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Crítica no passado, 'gestão Tirone' se contradiz e vira espelho da 'era Belluzzo'

Ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo e atual Arnaldo Tirone adotam posturas parecidas - Montagem com fotos de Paula Almeida/UOL e Fernando Santos/Folha Imagem
Ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo e atual Arnaldo Tirone adotam posturas parecidas Imagem: Montagem com fotos de Paula Almeida/UOL e Fernando Santos/Folha Imagem

Luiza Oliveira e Ricardo Perrone

Em São Paulo

16/08/2011 07h03

Durante sua campanha, Arnaldo Tirone fez várias críticas à gestão de Luiz Gonzaga Belluzzo e chegou a chamar seu antecessor de ‘amador’. Pouco mais de seis meses à frente do cargo, o atual presidente do Palmeiras tem repetido várias decisões que havia reprovado e parece até um espelho do trabalho anterior.

As semelhanças são evidenciadas em diferentes áreas do clube, atingem o comando do futebol e passam até pela personalidade dos mandatários. O endividamento crescente, a estratégia adotada para sanar as contas, o pagamento de comissões a agentes e a gestão do time B são alguns dos aspectos que deixam os rivais com o mesmo estilo de governo.

CRESCIMENTO DE DÍVIDAS E ADIAMENTO DOS PAGAMENTOS

Um dos principais lemas de campanha de Tirone era diminuir as despesas com o futebol. As críticas em torno da gastança promovida por Belluzzo eram ferrenhas. Sem dinheiro para pagar as contratações de Lincoln e Valdivia no ano passado, por exemplo, a diretoria anterior adiou os pagamentos e comprometeu a gestão atual do clube.

Mas o presidente vem descumprindo a promessa e tem adotado postura semelhante ao adversário. Comprou os direitos econômicos de Luan por três milhões de euros (algo em torno de R$ 6,7 milhões), parcelados em quatro anos (até 2014). O ônus ficará para os sucessores, já que o seu mandato é bienal.

Além disso, ao invés de tentar resolver os problemas deixados por Belluzzo, trabalha mais uma vez para jogá-los para a frente. A cúpula conseguiu prorrogar o prazo para pagar uma dívida de R$ 14 milhões no caso Valdivia junto ao Banif. No entanto, ainda não foi feito um planejamento para que os valores sejam quitados.

Os gastos também não diminuíram significativamente. De acordo com o último balancete oficial, R$ 20,3 milhões das cotas de direitos de transmissão negociadas para o próximo ano com a TV já foram antecipadas. Desde que Tirone assumiu, as despesas com o futebol alcançaram média de R$ 10,8 mi mensais (eram R$11,1 mi na gestão anterior), enquanto as receitas atingem a casa dos R$ 8 mi.

CENTRALIZAÇÃO DE PODER NO FUTEBOL

Tirone também é criticado por agir à imagem e semelhança de seu inimigo político no comando do futebol. Belluzzo delegou o poder sobre a principal área do clube para o vice de futebol Gilberto Cipullo, e era criticado por não fazer nem os despachos no clube.

Hoje, o vice Roberto Frizzo é quem centraliza e se posiciona sobre as principais decisões ligadas ao setor. Preocupado com a sua imagem, Tirone até tentou retomar as rédeas, mas se mostrou ausente e sem firmeza em momentos cruciais, como nas crises envolvendo Kleber e Flamengo.

PAGAMENTO DE COMISSÕES A AGENTES

O grupo do atual mandatário considerava um 'absurdo' pagar comissões a agentes e empresários nas contratações de atletas e julgava correto fazer o repasse apenas nos casos de venda. A intolerância aumentou ainda mais depois que o empresário de Kleber, Giuseppe Dioguardi, recebeu um pagamento em 60 parcelas por intermediar a negociação entre o Gladiador e o Palmeiras.

Passada a faixa de presidente, mais uma vez a história se repetiu e o discurso caiu por terra. Praticamente todos os atletas contratados neste ano (Paulo Henrique, Luan, Gerley e Henrique), vieram em negociações com pagamentos de comissões a intermediários.

O poder dado aos agentes também virou motivo de questionamentos. José Luis Galante, por exemplo, foi acusado de receber um valor de forma irregular na contratação de Paulo Henrique. Apesar da polêmica - ele diz que nada foi feito de maneira ilegal, tem trânsito livre no Palmeiras e circula com frequência pela sala da diretoria.

MANUTENÇÃO DO TIME B

Até o time B, que praticamente passa despercebido, evidencia semelhanças entre as duas últimas diretorias. Tirone adotava o discurso de que os custos eram altos para manter uma categoria sem muitos benefícios. Dessa forma, algumas reuniões deveriam decretar sua extinção depois das eleições. Seis meses depois, a equipe não só resistiu, como também ganhou um reforço. No início do mês, o clube anunciou a contratação do meia argentino Facundo Albaqui, de 19 anos.

ESTILO POLÊMICO DOS MANDATÁRIOS

Tirone é mais contido e menos passional que Belluzzo, mas suas personalidades também têm peculiaridades comuns. O acadêmico economista surpreendeu ao dar declarações polêmicas como a entrevista em que ameaçou agredir fisicamente o árbitro Carlos Eugênio Simon, além do emblemático grito "Vamo matar os Bambi", que ele acabou soltando certa vez durante uma festa da escola de samba Mancha Verde.

Já o atual presidente do Palmeiras dava sinais de maior discrição, mas também teve suas escorregadas. Em uma entrevista para o Jornal da Tarde, disparou para todos os lados. Criticou a contratação de Lincoln, disse que Valdivia era baladeiro e que foi um péssimo negócio para o clube, e chegou a chamar o próprio Belluzzo de 'amador'. Depois, virou manchete mais uma vez ao afirmar que Kleber precisaria briga por espaço no Flamengo, caso fosse negociado. A declaração irritou o Gladiador e deu início a uma longa novela que ainda gera repercussão.