Maior acervo sobre futebol do Brasil está escondido no alto da Serra da Cantareira
Um dos maiores tesouros do futebol brasileiro atualmente está escondido em uma casa no alto da Serra da Cantareira, a cerca de uma hora do centro de São Paulo, longe do público comum. São 2.108 livros, 15.750 revistas, 5.700 pôsteres e 4.750 edições de jornais que falam sobre futebol, cuidadosamente cuidados pelo engenheiro José Renato Santiago Júnior.
A coleção, iniciada em 1980, é considerada o maior acervo sobre futebol do Brasil – o título foi dado pelo site RankBrasil Recordes Brasileiros, que computa marcas nacionais no mesmo estilo do Guinness World Records. Apesar de seu tamanho e da importância dos documentos, a biblioteca está fechada para o público geral. Ela fica no escritório da casa de José Renato, em Mairiporã.
“O objetivo é permitir que as pessoas de forma geral tenham acesso à coleção. Mas o grande obstáculo é que não existe um projeto cultural que queira assumir esse acervo de maneira séria. Nenhuma instituição tem um projeto efetivo de interesse. Alguns locais me ligam e dizem: ‘Manda’. Mas não é manda. Tem que ter um espaço definido, uma estrutura montada, uma taxonomia, uma pesquisa e pessoas preocupadas com tudo isso”, explica o dono da coleção.
O cuidado ao escolher parceiros é grande. José Renato não quer ver seu acervo guardado em locais inapropriados, descobrir que revistas sumiram ou livros foram fechados em algum setor proibido em uma biblioteca qualquer. E o motivo para isso é o amor que ele mostra pelos mais de 23 mil itens.
Os mais queridos são os exemplares mais velhos, que ficam dentro de um armário fechado – os livros mais recentes ficam em prateleiras abertas. “O mais antigo é esse, Veteranos e Campeões, do Leopoldo Sant’Ana, de 1924. Eu já tinha o livro, em cópia, e encontrei um exemplar em bom estado. Depois dele, temos os livros do Thomas Mazzoni, que escreveu muito sobre futebol e esportes em geral, do início dos anos 30 até o final dos anos 40”, contra.
Outra paixão são os guias de campeonatos e os livros sobre Copa do Mundo. Tem até em búlgaro. “Quando as letras mudam é que as coisas começam a complicar. Em holandês, alemão, tudo bem, consigo ler, consigo entender. Mas quando o alfabeto é diferente, preciso comparar os símbolos”, diz o historiador, rindo. Foi com base nessas comparações que ele escreveu o livro “Os Distintivos de Futebol Mais Curiosos do Mundo”. “O processo de checagem é complicado. Passa por site oficial, guias, livros”.
Para conseguir as peças, ele usa a criatividade. “Algumas edições não são vendidas. Para conseguir o livro que foi enviado para a Fifa no pedido do Palmeiras para que a Copa Rio de 1951 virasse título mundial, fui até a gráfica e consegui um exemplar. Para os guias estrangeiros, ligo nas editoras e faço o pedido. No começo, não acreditavam que uma pessoa do Brasil estava pedindo o guia do futebol holandês, por exemplo”.
Para cuidar do acervo gigante, ele tem uma planilha que tabula todos os dados sobre as publicações, com ano de publicação, autor, título. Com revistas e jornais, o trabalho é mais minucioso: “Eu não compro todas as revistas, somente as que tem algumas coisa a ver com futebol na capa. Na planilha está apontada qual é essa conexão”. Um exemplo curioso são as revistas Playboy, que ele tabula a edição, mês de publicação, mulher da capa e como ela está ligada ao futebol.
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