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Rixas, poder, dinheiro: Disputa entre Felipão x Frizzo estremece a 'Famiglia Palmeiras'

Felipão e Frizzo colecionam divergências no comando do futebol do Palmeiras - Arte/UOL
Felipão e Frizzo colecionam divergências no comando do futebol do Palmeiras Imagem: Arte/UOL

Luiza Oliveira e Ricardo Perrone

Em São Paulo

20/09/2011 07h03

Toda família tem seus conflitos, mas a chance de o clima esquentar é bem maior se o sangue for italiano. Como uma legítima famiglia, no Palmeiras o que não faltam são calorosas desavenças. A mais marcante é entre o técnico Luiz Felipe Scolari e o vice de futebol Roberto Frizzo que trocam indiretas, disputam poder e divergem por causa de dinheiro e outros assuntos ligados ao clube.

Os dois homens mais poderosos e influentes do Palmeiras, chegam a ofuscar o presidente Arnaldo Tirone, não são considerados inimigos. Mas a cada dia uma nova turbulência afeta a convivência profissional, como eles mesmos definem.

Com personalidades fortes e distintas, cada um usa suas armas e seus aliados para atingirem seus objetivos. Enquanto o treinador abusa de seu jeito explosivo e metralha usando a imprensa, Frizzo prefere pôr panos quentes e agir como um estrategista nos bastidores.

As turmas já estão definidas, com Tirone tentando se equilibrar no meio do fogo cruzado. O técnico conta com o apoio de sua comissão, representada pelo auxiliar Flávio Murtosa e pelo preparador de goleiros Carlos Pracidelli, além do coordenador técnico Galeano e do secretário Adilson Andrade, o Moeda. Do lado de Frizzo estão o gerente Sérgio do Prado, o advogado André Sica e o diretor da base Jair Russio.

PODER

Autonomia de Galeano

Amigo de Felipão desde sua época de atleta, em 1997, Galeano é motivo de discussões. O técnico defende que o coordenador deve ganhar poderes mais amplos no futebol e ter autonomia para decidir sobre contratações. Para isso, já acionou o presidente. Do outro lado, Frizzo diz que o trabalho é harmonioso e que escuta as indicações do colega, mas a verdade é que não quer dividir o comando do futebol para se manter soberano. Leia mais
'Fritura' de Sérgio do Prado

Felipão tentou derrubar Sérgio do Prado, um dos maiores aliados de Frizzo. Galeano já havia brigado com o gerente antes mesmo de a contratação do pentacampeão se confirmar. Juntos, eles tentaram provocar sua demissão várias vezes fazendo a cabeça de Tirone, mas Frizzo manteve pulso firme para deixar o amigo intacto no cargo. Do Prado é acusado de agir como um 'espião' do vice de futebol e irrita o treinador por ter muitos poderes na Academia de Futebol. A assessoria de imprensa de Felipão, entretanto, afirma que o técnico salvou o emprego de Prado em duas oportunidades: quando Salvador Hugo Palaia assumiu a presidência e no início da gestão Tirone.

RIXAS

Acerto com Carpegiani

Em agosto deste ano, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que o vice de futebol já teria acertado com Paulo César Carpegiani para substituir Felipão. No dia seguinte, o técnico divulgou um comunicado oficial e, sem citar nomes, criticou "uma determinada pessoa da direção que visa sua saída do clube". Frizzo precisou se explicar. Negou qualquer contato com o ex-técnico do São Paulo e acusou "ratazanas de esgoto" de tumultuarem o ambiente. Leia mais
Amizade com torcida organizada

O último motivo de polêmica foi a torcida. Felipão acredita que os protestos após o empate por 1 a 1 com o Avaí, em Florianópolis, foram secretamente orquestrados por causa da proximidade de Frizzo com a Mancha Verde. Desde que o dirigente apresentou um projeto para distribuir ingressos para as organizadas, o técnico virou alvo constante de manifestações. A presença de ex-membros da Mancha a convite de Frizzo no CT, durante a semana, provocou mais um estouro de Felipão. Leia
Multa rescisória de Felipão

A multa rescisória de Felipão também já deu o que falar. No início do ano, Frizzo afirmou que, para o técnico deixar o clube, bastava pagar a multa determinada no contrato. Acabou gerando insatisfação. "Pelo que alguns dirigentes do Palmeiras falaram ai, é só pagar a multa e sair. Eu nunca pensei em pagar multa", disse o treinador, na ocasião. Nas últimas semanas, o contrato voltou a ser assunto. Incomodado com os constantes conflitos políticos, Felipão sugeriu acabar com a multa rescisória para deixar ambas as partes livres. O vice, no entanto, adotou o discurso do presidente e disse que nada seria alterado.

DINHEIRO

Relação com empresários

Faz os dois homens fortes do Palmeiras baterem cabeça. O técnico desaprovou o pagamento de comissões aos empresários José Luiz Galante e Fabiano Carpegiani para a chegada de Paulo Henrique e Gerley, respectivamente. Coincidentemente, os dois são próximos de Frizzo. O treinador ainda mostrou seu lado vingativo ao afastar Tinga do grupo por estar descontente com a parceria DIS. Por outro lado, o dirigente foi quem não quis pagar o agente Magrão pela negociação envolvendo a compra dos direitos econômicos de Luan, o que causou a revolta do comandante.
Troca de Pierre por Ricardo Bueno

A chegada de Ricardo Bueno foi o exemplo de uma queda de braço vencida por Felipão. Frizzo defendia que Pierre deveria ser liberado para o Atlético-MG sem que o clube alvinegro emprestasse outro atleta. O treinador não aceitou, bateu o pé e exigiu em troca o atacante ou uma quantia em dinheiro. Depois de muita insistência envolvendo até brigas judiciais, conseguiu o que queria.
Economia com nutricionista

A economia de gastos também já provocou a ira de Felipão. Em março deste ano, a diretoria deu ordem para que a nutricionista Alessandra Favano não se concentrasse com o grupo na sexta-feira, véspera do jogo contra o Santo André, pelo Paulistão. Nervoso, o técnico chegou a dizer para os dirigentes que ficaria em casa, cedendo sua vaga no hotel para a funcionária, já que considerava fundamental a presença dela para cuidar da alimentação dos atletas. O elenco iniciou o período de concentração sem o comandante. Leia mais

IDEIAS DIVERGENTES

Críticas à base

Felipão não tem papas na língua e, na maioria das vezes, isso se torna um problema. Na última sexta-feira, o técnico bombardeou as categorias de base do Palmeiras ao dizer que “não tem jogador bom”. Frizzo não gostou. Além de seu parceiro ter sido afetado, o diretor da base Jair Russio, o vice considera que as declarações do treinador não ajudam em nada o clube e serviram apenas para incendiar um ambiente já turbulento. Leia mais
Contratação do argentino Facundo

Frizzo contratou o argentino Facundo Albaqui, de 17 anos, e desagradou Felipão. O técnico ouviu boatos de que o jovem chegaria para integrar o time principal e logo espalhou que não aproveitaria o atleta. Só depois disso, foi divulgado que o meia passará por um período de experiência no time B. Em sua coletiva, o técnico disse que desconhecia o acerto e reclamou por ser ‘o último a saber’.