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Mala extraviada, medo de avião e cuecão de couro marcam viagem do Comercial à Áustria

Jogadores do Comercial aguardam bagagem em aeroporto na Europa - Divulgação
Jogadores do Comercial aguardam bagagem em aeroporto na Europa Imagem: Divulgação

Mauricio Duarte

Em São Paulo

16/07/2011 07h00

Se você chegar à pequena cidade de Maria Lankowitz, região montanhosa da Áustria, e perguntar aos seus habitantes o que eles conhecem sobre o futebol brasileiro, a resposta pode ser surpreendente. É bem possível que eles respondam: Comercial de Ribeirão Preto. Isso porque a equipe do interior de São Paulo acaba de retornar de uma excursão inusitada que fez por lá.

CAMPANHA DA VIAGEM

Comercial 3x0 FC Gratkorn
Comercial 1x3 LASK Linz
Comercial 2x2 Steaua Bucareste
Comercial 3x1 KSV Kapfenberg
Comercial 2x1 Anzhi

No último dia 28, 32 pessoas, entre jogadores e comissão técnica, embarcaram na primeira viagem ao exterior do Comercial, com o intuito de realizar uma série de amistosos na Áustria, ganhar experiência, fazer parcerias e usar a Europa como vitrine para negociar jogadores. O investimento foi de 100 mil euros (R$ 220 mil), incluindo estadia no centro de treinamento e locomoção. Tudo pago pela Lacerda Sports, gestora do clube.

“Estávamos planejando a viagem desde o ano passado. Marcamos para antes do início da Copa Paulista para servir como preparação. Nossa intenção é vencer esse campeonato e disputar a Copa do Brasil”, conta Nelson Lacerda, presidente do Comercial, ao UOL Esporte.

Todos voltaram encantados com a receptividade e com o desempenho do time na excursão. Foram três vitórias, um empate e uma derrota, incluindo um triunfo contra o russo Anzhi Makhachkala, time do lateral-esquerdo Roberto Carlos. “Hoje eu tenho certeza de que todo mundo que gosta de futebol na Europa conhece o Comercial”, afirma Nelson. Além da experiência profissional, muitas boas histórias voltaram na bagagem.
 

O PERRENGUE DAS CAMISAS

Uma das malas com uniforme do Comercial nunca chegou à Áustria. Na ida, a bagagem com as meias brancas e camisas pretas de manga curta foi extraviada. No último compromisso, o time precisava jogar de preto, já que o uniforme do adversário era branco. O jeito foi usar o uniforme de mangas longas, mesmo sob um calor de 36°.

A VINGANÇA DIVINA

No único jogo em que foi derrotado, o Comercial reclamou muito do árbitro por ser tolerante com as pancas do time adversário. Após o jogo, o rival LASK Linz ofereceu um almoço, no qual o juiz estava presente. Garçons circulavam pelo salão com bandejas repletas de chucrute, salsicha e cerveja. Um deles tropeçou e derrubou diversas canecas de cerveja justamente na cabeça do árbitro. O presidente Nelson não aguentou e falou alto: “Foi Deus que mandou!”.

A ZEBRA QUE VEIO DE LONGE

O Comercial enfrentou o Steaua Bucareste em uma segunda-feira. Como não havia nenhum jogo oficial naquele dia, algumas emissoras de televisão resolveram fazer a cobertura do jogo, o que gerou uma movimentação nos sites e casas de apostas esportivas, muito comuns na Europa. O time de Ribeirão Preto era zebra e pagava dez euros para cada um apostado. O jogo terminou em 2 a 2 e muita gente perdeu dinheiro.

TERRORISMO PSICOLÓGICO NO AR

Os jogadores, sabendo do medo do lateral Marcelo Ferreira de voar, não aliviaram o colega. Passaram o tempo todo contando-lhe histórias de desastres e assustando o jogador, que foi ficando cada vez mais preocupado com a situação. O resultado não foi nem um pouco positivo: o atleta passou mal e teve que ser amparado pelos amigos durante a viagem de ida.

ENCONTRO COM CRAQUES BRASILEIROS

O Comercial enfrentou o russo Anzhi Makhachkala, dos brasileiros Roberto Carlos, Diego Tardelli e Jucilei. Apesar da tietagem declarada aos compatriotas famosos, principalmente a Roberto Carlos, no campo as coisas mudaram e a partida foi muito disputada. A equipe de Ribeirão Preto levou a melhor e venceu por 2 a 1, com gols de Rafinha e Luan. O gol dos russos foi marcado pelo lateral-esquerdo, de pênalti.

VIDA DE POPSTAR E "CUECÃO DE COURO"

Principal responsável pela inciativa da excursão e pela reviravolta do Comercial no futebol paulista, mesmo fora dos campos o presidente Nelson Lacerda (no centro da foto) também teve seu dia de estrela durante a viagem. Ele foi homenageado em um festival de música austríaca. Entre as honrarias, foi presenteado com uma calça de couro no valor de 1600 euros, um traje típico da região. Resolveu ir ao festival usando o presente. Ganhou o apoio dos locais, mas foi apelidado pelos jogadores de “cuecão de couro”.

Ascensão meteórica

O Comercial teve uma ascensão meteórica nos últimos dois anos. O time amargurava a Série A3 do Paulistão e chegou até a colocar seu estádio em leilão para pagar dívidas. Em 2010, a diretoria criou um modelo de gestão esportiva como clube-empresa.

A partir de então, conquistou dois acessos seguidos e, no ano que vem, disputa a primeira divisão do futebol paulista. Resta agora aparecer no cenário nacional, já que o time não tem nem sequer uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro.

"Nós temos muitos patrocinadores (15 no total), montamos uma estrutura de time grande. Hoje temos uma organização de time de primeira divisão, um marketing forte e um esquema de sócio-torcedor", explica o presidente.

VEJA O VÍDEO DA SAGA DO COMERCIAL NA EUROPA