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Ronaldão recorda pancada decisiva sobre astro do Barça em 92: "Deixei ele torto"

Ex-zagueiro Ronaldão em evento do futebol de areia no Rio na última semana - Bruno Freitas/UOL
Ex-zagueiro Ronaldão em evento do futebol de areia no Rio na última semana Imagem: Bruno Freitas/UOL

Bruno Freitas e Thales Calipo

No Rio de Janeiro

05/08/2011 07h00

Ele não fez dois gols como Raí. Não conseguiu dribles incríveis como Muller. Nem mesmo tirou uma bola em cima da linha como Ronaldo Luís. No entanto, Ronaldão também foi decisivo para o São Paulo no dia 13 de dezembro de 1992 na final do Mundial Interclubes contra o Barcelona, em Tóquio. Segundo ele, tirou de combate o jogador mais importante dos campeões europeus.

VEJA A DIVIDIDA NA FINAL DE 1992

  • Vale uma atenção especial para o replay em câmera lenta no fim do vídeo, que mostra com detalhes a trombada Ronaldão x Stoichkov

Na partida, Ronaldão recebeu a dura incumbência de marcar o atacante Hristo Stoichkov, que dois anos mais tarde brilharia pela Bulgária na Copa dos Estados Unidos. Naquela tarde de dezembro, a estrela do Leste Europeu colocou o Barcelona em vantagem logo aos 11min do primeiro tempo, com um golaço em um chute colocado de fora da área que acertou o ângulo direito de Zetti. Depois disso, quem passou a mandar no pedaço foi o zagueirão de 1,87m do São Paulo.

Na altura dos 25min da etapa inicial, Stoichkov recebeu lançamento e profundidade bem diante de Ronaldão. Naquele instante de duelo pessoal, o são-paulino não hesitou em mandar aos ares a estrela do Barcelona, que caiu de mal jeito com a "tesoura" na dividida (assista ao lance ao lado). Mesmo atingindo a bola, o brasileiro saiu do choque com um cartão amarelo conferido pelo árbitro argentino Juan Carlos Loustau. Por sua vez, com dores no ombro, o búlgaro não foi o mesmo no jogo a partir dali.

"Tive a responsabilidade de marcar o Stoichkov. Tivemos uma dividida dura, já estava 1 a 0 para eles. Deixei ele torto com essa dividida. Depois ele não fez mais nada no jogo. Acabei sendo importante para o São Paulo neste jogo por isso", relembrou ao UOL Esporte.

DIVIDIDA HISTÓRICA EM IMAGENS

  • Reprodução

    Búlgaro Hristo Stoichkov abriu o placar para o Barcelona na final com o São Paulo em 1992

  • Reprodução

    Estrela do Barcelona vai ao chão depois de choque com o zagueiro Ronaldão na lateral do campo

  • Reprodução

    Stoichkov fica no chão por alguns instantes após o lance; búlgaro não seria o mesmo a partir dali

Com Stoichkov "torto", o São Paulo de Telê Santana passou a mandar no jogo e virou o placar para 2 a 1 com dois gols de Raí, o primeiro após uma bela jogada de Muller pela ponta (quase imediatamente depois do lance de Ronaldão e Stoichkov) e o segundo em uma cobrança de falta. Era o primeiro dos três títulos mundiais da equipe do Morumbi.

Naquele mesmo ano, Ronaldão escapou de ser vilão do São Paulo na final da Libertadores, quando desperdiçou uma cobrança na decisão por pênaltis contra o Newell’s Old Boys no Morumbi. Apesar da falha, a equipe brasileira conseguiu a vitória inédita, diante de mais de 100 mil torcedores. "Pênalti só perde quem bate. Eu errei, mas depois o argentino desperdiçou e acabamos vencendo", recorda. 

COMO VIROU RONALDÃO: DECISÃO DE PARREIRA

Apesar do lance clássico contra Stoichkov, Ronaldão foi muito além de ser meramente um zagueiro viril. A prova disso é que o então jogador do Shimizu (Japão) foi convocado por Carlos Alberto Parreira para a disputa da Copa do Mundo de 1994, dois anos depois do célebre lance de Tóquio. 

Convocado de última hora para substituir Ricardo Gomes, lesionado, o zagueiro se juntou ao grupo que se consagraria tetracampeão semanas depois e ganhou o aumentativo no nome que marcaria sua carreira.

Tudo porque Ronaldo Fenômeno, aos 16 anos, já fazia parte do grupo. A comissão técnica havia consentido que o jovem do Cruzeiro tivesse o primeiro nome estampado em sua camisa número 20. Assim, o zagueiro que acabava de chegar precisou de uma outra alcunha, que acabou decidida em uma breve reunião com o técnico Parreira e o supervisor Mário Zagallo.

"O Ronaldo já estava com o nome na camiseta, e aí ficou Ronaldão. Não poderia falar que não gostava, estava só há uma semana lá. Mas acabou dando certo", afirma o zagueiro, que usou a camisa de número 4 como reserva no Mundial.

VIDA DE EMPRESÁRIO: LÁTEX E JOGADORES

Como muitos jogadores de sua geração, o ex-zagueiro de São Paulo, Santos e Flamengo conseguiu dar sequência à vida pós-futebol de uma forma bem-sucedida. Atualmente Ronaldão atua em diversas frentes, com negócios no ramo imobiliário em São Paulo e como produtor de látex em uma fazenda em São José do Rio Preto.  

Além disso, o ex-jogador mantém um pé no universo do futebol na atuação como empresário de jogadores. Estão sob sua tutela atletas como Julio César (goleiro do Corinthians), Jucilei (na Rússia), William José (São Paulo) e Tiago (goleiro ex-Lusa e Bahia).

PERFIL DO ZAGUEIRO

Ronaldão (à esquerda) ao lado de Romário e Dunga na festa do tetra nos EUA - AFP
Nome completo: Ronaldo Rodrigues de Jesus
Nascimento: 19/06/1965, em São Paulo
Altura: 1,87m
Peso: 89kg
Clubes: Rio Preto: 1985; São Paulo: 1985-1993; Shimizu (JAP): 1993-1995; Flamengo: 1996; Santos: 1997-1998; Coritiba: 1998; Ponte Preta: 1998-2002