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Teste para cheerleaders corintianas tem fanatismo, tombos e código para boas meninas

Meninas encaram teste para ingressar na equipe de animadoras de torcida corintianas - Roberto Setton/UOL
Meninas encaram teste para ingressar na equipe de animadoras de torcida corintianas Imagem: Roberto Setton/UOL

Bruno Freitas

Em São Paulo

21/09/2011 07h00

Se você é menina, corintiana e leva jeito para dança, existe um lugar muito especial disponível dentro do numeroso "bando de loucos" de fiéis torcedores. O grupo de cheerleaders que costuma se apresentar em partidas do time está aberto a novas integrantes que desejem estar perto de seus ídolos e ganharem a vida como animadoras. Para isso, saber mover o corpo harmoniosamente é recomendável e dispor de uma dose de fanatismo, bem-vindo. No entanto, a lista de pré-requisitos também apresenta um rígido código de bom comportamento como condição indispensável para ingresso nesta seleta turma.  

O UOL Esporte acompanhou no último sábado (17.09) uma sessão realizada com a finalidade de recrutar novas meninas para a equipe de animadoras do Corinthians. O teste aconteceu na Academia Panteras, em Osasco, onde o início de trajetória das novas cheerleaders foi marcado por muito entusiasmo, alguns tombos e uma palestra sobre as noções de conduta obrigatórias para a função.  

No sábado, as novatas tiveram a chance de já se exercitar ao lado da atual equipe de cheerleaders do Corinthians. Antes, no entanto, ouviram uma breve palestra de Euds Consoli, proprietário da academia e gestor do projeto das animadoras de torcida. No papo, entraram em contato com a linha ideológica que norteia o projeto, que prega que nenhuma menina deve esperar ser mais estrela do que alguma colega ou mesmo do que o grupo todo.

"Aquela que quer só tirar foto, pensa em ser famosona, não vai. Famosão aqui é o Corinthians. Parece discurso do Tite, mas é isso", diz Euds Consoli.

OS MANDAMENTOS DA CHEERLEADER

- ESQUEÇA O ESTRELISMO
- TIETAGEM É PROIBIDA
- NADA DE PROVOCAÇÕES
- CUIDADO COM AS REDES SOCIAIS
- COMPROMETIMENTO COM A DANÇA

Algumas das garotas que se candidatam a carregar pompons e trajar vestidos nas cores do time de coração fazem questão de manifestar essa paixão já no teste. Luana de Paula exibe sua enorme tatuagem nas costas com o escudo corintiano, enquanto que outras meninas aparecem com roupas alusivas ao Timão.

"Procurei [a equipe de cheerleaders] por causa do time, mas também gosto de dança. Já tinha feito aulas de axé por um tempo. Sou muito corintiana", conta Camila Silva Braga.

 "Sou de Itaquera. Quem sabe eu não seja a estrela do Fielzão?", brinca Viviane Bernardi, em menção ao futuro estádio do Corinthians, palco da Copa do Mundo de 2014.

Ciente deste tipo de deslumbre, a organização do projeto de cara deixa no ar mais um recado para as meninas que apareceram na academia com o desejo de estar perto do Corinthians e de seus ídolos: a tietagem é uma atividade proibida dentro da equipe de animadoras. Em campo, também qualquer gesto que sugira uma provocação ao adversário deve ser igualmente coibido.

"Elas estão orientadíssimas. Estão proibidas de olhar para a torcida adversária, mesmo voltar a cabeça na direção deles. Qualquer coisa pode ser entendida como uma provocação. Elas podem comemorar gol, pular, extravasar. Mas elas não podem nem falar o nome de um jogador, só se for uma coisa conjunta [algum lema de incentivo]. Sem tietagem também. Elas não chegam perto dos jogadores. E também eles quase não olham para elas. A gente sabe que a maioria deles é casado e não quer se comprometer", afirma o gestor do projeto.

CHEERLEADER DE ITAQUERA

Corintiana fanática e moradora do bairro de Itaquera, local do futuro estádio do Corinthians, Viviane Bernardi (à direita) sonha com o futuro: "Quem sabe eu não seja a estrela do Fielzão?"

As meninas ouvem também que, para fins de prioridade de escalação em eventos ou entrevistas, a habilidade de dança vem adiante do rostinho bonito.

No treino de batismo, fica claro para as novatas alguma dificuldade de acompanhar as veteranas nos movimentos mais complexos. No exercício de estrela, algumas garotas ficam pelo chão. Mas, ao final da prática, todas acabam aceitas no projeto, na condição de alunas do curso de cheerleaders da Panteras, com a promessa de irem aos estádios em caso de evolução técnica. Três delas ainda ganham o presente de acompanhar a equipe ao Pacaembu já no dia seguinte, no clássico contra o Santos.

Na verdade, além de abastecer a animação de torcida do Corinthians, a academia municia muitos outros eventos. A Panteras prepara cheerleaders para comerciais de TV, jogos das seleções masculina e feminina de vôlei, partidas de beach soccer e futebol americano, entre outros eventos.

A VIDA DURA DE UMA ANIMADORA

No teste para as novatas no sábado, uma das veteranas se destaca na movimentação conjunta na Academia Panteras. Juliana Sá (à esquerda na foto) executa movimentos com destreza e é destacada pela chefia para atender a reportagem presente ao treino. A jovem de 21 anos mostra mesma desenvoltura no papel de porta-voz da equipe, falando do lado duro dentro do glamour da animação de torcida em estádios do país.

TORCIDAS MAL-EDUCADAS
"A pior [torcida] é a da Ponte Preta. Eles xingam e cospem. Eu vi até uma senhora de idade xingando a gente lá", declara a animadora corintiana.

ACIDENTES DE TRABALHO
"Às vezes a gente se machuca, faz algum movimento que sai torto. Mas aí a gente disfarça. A torcida nem percebe", entrega a cheerleader.

A equipe da academia começou a fornecer animadoras para o futebol em 2008, através de um contrato com a Federação Paulista. Inicialmente, as meninas da Panteras representavam quatro times: Corinthians, Palmeiras, Ituano e Barueri. No entanto, com o passar do tempo, a empresa detectou uma limitação de pessoal diante da demanda e decidiu concentrar esforços no clube que oferecia a melhor projeção de imagem.  

Hoje, o projeto das cheerleaders da academia atende a uma realidade de cerca de cem eventos por ano. Por isso, a Panteras trabalha para aumentar sua equipe de animadoras.

"Eu tenho cerca de 30 cheerleaders atualmente na minha equipe. Mas é um número que não consegue atender a demanda de solicitações de eventos. Eu preciso ter umas 80. Na seleção de hoje espero contar com pelo menos mais vinte", afirmou Euds Consoli.

E dentro desta necessidade, espera-se que as meninas que se voluntariem tenham o coração batendo pelo Corinthians. No entanto, isso não é requisito indispensável. As animadoras do Timão até podem torcer para outros times. Neste caso, elas só precisam agir com discrição em suas vidas fora de estádio, principalmente na atuação em redes sociais. 

"A gente alerta que elas não posem com camisas de outros clubes nas redes sociais, ou falem de outro time", diz Euds Consoli.

O organizador da equipe diz ter confiança cega no comportamento profissional de suas meninas mais experientes, tanto que se dá ao luxo de eventualmente não acompanha-las ao estádio. Mas quando não têm o chefe por perto, as garotas contam com o olhar de zelo dos namorados.

"Nem todas as meninas têm namorado, eu não tenho. Mas eles acompanham a gente. Ficam na arquibancada, compreendem bem a nossa atividade", diz Juliana Sá, animadora desde 2008.