Brasileiro Muriqui vence Conca, ganha máscara e vira ídolo pop no futebol chinês

Se você perguntar a um chinês que adore futebol qual seu jogador brasileiro favorito hoje em dia, a resposta provavelmente será Muriqui. O antigo atacante de Vasco e Atlético-MG terminou a temporada como principal destaque do torneio local, ofuscando o argentino Dario Conca e o seu salário milionário. Mais do que isso, virou uma espécie de ídolo pop no país mais populoso do mundo.

Muriqui foi o grande nome da campanha do Guangzou Evergrande na conquista do título nacional na temporada 2011, terminando como artilheiro do campeonato e eleito o melhor jogador em três premiações diferentes: da federação chinesa, da CCTV (principal emissora do país) e do Titan Sports (jornal esportivo local).

Todo esse sucesso conquistado ao lado de Conca, jogador de maior salário do país (cerca de R$ 2 milhões mensais) e um dos maiores do futebol mundial. O ex-craque do Fluminense é o nome mais famoso do Evergrande, mas 2011 acabou sendo o ano de Muriqui.

"Foi uma temporada muito boa, com um título que o clube não tinha ainda. Acabei coroado com esses prêmios individuais, com a artilharia. Esse ano vai ficar marcado na minha memória", afirmou o jogador carioca, de férias no Brasil no mês de dezembro.  

O atacante Muriqui chegou ao futebol chinês em 2010, depois de defender o Atlético-MG, reforçando o Evergrande inicialmente na segunda divisão. Logo de cara marcou quatro gols no jogo de estreia, em que seu time venceu pelo placar de 10 a 0.

Hoje, campeão e artilheiro, Muriqui experimenta o fanatismo do torcedor chinês através de ações de marketing de seu clube. O Guangzou Evergrande conseguiu grande sucesso com a venda de máscaras que reproduziam o rosto do jogador brasileiro. A antiga revelação do Madureira também inspirou a criação de um boneco em miniatura voltado ao consumo dos fãs. 

"Fui recebido com muito carinho pelos torcedores chineses, Isso é um sinal de que o trabalho vem sendo bem feito. Teve esse trabalho de produtos personalizados, com camisas, boneco, máscara. A aceitação do público foi bem legal", comenta o jogador de 25 anos.

COMIDA EXÓTICA ASSUSTA E JOGADOR ESTOCA FEIJÃO

Logo que chegou à China, Muriqui experimentou um choque cultural normal para o visitante ocidental de primeira viagem. Em suas primeiras horas no país, o jogador foi jantar com o presidente de seu novo clube em um restaurante típico, quando seu apetite rejeitou uma iguaria da casa.

"A comida ficava numa tábua, rodando. Tinha um frango cru lá, eles só tinham tirado as penas, uma coisa que a gente não está acostumado. Quando o frango passava por mim dava vontade de vomitar. Eu tinha que virar o rosto para o lado", recorda.

Por essa e por outras, Muriqui costuma viajar carregado a cada vez que volta do Brasil, munido de sacos e mais sacos de arroz e feijão para manter em dia seu estoque de culinária brasileira no outro lado do mundo.

Na China, o atacante conta com a ajuda de um tradutor para se virar na vida cotidiana, mas diz se virar bem em inglês para coisas mais básicas do dia a dia. No Guangzou Evergrande, além de Conca, Muriqui celebra a companhia de dois jogadores brasileiros: o zagueiro Paulão (ex-Grêmio) e o centroavante Cléo, atleta que fez sucesso recente no futebol da Sérvia.  

O reflexo do poder da economia chinesa começa a aparecer no futebol interno do país, com os clubes aumentando o poder de mercado. Neste ano, o Guangzou Evergrande acertou a contratação de Dario Conca (à esquerda) por um salário milionário. Antes, Obina (à direita) já havia desembarcado no Shandong Luneng. Nesta semana o Shanghai Shenhua anunciou a chegada do francês Anelka

MURIQUI É ALVO DE SONDAGENS PARA DEFENDER A SELEÇÃO LOCAL

Em alta após as conquistas individuais e coletivas de 2011, Muriqui deve acertar o prolongamento de seu contrato com o Guangzou Evergrande. O brasileiro tem mais dois anos de contrato para cumprir, mas deve na volta das férias discutir proposta para estender a relação por outros cinco. 

Como incentivo para ficar, Muriqui exalta as chegadas de jogadores de renome internacional que começam a desembarcar na China, caso mais recentemente do atacante francês Nicolas Anelka, ex-Chelsea, agora no Shanghai Shenhua. O brasileiro também celebra a média de público de seu time, a maior da China, com cerca de 45 mil torcedores nas partidas em casa.

O bom momento do ex-jogador de Madureira, Vasco, Avaí, Ituano e Atlético-MG faz com que a imprensa da China especule uma tentativa da federação local de naturalizar Muriqui. O brasileiro diz que, se o convite para defender a seleção local realmente chegar, pretende estudar com carinho.

"Já existiram umas conversas, mas não chegou nada oficial em mim. A imprensa já me perguntou se eu aceitaria jogar na seleção de lá. Ainda não parei para pensar, mas, se existir um convite, eu vou estudar. Até porque gosto da cultura do país, a vida lá é legal", afirma.