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Sócrates volta aos exames nesta quinta-feira para monitorar cirrose e amônia no cérebro

Personagem de livro sobre Corinthians, Sócrates combate ameaça de encefalopatia - Divulgação
Personagem de livro sobre Corinthians, Sócrates combate ameaça de encefalopatia Imagem: Divulgação

Roberto Pereira de Souza

Em São Paulo

06/10/2011 07h00

Os médicos que cuidam de Sócrates não gostam de dar entrevistas sobre o monitoramento que fazem no ex-jogador, que sofre de cirrose e hoje passa por uma nova bateria de exames, no hospital Albert Einstein, a partir das 6 horas da manhã. Cobertos de privacidade,  a equipe tem dois objetivos básicos: monitorar a cirrose e impedir o surgimento da encefalopatia hepática, uma doença neurológica reversível, bastante comum em pacientes alcoólatras. A doença é causada pela toxina amônia (entre outras) que sai do intestino, passa pelo coração e infesta o cérebro.

Nesta quinta-feira, uma bateria de exames será feita para cumprir a rotina semanal de checagem e avaliação química. Combater a amônia que sai do intestino e atinge o cérebro é estratégico no tratamento. Em condições normais, as toxinas intestinais são filtradas pelo fígado. Mas nos alcoólatras, o fígado deixa de funcionar corretamente, devido a um processo fibroso dos tecidos.

“Os médicos receitaram a Sócrates um medicamento para ajudar a combater a amônia dentro do intestino”, explicou a mulher do ex-jogador, Katia Bagnarelli. “ Desde o primeiro período de internação fomos alertados sobre os riscos de uma encefalopatia hepática, mas por enquanto estamos controlando o processo”, explicou a mulher.

 Médicos consultados por UOL Esporte alertam para o problema da encefalopatia hepática, principalmente quando os pacientes recebem Tips para estancar processos hemorrágicos. Em Sócrates, o Tips funciona como uma espécie de ponte entre a veia jugular do pescoço e a veia porta.

“O sangue passa sem filtragem carregado de toxinas: a mais conhecida é a amônia que, se não for controlada, provocará sérios problemas neurológicos ao paciente, até o coma”, explicou um hepatologista.

Pacientes com cirrose costumam demonstrar um quadro de confusão mental, isolamento social  e tremores nas mãos (que lembram o movimento rápido das asas de uma borboleta).

O hepatologista chefe do departamento de fígado da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná, concorda com a necessidade de monitoramento da encefalopatia hepática.

“Há quatro estágios da doença. Nos primeiros, o paciente apresenta confusão mental, tem dificuldade na articulação as palavras. Esses são os sinais claros de que o cérebro está sendo invadido por toxinas, principalmente a amônia”, revela Paraná.

A cirrose, segundo Paraná, é o processo de formação de cicatrizes nos tecidos do fígado. A dificuldade de circulação leva ao surgimento de um sistema venoso paralelo: “o sangue que não consegue passar pelo fígado pressiona a veia porta, gera varizes e a até hemorragias”, explica Paraná. “Além disso, o sistema cria veias secundárias que carregam sangue contaminado direto para o coração e de lá, para o cérebro”.

Com o uso do Tips essa possibilidade aumenta, segundo a literatura médica disponível. “O dispositivo carrega sangue com pressão elevada, também. O Tips ajuda o tratamento mas precisa de monitoramento contínuo”, avalia Paraná.

“Os médicos nos alertaram, sim. Era uma grande preocupação, mas graças a Deus e aos medicamentos a encefalopatia não aconteceu  e espero que não aconteça”, disse a mulher Kátia.