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Filme com Santoro escancara semelhanças entre vida de Heleno de Freitas e Adriano

Adriano e Rodrigo Santoro, como Heleno de Freitas no filme "Heleno" - Leandro Moraes/UOL e Divulgação
Adriano e Rodrigo Santoro, como Heleno de Freitas no filme "Heleno" Imagem: Leandro Moraes/UOL e Divulgação

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

14/03/2012 06h00

Heleno de Freitas era formado em direito, mas conhecido mesmo como craque do Botafogo. Em uma época em que o futebol não era bem-visto pelas famílias ricas, como a dele, era uma estrela do esporte, graças aos gols e às polêmicas – costumava reclamar de companheiros, provocava as torcidas rivais e se envolvia em brigas.

MENON: FALTA FUTEBOL A HELENO

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    Destruído pela sífilis e mentalmente derrotado, à beira da loucura, sem falar com ninguém há meses, o paciente come os restos de sua história. Literalmente. Arranca da parede de seu quarto, no manicômio, jornais que contam sua gloriosa trajetória. Engole as notícias que contam sobre sua vida que não existe mais. O enfermeiro, único amigo que lhe resta, usa da força para que o frugal almoço não se concretize.

    O ator é Rodrigo Santoro, espetacular. O personagem é Heleno de Freitas, um dos maiores jogadores brasileiros dos anos 40, com uma carreira de 249 gols em 304 jogos, pelo Botafogo - a grande maioria - Vasco, seleção brasileira e Boca Jrs. É Heleno, mas poderia ser um maestro, um cantor, um pintor, qualquer artista em fim de carreira, em fim de vida, transtornado e derrotado.

    Este é o defeito de Heleno, o grande filme de José Henrique Fonseca. Tem pouco futebol. "Isso é normal, porque não fiz um filme sobre futebol. Fiz um filme sobre um personagem e me limitei a cenas de apenas um jogo, chuvoso, tenso, como tantos outros de Heleno", disse o diretor, em entrevista coletiva após a sessão dedicada à crítica.

Fazia sucesso com as mulheres, incluindo vedetes do rádio. Foi vendido por uma fortuna ao Boca Juniors nos anos 40. Não se adaptou a Buenos Aires, voltou ao Rio de Janeiro e nunca mais se encontrou no futebol, ficando cada vez mais violento dentro e fora do campo. Morreu aos 39 anos, quase louco, debilitado pela sífilis e pelo vício em éter e álcool.

A trágica história do primeiro craque-problema do futebol brasileiro é contada no filme “Heleno”, com Rodrigo Santoro, que estreia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros. E assistir à biografia da estrela do futebol carioca dos anos 40 não poderá deixar de traçar paralelos. Principalmente com o também atacante Adriano, que acaba de ser dispensado do Corinthians.

“Acho que é uma comparação válida”, diz o astro de Heleno, Rodrigo Santoro. “Mas não é só isso. O Heleno é um pouco de muitos jogadores, como o Edmundo, como o Adriano”, completa o ator, que precisou perder 12kg para viver o jogador em fase terminal, já no hospício de Barbacena, em Minas Gerais, onde morreu.

Em um exercício rápido, é simples encontrar pontos de encontro com a vida do Imperador. Como Heleno, o nome de Adriano costuma aparecer em meio a polêmicas com mulheres – o romance com a personal trainer e repórter de TV Joana Machado é apenas um exemplo. Os dois, no auge da carreira futebolística, valiam milhões.

Ambos, também, tiveram problemas de adaptação ao jogar no exterior. O filme ilustra os problemas de Heleno com uma cena em que, em um hotel em Buenos Aires, tenta acender um fósforo preso entre os dedos do pé usando um revólver. Adriano chegou a anunciar a aposentadoria, em 2009, dizendo que tinha perdido a alegria de jogar futebol na Inter de Milão.

Na volta ao país, mais semelhanças: Heleno foi campeão pelo Vasco, em 1949, mas se desentendeu com o técnico – no filme, ele coloca uma arma na cabeça de seu treinador e aperta o gatilho de um revólver descarregado. Adriano voltou ao Brasil em 2010, pelo Flamengo, foi campeão brasileiro, voltou para a Itália, fracassou na Roma e, no Corinthians, fez apenas oito partidas antes de ser dispensado, acumulando problemas extracampo.

“Ontem, a gente estava na entrevista no Rio de Janeiro e compararam também com o Jobson. O Heleno foi o primeiro jogador-problema do futebol brasileiro. Tem semelhanças com muita gente, mas ele também é diferente. Ele não gostava de treinar como o Romário. Era esquentado como o Edmundo. Teve os problemas com éter e ainda lidou com a doença no fim da vida. Ele tem até essa frase, que aparece no filme, e que diz tudo: ‘O Heleno bêbado, trôpego, vale mais do que qualquer brucutu’”, resume o diretor do filme, José Henrique Fonseca.