carreira, você pode gostar ou não do meu jeito. Mas eu não preciso mandar currículo. E se você não conhece um treinador com esse tempo de serviço, você não merece ser diretor de um grande clube como o Grêmio. Mas acima de tudo, o que eu não gosto é me oferecer. Em lugar nenhum. Quem fez, se fez, não contou com minha consentimento. Me oferecer, não. Não gosto disso.
UOL Esporte: O senhor observou algum tipo de preconceito, restrição, com treinador estrangeiro no Brasil? Em relação aos métodos de trabalho, relacionamento com imprensa e público. Existe uma barreira?
Jorge Fossati: Não sei se é uma barreira, não sei qual é a palavra exata. Mas é fácil lembrar que quando alguém de fora não vai bem, não dá certo, a palavra ‘estrangeiro’imediatamente surge. A razão estrangeira. Eu poderia ter sido diferente e ser brasileiro. Normalmente tem diferenças entre um e outro. Não estou dizendo se um é melhor ou pior. Acho que esse preconceito ajuda para que tudo fique envolvido nessa palavra. Mas eu sempre disse, quando me perguntavam, sobre a minha escola preferida. Qual a minha ideia de treinador. Falei que é uma mistura de muitas coisas que aprendi no Uruguai, especialmente lá, algumas na Argentina e muita coisa do Brasil. Tenho grande influência daqui, até por que meus últimos quatros anos foram aqui. E você sabe, a última imagem é a que fica. Tive o prazer de ter grandes treinadores aqui. Muita parte do Fossati treinador tem a ver do Brasil. Mas como eu não venho de Santa Catarina, de Minas Gerais, eu repito: a primeira diferença que vocês notam é por ser estrangeiro. Poderia ter nascido no Brasil, fica só 500 quilômetros da minha casa. Não temos tantas diferenças como alguns pensam.
UOL Esporte: Então isso pode atrapalhar um plano de carreira para um treinador de fora do Brasil que queira vir para cá?
Jorge Fossati: É só olhar para trás. O Brasil deve ser, em porcentagem, o país da América do Sul com menos treinadores estrangeiros. Se você pensa na quantidade de clubes, e quantos treinadores que vêm de fora, diferente do Hugo De Léon. Ele é estrangeiro em termos. Acabou a carreira aqui. Mas aquele que é contratado de fora, são contados pelos dedos de uma mão. Isso acontece também pelo grande mercado de vocês. Existem grandes treinadores aqui, sim, é uma verdade. Vocês têm de tudo. São exceções que vem para cá. E por isso foi um grande orgulho ter trabalhado no Brasil.
UOL Esporte: Mas voltaria a trabalhar aqui?
Jorge Fossati: Nunca fecho a porta para a possibilidade de voltar. Foi uma grande honra treinar no Brasil e nunca digo nunca na minha vida.
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