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Pior futebol do país, Roraima tem presidente há 40 anos, torneio com 5 times e arena de luxo

Zeca Xaud (à dir.) comanda reunião com diretores e presidentes de clubes locais - Ribamar Rocha/arquivo pessoal
Zeca Xaud (à dir.) comanda reunião com diretores e presidentes de clubes locais Imagem: Ribamar Rocha/arquivo pessoal

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

05/04/2012 06h00

O futebol em Roraima ainda vive na Idade da Pedra.

O campeonato estadual começou em março com cinco times e aguarda a entrada de mais um clube, o Atlético, durante a competição. A média do ano passado foi de 50 torcedores por jogo. E o cenário caótico não deve mudar.

O presidente da federação local, Zeca Xaud, completará 40 anos no poder. São 11 mandatos ininterruptos, 38 anos seguidos no comando, recorde entre os presidentes de federações estaduais. Ele encerrará o atual mandato, em 2014, com 40 anos à frente da entidade.

Zeca Xaud assumiu o comando em 1974. Nessa época, Pelé ainda era jogador e o Brasil era tri. Ricardo Teixeira, que ficou 23 anos na CBF, nem sequer conhecia a filha de João Havelange.

O cartola assumiu a Federação Roraimense com a missão de profissionalizar o futebol em Roraima. O futebol local, entretanto, não tem estrutura comparável a diversos torneios amadores realizados no país. A média de público é de 50 pessoas por jogo, a pior do pais. Isso mesmo com ingresso grátis.

CAUSOS BIZARROS DO FUTEBOL RORAIMENSE, DIRIGIDO POR ZECA XAUD

- O jogo entre duas equipes de Roraima atrasou porque o uniforme de uma das equipes não foi levado. Um cronista esportivo se ofereceu a emprestar jogo de camisas. Não foi preciso. O uniforme original foi recuperado.

- O Atlético de Roraima tentou mandar seu jogo contra a Portuguesa de Desportos na Copa do Brasil de 2010 no Rio Grande do Sul, alegando oferta de empresários. O presidente da Federação, Zeca Xaud (foto), disse que nada poderia fazer para impedir o jogo no Sul. A partida acabou ocorrendo em Roraima, com goleada da Lusa por 7 a 0.

Mesmo diante dessa situação desoladora, Roraima terá seu principal estádio, o Canarinho, reformado e com capacidade para 10 mil pessoas. O custo da arena está avaliado em R$ 100 milhões, bancado com dinheiro público federal (10% da verba do contribuinte de Roraima e 90% de verba do restante do país).

A ditadura de Zeca Xaud foi arregimentada na base do paternalismo. Afundados em dívidas e sem qualquer perspectiva de crescimento, os clubes locais ficam isentos de pagar taxas de arbitragem, registros de jogadores e outros pagamentos. A conta é assumida pela Federação de Roraima.

Em contrapartida, os times se tornam ultradependentes da entidade. Para piorar, os presidentes dos principais estão há décadas no poder. Não há patrocinadores, contratos com TV ou mesmo placas de publicidade nos campos.

COM MÉDIA DE 50 TORCEDORES, RR GANHA ARENA REFORMADA POR R$ 100 MI

  • Arte UOL

    Uma obra de reforma e ampliação do estádio Flamarion Vasconcelos, na cidade de Boa Vista, capital de Roraima, está sendo executada pelo governo estadual com recursos do governo federal a um custo previsto de R$ 100 milhões.

“O Zeca só sai no dia que ele quiser”, conta o jornalista esportivo Ribamar Rocha, do jornal Folha da Boa Vista.  

O UOL Esporte tentou contato com a Federação Roraimense, mas não obteve retorno.

Único Estado do país que não possui 2ª divisão, o futebol de Roraima tem protagonizado casos bizarros.

Em 2009, o Atlético de Roraima quis mandar seu jogo da Copa do Brasil no Rio Grande do Sul, seduzido por ofertas de empresários. Zeca Xaud alegou não ter autonomia para impedir a manobra do Atlético local.

Outro caso: um jogo quase não ocorreu porque um dos times esqueceu de levar a documentação dos atletas.

“A fragilidade do campeonato não se deve somente à federação. Roraima tem outros problemas: o centro mais perto daqui é em Manaus, que fica a 800 km de distância. Para jogar com time de outro Estado, só de avião. Jogador não quer se transferir para cá. Além disso, pelo menos 70% dos habitantes de Roraima são de outras regiões do país. Eles chegam aqui com o coração preenchido por outros clubes”, argumentou o jornalista Ribamar Rocha.