Punido por racismo, Antônio Carlos diz que termo "macaco" não abala jogadores
Dono de um currículo invejável e passagens por grandes clubes do Brasil, o zagueiro Antônio Carlos Zago também tem um histórico de polêmicas. Além de ter se envolvido em brigas com alguns rivais ao longo da carreira, ele também foi punido por um ato de racismo, um caso raro no futebol brasileiro.
Em entrevista ao UOL Esporte, o hoje treinador conta histórias dos tempos de boleiro e se diz injustiçado, já que para ele termos racistas fazem parte do futebol.
“Tem [utilização de termos racistas em campo] e muito. Não é pouco. Mas aí às vezes o jogador é influenciado pelo diretor, ou por alguma pessoa que está de fora querendo aparecer. É como aconteceu com o Desábato e o Grafite. O Grafite saiu de campo tranquilo e no fim do jogo aconteceu aquele alvoroço. Alguém manipulou tudo aquilo ali. O que acontece em campo morre ali e pronto”, disse Antônio Carlos, que nega, no entanto, que haja racismo entre os atletas.
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O caso que envolveu o ex-zagueiro aconteceu em 2006, quando ele defendia o Juventude. Na ocasião, ele se envolveu em uma discussão em campo com o volante Jeovânio, negro, e apontou a cor do próprio braço ao gritar com o rival. Antônio Carlos foi suspenso por 120 dias e diz que sofre com a má fama até hoje.
Apesar de ser de longe a polêmica mais grave de Antônio Carlos, ela está longe de ser a única. A lista de problemas do ex-zagueiro, campeão pelos quatro grandes clubes de São Paulo e dono de uma carreira de sucesso na Itália, vai de companheiros como Edmundo a rivais como o argentino Simeone.
Hoje técnico do Audax, na briga por uma vaga na elite do Campeonato Paulista, Antônio Carlos conta na entrevista abaixo essas e outras histórias dos tempos de jogador. Confira a íntegra abaixo:
UOL Esporte: Depois de algumas turbulências como diretor no Corinthians e treinador no Palmeiras, como está sendo sua passagem pelo Audax?
Antônio Carlos: Acho que é uma experiência que todo treinador no início da carreira gostaria de ter. Tive um começo no São Caetano, chegamos à quinta colocação na Série B. No Palmeiras, eu fui em uma hora totalmente errada, uma desorganização impressionante, com guerra política. Depois tive uma passagem pelo Mogi, acabei saindo pensando que poderia encontrar um projeto de longo prazo no Vila Nova, mas isso não aconteceu. Espero poder me firmar aqui e atingir nosso objetivo, que é classificar para a A-1 do Paulista
VEJA A DECLARAÇÃO DE ANTÔNIO CARLOS SOBRE RACISMO NO FUTEBOL NA ÍNTEGRA
UOL Esporte: Se arrepende de ter ido para o Palmeiras?
Antônio Carlos: Não. Fazia 11 meses que eu estava no São Caetano e não tinha como recusar. Era a oportunidade de voltar para a minha casa, com pessoas que eu conhecia, no time em que sou ídolo até hoje. Só que as coisas acabaram não acontecendo como eu queria. Não sei se é verdade ou não, mas depois fiquei sabendo que fui um técnico tampão, que eles estavam acertando com o Felipão.
UOL Esporte: O que aconteceu exatamente na sua saída do Palmeiras?
Antônio Carlos: Nós jogamos no Rio contra o Vasco e eu liberei os jogadores até as três da manhã. E o Robert voltou às 4h. Aí entrei no ônibus e falei que a partir dali ninguém seria mais liberado, nem pra voltar antes, nem para sair. Quatro jogadores, que faziam parte do grupo dos cristãos, tinham voltado no domingo à noite. Aí o Robert disse: “Mas os Atletas de Cristo voltaram pra casa ontem”. Eu falei: “Robert, você não me pediu para voltar para casa, se tivesse pedido, não teria problema”. Aí tinha um orelhudo lá que era o tal Sergio do Prado, tanto é que ele foi mandado embora do Palmeiras depois por falar muito. Por ser leva e trás de tudo quanto é lado. Essa pessoa que praticamente fez um tornado naquilo que poderia ter sido resolvido tranquilamente entre o treinador e os jogadores. E aí, como eles estavam certinhos com o Felipão, eles acharam melhor me mandar embora. Nunca tive discussão com o Robert, falei com ele três, quatro vezes depois daquilo.
Nota da Redação: Na ocasião, uma rádio disse que Antônio Carlos e Robert teriam partido para a briga física. Sérgio do Prado, então gerente administrativo do clube, foi demitido no ano passado sob a suspeita de ter vazado informações internas para a imprensa. Hoje dirigente do Santo André, Sérgio do Prado rebateu Zago:
“O vaca foi para o brejo quando o Palmeiras foi eliminado da Copa do Brasil contra o Atlético-GO. Não fosse o Marcos e tomaríamos uma goleada histórica. Depois teve o jogo contra o Vasco, em que o Palmeiras teve uma das piores atuações da sua história. Aí ele premiou os jogadores liberando eles para saírem à noite. De manhã, eu fui informado pelo meu diretor que havia um vídeo do hotel registrando que vários jogadores voltaram de madrugada acompanhados, e ele pediu a cópia disso. Eu cheguei na recepção do hotel e o Antônio Carlos e o Galeano [coordenador técnico] estavam querendo o contrário, sumir com a fita. Eu não deixei e quase cheguei às vias de fato com o Galeano. O presidente [Luiz Gonzaga] Belluzzo soube de tudo e, por conta da sequência, demitiu o Antônio Carlos. A história de que eu vazei a história da briga com o Robert é mentira, até porque a notícia não é verdadeira mesmo. Quem passou esse boato para a rádio foi o procurador de um jogador, e o Antônio Carlos está usando isso para justificar o mau desempenho dele”
UOL Esporte: Quem são seus grandes amigos no futebol?
Antônio Carlos: Eu conto nos dedos. Aldair, Careca, Cafu, Cesar Sampaio, Cleber, Bernardo. São cinco ou seis pessoas com quem a gente tem um contato muito bom.
"Teve um jogador que durante a minha carreira, dos 22 aos 30, 31 anos, foi só briga, que é o Edmundo. Foi só briga, discussão"
UOL Esporte: E quem foi o cara com quem você teve mais problema?
Antônio Carlos: Teve um jogador que durante a minha carreira, dos 22 aos 30, 31 anos, foi só briga, que é o Edmundo. Foi só briga, discussão. Ele ia na televisão e falava mal de mim, aí eu ia e falava dele. Até que nós nos encontramos em um Roma x Fiorentina no estádio Olímpico. A gente entrou junto em campo e um não olhou na cara do outro. Terminou o primeiro tempo, a gente estava saindo, um olhou pro outro, começamos a dar risada, e sabe aquele negócio meio estranho entre dois homens? Os dois ficaram dando risadas. Nos abraçamos, acabamos saindo para jantar e duas semanas depois acabei indo pra Florença, depois ele veio para a Roma e nos acertamos ali.
Nota da Redação: Edmundo e Antônio Carlos jogaram juntos no Palmeiras, bicampeão brasileiro em 1993 e 1994, e depois se enfrentaram quando defendiam Fiorentina e Roma, respectivamente, na Itália.
UOL Esporte: Tinha muita confusão naquele time do Palmeiras do início da década de 1990?
Antônio Carlos: Foi o time mais desunido em que eu já joguei. Porque eram quatro ou cinco grupos. Dentro de campo, isso não afetava nada. Lembro de uma briga contra o São Paulo, aquela em que ele deu um murro no André Luiz. Eu fui o primeiro a defender ele. O pessoal foi para cima dele e eu fui o primeiro a ficar na frente. Vou fazer a parte do meu time. Mesmo a gente fora de campo não tendo um bom relacionamento, dentro a gente se unia em prol do Palmeiras, da instituição.
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UOL Esporte: Quem brigava? Você chegou sair na porrada com o Edmundo?
Antônio Carlos: Evair e Edmundo, eu e o Edmundo, Edmundo e não sei quem. O Edmundo estava quase sempre misturado. Uma das discussões minhas foi contra o São Paulo. Estava 1 a 1 e eu falei para ele marcar, porque se a gente empatasse ia para a final. Terminou 1 a 1, falei alguma coisa pra ele e não sei o que ele me mandou [fazer], falou um monte de coisa para mim. Chegou no vestiário e foi aquela discussão. Aí saímos mais ou menos na porrada. Um deu uma, o outro deu outra, e todo mundo chegou separando. Mas eu sempre preferi pessoas como o Edmundo, que falam na cara. Tinha alguns que você tinha de ficar na parede, senão ele vinha e apunhalava pelas costas.
UOL Esporte: Outro com quem você teve problemas foi o Simeone, que jogava na Lazio.
Antônio Carlos: Uma vez eu dei uma cuspida no Simeone. Ele era muito chato dentro de campo. Jogava muito, mas provocava, fazia de tudo, passava a mão na sua bunda, cuspia, te xingava. Eu acabei pegando quatro jogos de suspensão e eu gosto muito de cinema, ia toda sexta-feira. Aí eu estou comprando pipoca, minha esposa foi comprar os bilhetes, estou com a minha filha e olho para o lado e está o Simeone. Ele e a esposa. Passei do lado e falei: “Ó, com você não quero nem conversar”. Aí fui e falei para a esposa dele: “Desculpa por aquele gesto, quero te pedir perdão. Ela falou: "Olha, Antônio, se você não faz nele, ele ia fazer em você. Então pode ficar tranquilo que eu conheço meu marido também”. A partir daquele dia a gente até ficou bem. Há uns três anos eu liguei para o Batistuta [ex-companheiro de Roma], ele estava junto e acabei conversando com ele também. Eu tive problemas com ele dentro de campo, mas depois aconteceu a mesma coisa que com o Edmundo.
UOL Esporte: Você lembra de alguma coisa que tenha acontecido em campo com você que a câmera de TV não pegou?
Antônio Carlos: Eu lembro de um São Paulo e Palmeiras em que eu levei um murro no rosto do Válber [ex-zagueiro] e nenhuma TV pegou. Eu tive quatro fraturas no rosto. Foi uma cirurgia que praticamente me tirou do Mundial de 1994, porque até então eu vinha sendo convocado.
A seleção ficou mal resolvida na minha carreira. Não houve uma coerência [de Luiz Felipe Scolari]. Mas cada treinador tem sua cabeça, faz parte do passado.
UOL Esporte: Você resolveu todos os seus problemas com rivais ou ficou algo mal resolvido?
Antônio Carlos: Fora de campo eu sempre fui super tranquilo. O que às vezes acontecia em campo comigo é que tecnicamente eu estava num nível muito superior ao da maioria, mas às vezes pagava por um erro, pelos segundos de descontrole. Teve um caso que eu lembro. O Casiraghi era um atacante da Lazio que eu enfrentei no meu primeiro ano de Roma. Uma vez ele me deu uma cotovelada em campo e eu quase perdi um dente. Eu fiquei o resto do jogo caçando ele pra dar uma chegada mais forte, mas acabei não o encontrando nunca mais. Mas aqui no Brasil você encontra em restaurantes, se encontra na seleção. Então acho que nada ficou mal resolvido.
UOL Esporte: Como você avalia a sua passagem pela seleção brasileira?
Antônio Carlos: A seleção ficou mal resolvida na minha carreira. Depois de 1994 fiquei quatro anos fora com o Zagallo. Com o Vanderlei Luxemburgo fui convocado em todos os jogos. Aí fui chamado em um jogo do Luiz Felipe, no Uruguai, era a estreia dele. Vim com uma luxação no ombro e meu pai na cama com câncer, tanto é que ele morreu três meses depois. Todo mundo falou para eu ficar, a gente passou 15 dias treinando e acabei tomando infiltração, fazendo tratamento. Antes do jogo com o Uruguai ele [Felipão] reuniu eu, Romário, Roberto Carlos, Cafu, Emerson, Mauro Silva e acho que o Rivaldo. Uns seis ou sete. A maioria vinha de uns dois, três anos sem férias e tinha a Copa América na Colômbia na sequência. Ele queria ouvir de todo mundo por que eles não queriam ir. Acabei optando por não ir também. Jogamos no domingo e no avião, na volta, o Felipão disse que ia manter praticamente a mesma convocação. Isso não aconteceu e nunca mais fui convocado. Depois que meu pai faleceu eu também perdi o encanto pela seleção brasileira.
ANTÔNIO CARLOS CONTA QUE ENCONTROU SIMEONE APÓS TER CUSPIDO NO RIVAL
UOL Esporte: Romário e Mauro Silva, que você citou, também não foram mais chamados por ele.
Antônio Carlos: E aí ele acabou convocando outros três ou quatro que também optaram por não ir. Não houve uma coerência. Mas cada treinador tem sua cabeça, faz parte do passado.
UOL Esporte: Quem foi o melhor treinador com quem você conviveu?
Antônio Carlos: Eu tive o Telê no início da minha carreira, no São Paulo. Uma vez, em um treino, não sei o que tinha acontecido, ele veio falar comigo e eu disse: “Vai tomar naquele lugar”. E na hora em que eu falei, eu estava no meio-campo, vi o túnel e já fui saindo. Só que ele não falou nada e acabei ficando. Aí acabou o treino e na hora que eu estou saindo ele me chamou. Falei: “Lá vem dura”. “O que aconteceu?” “Por quê, seu Telê?”. “É que você me mandou...”. “Não, é que tive um problema assim”, e eu não tinha tido problema nenhum. Aí ele: “Então está bom. Vai para o vestiário e bota a cabeça no lugar”. O Telê era uma pessoa com quem eu tive um ótimo relacionamento, como se fosse um pai para mim. Para mim, foi um dos melhores treinadores que eu tive. Ele e o [Zdenek] Zeman, meu primeiro treinador na Roma. Em termos técnicos, foram treinadores que deixaram algo para que eu exerça a profissão agora.
UOL Esporte: Você já sofreu com torcedores violentos?
Antônio Carlos: Já, sim. A mais forte foi na Itália. Eu apanhei depois desse episódio com o Simeone. Alguns torcedores acabaram me fechando em um restaurante. Estavam eu, minha esposa e minha filha. Me deram um chute na cabeça, levei pontos. Fui em um restaurante e tinha um pessoal da Lazio lá. Ainda bem que chegou a polícia logo em seguida, porque senão eles iam me bater firme ali. Quando eles vieram para cima, um deles disse: “Eu vou cuspir em você, na sua esposa e na sua filha”.
Eu apanhei depois desse episódio com o Simeone. Alguns torcedores acabaram me fechando em um restaurante. Me deram um chute na cabeça, levei pontos. Quando eles vieram para cima, um deles disse: ?Eu vou cuspir em você, na sua esposa e na sua filha?.
UOL Esporte: Você ainda paga por aquele episódio com o Jeovânio, em 2006, quando você foi punido por racismo?
Antônio Carlos: Ali me pegaram para cristo, até porque a maioria dos meus amigos são negros. Tenho meu cunhado que é negro, tenho uma senhora que é praticamente quem manda na minha casa. Ela tem 79 anos, é negra, trabalha comigo há 20 anos, já trabalhou com o Careca. Ali naquele momento quiseram me pegar como exemplo. E tem algumas pessoas que batem forte como se não soubessem o que acontece dentro de campo. Acho que isso aí que é o mais difícil, você se relacionar com essas pessoas no dia a dia. E ao mesmo tempo, essas pessoas sabem o que acontece dentro de campo. Aquilo ali que aconteceu, apesar do gesto, foi em um minuto de bobeira, num segundo de descontrole que você acaba tendo dentro de campo. Paguei e pago até hoje porque algumas pessoas acabam falando, mas o importante é estar com a consciência tranquila.
UOL Esporte: Essa coisa de que o xingamento fica dentro de campo, e que o jogador não liga se é xingado de “macaco”, existe? Tem isso no futebol?
Antônio Carlos: Tem e muito. Não é pouco. Mas aí às vezes o jogador é influenciado pelo diretor, ou por alguma pessoa que está de fora querendo aparecer. É como o que aconteceu com o Desábato [do Quilmes] e o Grafite [do São Paulo, em jogo da Libertadores de 2005]. O Grafite saiu de campo tranquilo, voltou para o segundo tempo e no fim do jogo que aconteceu aquele alvoroço, que a polícia apareceu ali, que levaram o Desábato preso. Alguém manipulou tudo aquilo ali para que o ele fosse preso. Teve uma manipulação muito grande por trás, que é o que acho que não deve acontecer. O que acontece em campo, morre ali e pronto.
UOL Esporte: Você acha que para o jogador não existe diferença entre os xingamentos?
Antônio Carlos: Acho que o racismo no futebol, entre os jogadores, não existe. Eu nunca vi isso aí. A molecada brinca com um negro do time e eles mesmos vão brincando entre eles. “Ah, seu macaco, seu não sei o quê”. Entre eles mesmos eles brincam. Só que aí durante um jogo isso acontece e acontece tudo o que eu falei, da manipulação, de um ou outro querendo aparecer mais que o jogador que foi prejudicado e que nem sentiu nada naquele momento, que estava tranquilo. Isso aqui no Brasil, lá fora já é diferente. Lá já tem alguma coisa política por trás. Foi o que aconteceu com o Juan, mas não é a maioria dos torcedores. Você pega a torcida da Lazio e não é a maioria que é assim. É a minoria.
UOL Esporte: Mas aí vem da arquibancada, não entre os jogadores.
Antônio Carlos: Isso aí não é entre os jogadores. Porque entre os jogadores é o que eu falei, às vezes você vai brincar e você brinca, você conversa.
UOL Esporte: Até para provocar.
Antônio Carlos: Mas não sei se o cara vai se sentir provocado por isso. [No caso do Jeovânio] acho que foi a única vez que eu falei alguma coisa. Aliás, eu nem falei, eu fiz um gesto, que deve ter sido pior. Nunca provoquei alguém assim. Se eu provocar vai ser de uma maneira diferente, como já fiz várias vezes.
UOL Esporte: Mas às vezes os jogadores reagem ao xingamento. Em 2009, o argentino Maxi Lopez, pelo Grêmio, teria chamado o volante Elicarlos, do Cruzeiro, de “macaco”. Na hora, os jogadores do Cruzeiro cercaram ele.
Antônio Carlos: Mas isso aí é coisa de boleirão. Você sabe que no futebol tem o boleirão, que se acha mais homem do que todos os homens que estão em campo. Ele tem três sacos, ele tem três bolas, é aquele que se acha o grandão. Porque o cara é argentino, foram três lá em cima dele falar e gesticular. Se o cara é um brasileiro, já passa batido. Você é argentino. Se eu e ele vamos para cima de você, o maior racismo está aí. Isso que é o racismo mesmo. Você querer colocar o cara para baixo só porque o cara está jogando no seu país.
No Palmeiras, eu fui em uma hora totalmente errada, uma desorganização impressionante, com guerra política
UOL Esporte: Como foi a sua saída do Corinthians em 2009?
Antônio Carlos: Eu estava com a minha família em casa naquele momento. Tanto é que tinham pessoas que, partindo de uma hierarquia, estavam em um posto mais alto que o meu. Tinha o Andrés [Sanchez], o Mario Gobbi, o treinador e no final eu que tive de tentar apagar um incêndio. E acabou sobrando tudo para mim. Mas isso aí já é uma coisa mais pessoal. Se naquele momento ninguém quis falar nada, eu praticamente assumi a culpa de tudo, então não tem por que voltar lá atrás e falar sobre isso.
UOL Esporte: Na época, o Corinthians estava treinando em Presidente Prudente e falou-se que o Ronaldo tinha saído à noite e estava criando problemas. E que você foi lá falar com ele. Foi isso que aconteceu?
Antônio Carlos: Foi mais ou menos isso aí. É igual o que eu falei para você, mas ninguém quis falar sobre o que aconteceu, eu praticamente assumi a culpa, ninguém se pronunciou, então vamos deixar como está. Foi uma decisão minha. Tanto é que, não sei se pela amizade que a gente tem, o Andrés ficou meio sem jeito. Ele chegou a me dizer que estava sofrendo pressão de uma ou outra pessoa, que eu não sei quem era. [Não sei] se era o treinador, ou o diretor. E aí passou um dia, ficou aquele clima dois, três dias. Eu cheguei para ele e falei: “Olha, Andrés, se você precisar me mandar embora, nem precisa. Eu peço demissão e saio”. Ele disse: “Não, tá f..., tá f...”. Aí eu falei: “Então encerra e a nossa amizade continua”.
UOL Esporte: Você já teve contato com o Mano Menezes depois disso?
Antônio Carlos: Não, nenhum. Não tenho contato nenhum. Depois que saí do Corinthians, nunca mais falei com ele.
UOL Esporte: E com o Mario Gobbi?
Antônio Carlos: Com o Mario eu conversei várias vezes. Estive no Corinthians antes dele pedir demissão, sempre estava em contato. Até mandei um torpedo para ele depois que ele ganhou a eleição no Corinthians, acabei falando com ele. Com o Mario eu tenho um bom relacionamento.
UOL Esporte: Você é amigo do Andrés Sanchez?
Antônio Carlos: Continuo sendo amigo dele, até porque eu o conheci trabalhando no Ceasa. Acho que a melhor amizade é aquela que você faz quando você não era ninguém. Eu conheci o Andrés quando eu trabalhava no Ceasa carregando caixa de cebola, tomate, laranja e ele vendendo plástico. Eu tinha 14, 15 anos e ele 18, 19. A gente continua tendo uma amizade de família. Eu acho que amizade de família é difícil de você, por algo que aconteça no meio da profissão, afetar. Nossos filhos são super amigos. Minha amizade é de 25, 30 anos.
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