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Em carta de despedida, Gilberto evita polemizar, mas admite relação desgastada

Gilberto disse, em carta publicada em seu site, que tomou a medida certa ao rescindir com o Cruzeiro - Juliana Flister/Vipcomm
Gilberto disse, em carta publicada em seu site, que tomou a medida certa ao rescindir com o Cruzeiro Imagem: Juliana Flister/Vipcomm

DO UOL Esporte

Em Belo Horizonte

26/09/2011 13h17

Depois de não comparecer a entrevista coletiva marcada para a sexta-feira passada, o meia e lateral-esquerdo Gilberto divulgou uma carta de despedida em seu site oficial. Sem polemizar, o jogador, de 35 anos, admitiu que a relação com o clube já estava desgastada e que tomou a “medida certa”.

“A relação, como qualquer uma, se desgasta e, quando se gosta, o melhor é se afastar. Por isto, não me critiquem por que saio sem falar o que todos querem ouvir, ou pelo menos os mais azedos querem, para criar tumulto. O que foi falado depois se esclareceu nas internas. Assuntos que hoje se superam pela necessidade que este clube que prezo tanto tem em retomar seu caminho de vitórias e conquistas, que é o seu real caminho”, disse Gilberto, na carta oficial.

Em outro trecho, o jogador afirma que era o momento de deixar o Cruzeiro: “Passados praticamente dois anos de muitas grandes passagens e contando esta de quando cheguei, tenho certeza que hoje tomo a medida certa ao deixar a Toca e o convívio com uma torcida que me apoiou e que em todos os momentos nunca deu as costas para mim”.

Gilberto lembrou, na nota oficial, que teve chance de se transferir para o Botafogo, mas optou em permanecer no Cruzeiro. “Estive para me transferir para Botafogo no meio do ano, e além do presidente, sempre correto comigo, não nego que os apelos e manifestações de carinho do torcedor cruzeirense me fizeram pensar duas vezes. Fiquei e não me arrependo, mas para não estragar este carinho e amor, resolvo agora sair. Motivos tenho alguns”, afirmou.

O jogador destacou, no entanto, ser grato ao Cruzeiro por ter voltado à seleção brasileiro e disputado a Copa do Mundo de 2010. “As grandes partidas da equipe me levaram de volta à Seleção, lugar que confesso, nem esperava voltar depois de um ano turbulento no Tottenham. Mas não só voltei à Seleção como voltei a disputar uma Copa do Mundo. Devo isto ao Cruzeiro. Conhecia o trabalho do clube, de suas pessoas e sabia que podia dar a volta por cima aqui na Toca da Raposa”, ressaltou.

No final da carta, Gilberto agradeceu a diretoria do Cruzeiro, aos ex-companheiros e a torcida. “Torço e sei que tudo vai dar certo. Eu sigo minha vida e o Cruzeiro, grande e forte, vai viver sempre, sem que precise de mim e de nenhum outro. Somos todos muito menores que o clube e entendo plenamente esta lógica, pois passei em grandes instituições que me ensinaram a perceber isto. Clube e torcida são intocáveis. Nós, atletas e pessoas de fora do campo, somos realmente passageiros”, afirmou o meia, que foi contratado pelo Vitória-BA para a sequência da Série B do Brasileiro.

Alvo de polêmicas 

Gilberto rescindiu contrato com o Cruzeiro na terça-feira passada (20). Essa foi a segunda passagem do jogador pela Toca da Raposa. A primeira ocorreu em 1998. Ao todo, foram 156 jogos e 21 gols marcados com a camisa celeste.

Depois do empate com o Palmeiras, por 1 a 1, no Pacaembu, no dia 4 passado, o meia deixou o campo revoltado com o árbitro Pedro Leandro Vuaden e anunciou a aposentadoria, alegando ser perseguido pela arbitragem. Porém, de cabeça fria, anunciou que seguiria no futebol e cumpriria o contrato com o clube mineiro.

Entretanto, Gilberto provocou nova polêmica. No desembarque da delegação celeste no Aeroporto de Confins, um dia após a derrota para o Santos por 1 a 0 na Vila Belmiro, o jogador virou alvo de protesto de torcedores, que o questionaram pela má fase da equipe no Campeonato Brasileiro. Irritado, o meia disse que a torcida tinha que cobrar também do goleiro Fábio e do meia Roger, que não estavam com o grupo naquele momento.

A declaração não agradou ao capitão Fábio, que rebateu o companheiro. O goleiro disse que Gilberto foi "um pouco infeliz" ao pedir que a torcida cobrasse outros atletas. Segundo o camisa 1 celeste, ele nunca fugiu da responsabilidade desde que voltou ao clube mineiro, há sete anos.

Gilberto foi vetado por causa de problemas lombares e não participou do empate sem gols no clássico com o América-MG, no domingo seguinte. Na segunda-feira passada, o Cruzeiro anunciou que o jogador havia pedido dois dias de folga para resolver assuntos particulares e foi atendido. Porém na terça-feira, o clube anunciou a quebra do contrato do atleta.

Confira a íntegra da carta de despedida de Gilberto:

"Quando cheguei a Minas Gerais em 2009 depois de uma temporada ruim na Inglaterra, pude ver o quanto estava certo ao tomar a decisão de jogar num clube do porte do Cruzeiro outra vez. As portas me foram abertas, com especial carinho do presidente Zezé Perrela, e desde então minha alegria aumentou e não parou de crescer. Pude fazer seis meses brilhantes no segundo semestre daquele ano, estreando com uma boa apresentação de todo o time contra o Coritiba. As grandes partidas da equipe me levaram de volta à Seleção, lugar que confesso, nem esperava voltar depois de um ano turbulento no Tottenham. Mas não só voltei à Seleção como voltei a disputar uma Copa do Mundo. Devo isto ao Cruzeiro. Conhecia o trabalho do clube, de suas pessoas e sabia que podia dar a volta por cima aqui na Toca da Raposa. Quem estava lá já sabia quem eu era e que podia me recuperar. E foi o que ocorreu.

Passados praticamente dois anos de muitas grandes passagens e contando esta de quando cheguei, tenho certeza que hoje tomo a medida certa ao deixar a Toca e o convívio com uma torcida que me apoiou e que em todos os momentos nunca deu as costas para mim. Estive para me transferir para Botafogo no meio do ano, e além do presidente, sempre correto comigo, não nego que os apelos e manifestações de carinho do torcedor cruzeirense me fizeram pensar duas vezes. Fiquei e não me arrependo, mas para não estragar este carinho e amor, resolvo agora sair. Motivos tenho alguns. Mas a relação, como qualquer uma, se desgasta e quando se gosta, o melhor é se afastar. Por isto, não me critiquem por que saio sem falar o que todos querem ouvir, ou pelo menos os mais azedos querem, para criar tumulto. O que foi falado depois se esclareceu nas internas. Assuntos que hoje se superam pela necessidade que este clube que prezo tanto tem em retomar seu caminho de vitórias e conquistas, que é o seu real caminho.

Quero agradecer a direção, aos atletas e a torcida por mais uma passagem inesquecível por Belo Horizonte, onde ganhei novos amigos e parcerias que me deixam muito feliz. Torço e sei que tudo vai dar certo. Eu sigo minha vida e o Cruzeiro, grande e forte, vai viver sempre, sem que precise de mim e de nenhum outro. Somos todos muito menores que o clube e entendo plenamente esta lógica, pois passei em grandes instituições que me ensinaram a perceber isto. Clube e torcida são intocáveis. Nós, atletas e pessoas de fora do campo, somos realmente passageiros.

Grande abraço e muita sorte ao Cruzeiro. Obrigado por tudo,
Gilberto".