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Márcio Santos revela mágoa com Carpegiani e se vê na mesma situação de Rivaldo

Márcio Santos conversa com Carpegiani quando os dois estavam no São Paulo - Evelson de Freitas/Folha Imagem
Márcio Santos conversa com Carpegiani quando os dois estavam no São Paulo Imagem: Evelson de Freitas/Folha Imagem

Renan Prates

Em São Paulo

29/09/2011 07h00

Márcio Santos parou de jogar há sete anos, mas ainda tem mágoa da primeira passagem do técnico Paulo Cesar Carpegiani pelo São Paulo. O ex-zagueiro não se conformou por ter sido deixado de lado pelo treinador em 1998 e até se comparou ao meia-atacante Rivaldo, que também teve rusgas com o comandante na segunda vez que esteve no clube (saiu neste ano).

EX-ZAGUEIRO FICOU MAGOADO COM CORTE NA COPA DO MUNDO DE 1998

  • Eduado Knapp/Folha Imagem

    Márcio Santos admitiu que não entende até hoje o porquê de ter sido cortado da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1998. A mágoa do ex-zagueiro é com o médico da seleção brasileira na época, Lídio Toledo (hoje falecido), que optou por cortá-lo por causa de uma lesão na coxa, apesar de o técnico Zagallo e do auxiliar Zico terem sido favoráveis à sua permanência. Antes do início do Mundial, ele chegou a jogar normalmente pelo São Paulo, segundo contou ao UOL Esporte.

    “Cheguei para a reunião com eles e comentei que em três dias, quatro no máximo, eu estaria 100%, tinha certeza. O Lídio achou que não dava. Eu disse: me conheço, estou bem fisicamente, isso não é grave. Demoraram duas horas para decidir, deixaram o doutor Lídio dar a palavra final e ele acabou me cortando. Naquela semana mesmo voltei a treinar”, relembrou.

    “Convocaram o André [Cruz], que três meses antes teve uma hérnia de disco, e foi no meu lugar. Deu que o time ficou só com três zagueiros na França, e eu poderia ter jogado facilmente”.

“No São Paulo, desde a chegada do Carpegiani, minha vida mudou da água pro vinho. Era capitão e, de uma hora pra outra, fui deixado de lado e não entendi. Acho que ele resolveu me pegar para ganha moral e dar exemplo aos mais jovens. Tive problemas por ter chegado como campeão do mundo”, detonou Márcio Santos.

O tetracampeão do mundo em 1994 saiu em defesa do veterano são-paulino, e protestou pelo fato de Rivaldo também ser reserva no São Paulo de Carpegiani e também do atual técnico do time, Adilson Batista. “Ele [Carpegiani] não é de conversar com ninguém. Ele fez comigo a mesma coisa que fez com o Rivaldo... com o Carpegiani ele saiu quando era o melhor em campo. O Rivaldo é um grande jogador. Não pode ficar fora do time do São Paulo de jeito nenhum”.

Apesar do ressentimento, Márcio Santos disse ter boas recordações do período que passou pelo São Paulo, mas reclamou de não ter sido valorizado no episódio que culminou na sua saída. “Os dirigentes queriam renovar comigo por um salário bem abaixo do que eu ganhava. Não está certo isso aí”, falou o ex-jogador, que acabou indo para o Santos em 2000.

Confira trechos da entrevista com Márcio Santos:

Nem Romário passava na Copa de 1994

Márcio Santos falou sobre a dupla de zaga com Aldair na Copa do Mundo de 1994. Os dois chegaram a treinar como reservas, mas foram alçados ao posto de titulares devido às lesões de Ricardo Gomes e Ricardo Rocha, os preferidos do então técnico Carlos Alberto Parreira.

“Quem acompanhava o dia a dia na seleção sabe. Pode perguntar para o Romário, ele vai falar que não fez gol nem em coletivo quando jogava eu e o Aldair no time de baixo. Aí nos subimos e deu no que deu”.

Falta de renovação dos zagueiros da seleção

Um dos grandes zagueiros da sua geração, Márcio Santos discordou da tese de que a renovação do Brasil na posição é boa. Ele vê Lúcio ainda como soberano no setor, apesar de não acreditar que o beque da Inter de Milão estará na Copa do Mundo de 2014.

CLUBES DE MARCIO SANTOS

Novorizontino (SP): 1987-1990
Internacional (RS): 1990-1991
Botafogo (RJ): 1992
Bordeaux (FRA): 1992-1994
Fiorentina (ITA): 1994-1995
Ajax (HOL): 1995-1997
Atlético (MG): 1997
São Paulo (SP): 1997-2000
Santos (SP): 2000
Gama (DF): 2001
Jinan (CHN): 2001
Paulista (SP): 2002
Al-Araby (QTR): 2003
Portuguesa Santista (SP): 2004

“O Lúcio é um grande jogador, mas nessa posição não tem surgido mais ninguém. Não tem tido renovação. Tanto é que da seleção de 2010, que foi muito criticada, voltaram seis ou sete jogadores. Não tem opção, fica difícil”.

Ensaiando retorno ao futebol

O ex-zagueiro explicou que atualmente administra um shopping da sua propriedade em Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina, mas que pretende retornar ao futebol como dirigente.

“Estou ligado a um clube, e as pessoas que vão entrar lá estão querendo me levar para trabalhar no clube, como superintendente, ou alguma coisa nesse sentido. Não vou falar ainda [o nome do time]”.

Conselho para Ricardo Gomes (os dois tiveram AVC)

Com a experiência de quem também teve um AVC (mas em escala muito menor), Márcio Santos disse que o técnico do Vasco, Ricardo Gomes, deve mesmo retornar a sua atividade quando estiver plenamente recuperado. Mas ele aconselha que o colega mude alguns hábitos.

FINAL EM CLUBES MENORES

O último clube grande que joguei foi o Santos. Depois comecei a jogar em time pequeno porque existia corporativismo na época. O atleta que entrasse na justiça contra uma agremiação sabia no que dava

“O Ricardo é meio introspectivo, foi sempre mais caladão, é da personalidade dele. Ele precisa gritar mais. Se vai guardando, cria um problema. Tem que melhorar nesse sentido”.

Críticas ao ex-dirigente do Santos Marcelo Teixeira

Márcio Santos participou em 2000 de um ‘supertime’, pelo menos no papel, montado pelo ex-presidente do Santos, Marcelo Teixeira. De concreto, o clube ganhou apenas o vice-campeonato paulista em 2000, e uma série de ações trabalhistas de Rincón, Galvan, e ele próprio. Por isso, sobraram críticas ao ex-dirigente santista.

“O Marcelo Teixeira montou um time forte [em 2000]. Conseguiu tirar o Rincon do Corinthians, mas foi inconsequente, pois não pensou que teria que pagar o salário a esses jogadores todo mês. Eu tive problemas, vários jogadores tiveram salários atrasados. Tive que entrar na justiça, pois passei quase cinco meses sem receber”.